domingo, 15 de novembro de 2015

Capítulo 34: “Sei que não estou arrependida, apenas surpreendida!”




-Eu vou tomar banho, tu não sei. - Dito isto puxou o lençol da cama e tapou-se com ele, e foi até à casa de banho sem olhar para trás, sabia que olhá-lo iria fazê-la sentir-se ainda pior. Assim que chegou, encostou a porta e deixou cair o lençol do seu corpo, olhou-se ao espelho durante breves segundos e decidiu passar a cara por água. Ligou o rádio, tirou as toalhas do armário e deixou-as ao lado da banheira, ligou a água e fê-la cair primeiro pelo cabelo e depois pelo corpo. A música começou a fazer-se ouvir e a transmitir-lhe sentimentos:

All her life she has seen (A vida inteira, ela viu)
All the meaner side of men (Todos os lados malvados do homem)
They took away the prophets dream (Roubaram os sonhos do profeta)
For a profit on the street (Pelo lucro da rua)
Now she's stronger the you know (Agora ela é mais forte do que imaginam)
A heart of steel start to grown (Um coração de ferro começou a crescer)

All his life he's been told (A vida inteira, disseram-lhe)
He'll be nothing when he's old (Que seria um nada quando fosse mais velho)
All the kicks and all the blows (Todos os pontapés e golpes)
He will never let it show (Que nunca deixou transparecer)
Cause he's stronger than you know (Pois ela é mais forte do que imaginam)
A heart of steel start to grown (Um coração de ferro começou a crescer)

When you've been fighting for it all your life (Quando lutou toda a vida)
You've been struggling to make things right (Para fazer as coisas certas)
That's how a superheroe learns to fly (É assim que um super-herói aprende a voar)
Every day, every hour (Todo o dia, toda a hora)
Turn the pain into power (Transforma a dor em poder)

E Rita não conseguiu conter as lágrimas... Toda a vida tinha tentado fazer o direito, o correto e tudo parecia correr mal e quando tudo parecia recompor-se, desabou, novamente, mesmo debaixo dos seus pés. Sabia que tinha desiludido Fábio, e isso magoava-a, pior que isso, sentia-se culpa. O que iam viver era suposto ser um momento inesquecível para ambos, e havia sido, mas pela negativa. A dor apoderava-se de si, queria tentar não pensar nisso mas não conseguia simplesmente não pensar nisso. A culpa havia sido inteiramente sua. Deveria ter suportado as dores, no final iria compensar, mas não aguentara, as dores eram insuportáveis. Não lhe tinha dado prazer, tinha-lhe dado uma primeira vez em conjunto, interrompida apenas por ela ser fraca. Chorava, por culpa, por dor, por perca, por desilusão. Era a sua oportunidade de ser feliz, no seu auge e tinha sido mais uma mágoa. Fábio não o merecia, ele merecia o céu e ela prometera-lhe as estrelas e nem lhe conseguia dar um telescópio para as observar. A água continuava a cair pelo corpo, mas continuava a sentir-se suja, continuava a sentir repulsa de mim. Colocou champoo no cabelo e esfregou, passou novamente por água e depois foi a vez do amaciador e do gel de banho, talvez ajudasse a sentir menos suja, mas continuava com o mesmo sentimento. Passou novamente por água durante uns minutos, depois decidiu sair. Não iria gastar mais água, não queria sequer abusar, apesar de ser a casa do seu namorado, não era a sua casa. Embrulhou-se numa toalha e foi para o quarto, e deparou-se com uma mancha de sangue na cama, sentou-se e as lágrimas continuavam a escorrer-lhe pela cara. A dor tornava a sufocá-la, a apertar-lhe o coração e a não deixá-la respirar normalmente. Queria que Fábio a abraçasse, queria sentir-se segura mas também perder-se nos seus braços, queria sentir que estava tudo bem, que o mundo estava ali nos seus braços, mas também sabia que o tinha desiludido e que ele esperava mais de si, e não conseguia lidar com isso. A vergonha e o medo de ver a deceção no olhar dele, impediram-na de falar com ele, a culpa iria ser superior a qualquer outro sentimento. Por isso decidiu ficar sozinha e enfrentar aquela situação só, limpou as lágrimas e vestiu-se. Pegou nas suas cuecas e vestiu-as e tirou uma t-shirt do armário de Fábio, era confortável ficar assim, procurou também o soutien mas não o encontrara. Foi até ao corredor, onde o encontrou e vestiu-o. Mas tinha de avisá-lo que estava apenas com uma camisola dele e que iria servir-se na cozinha, precisava realmente de comer.

-Espero que não te importes, mas tirei uma t-shirt do teu armário e vesti-a.
-Tudo bem, sabes que te adoro ver só com uma t-shirt minha vestida não sabes?
-Queres comer alguma coisa? - Rita mudou rapidamente o rumo da conversa.
-Eu vou só tomar banho e já me sirvo. - Disse Fábio sem nunca tirar os olhos da televisão.
-Estás à vontade.

Fábio foi para a casa de banho, e começou a ouvir-se a água a correr, e Rita aproveitou só para beber um copo de leite, decidiu pegar na roupa que estava espalhada pelo corredor e arrumá-la numa cadeira que havia junto à cama, e enquanto o fazia, o rapaz saiu da casa de banho com apenas uma toalha na cintura e ela foi obrigada a olhar para ele.

-Desculpa, vou-me já embora.
-Não é nada que já não tivesses visto, meu bem. - Era a primeira vez que a olhara, mas Rita desviara o olhar. Ele tinha-lhe chamado um nome querido e isso ainda a fazia corar. - Ainda há gelado de gomas?
-Não lhe toquei, por isso não sei.
Saiu do quarto e deixou o seu namorado vestir-se, mas assim que encostou a porta, sorriu, continuava completamente derretida e maravilhada por poder dizer que aquele homem era seu, embora estivessem juntos à algum tempo. Foi para a cozinha e comeu umas bolachas nutritivas e saudáveis que ele tinha no armário, e enquanto as comia, colocou os fones nos ouvidos e começou a dançar:

Ay payita mía, guárdate la poesía (Ai, meu amorzinho, guarda a poesia)
Guárdate la alegría pa'ti
(E aguarda a alegria para ti)

No pido que todos los días sean de sol
(Não peço que todos os dias sejam de sol)
No pido que todos los viernes sean de fiesta
(Nem peço que todas as sextas sejam de festa)
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón
(Nem que voltes para pedir perdão)
Si lloras con los ojos secos y hablando de ella
(Se choras com os olhos secos, falando dela)

Ay amor, me duele tanto, me duele tanto
(Ai amor, dói-me tanto, dói-me tanto)
Que te fueras sin decir adónde
(Que te tenhas ido embora, sem dizeres para onde)
Ay amor, fue una tortura perderte
(Ai amor, foi uma tortura perder-te)

Yo sé que no he sido un santo
(Eu sei que não tenho sido um santo)
Pero lo puedo arreglar, amor
(Mas posso concertar, amor)
No solo de pan vive el hombre
(Não só de pão vive o homem)
Y no de excusas vivo yo
(Nem só de desculpas vivo eu)
Sólo de errores se aprende
(Só com os erros é que se aprende)
Y hoy sé que es tuyo mi corazón
(E eu sei que é teu, o meu coração)
Mejor te guardas todo eso
(É melhor guardar tudo isso)
A otro perro con ese hueso y nos decimos adiós
(A outro cão com esse osso e assim dizemos adeus)

No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal
(Não pudemos pedir ao Inverno para perdoar um rosal)
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras
(Não posso pedir aos ulmeiros que tragam peras)
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal
(Não posso pedir o eterno a um simples mortal)
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas
(É como atirar milhares de pérolas a porcos)

(...)

No te bajes, no te bajes
(Não te vás, não te vás)
Oye negrita, mira, no te rajes
(Olha negrita não vás)
De lunes a viernes tienes mi amor
(De segunda a sexta tem o meu amor)
Déjame el sábado a mi que es mejor
(Deixa-me o sábado para mim, é melhor)
Oye mi negra, no me castigues más
(Oh minha negra, não me castigues más)
Porque allá afuera sin ti no tengo paz
(Porque lá fora, sem ti, não tenho paz)
Yo sólo soy un hombre arrepentido
(Eu sou um homem arrependido)
Soy como el ave que vuelve a su nido
(Sou como uma ave que volta ao ninho)

(...)

Ay, ay, ay, ay, ay
(AI, AI, AI, AI, AI)
Ay, todo lo que he hecho por ti
(Ai, tudo o que fiz por ti)
Fue una tortura perderte
(Foi uma tortura perder-te)
Me duele tanto que sea así
(Dói-me tanto que sejas assim)
Sigue llorando perdón, yo
(Se chorar pedindo perdão, eu)
Yo no voy a llorar hoy por ti
(Eu não vou chorar hoje por ti)

Quando a música terminou, pousou os fones nos seus ombros e ouviu nas suas costas:
-Nunca imaginava que dançasses tão bem! - Rita sorriu.
-Estás aí à muito tempo?
-Desde que começaste o show. O que estavas a dançar?
-Shakira, o que haveria de ser? - Trocaram um sorriso cúmplice. - La tortura, conheces?
-Claro que sim, aquela dança dela é irresistível a qualquer homem.
-Nunca aprendi a dançar a dança do ventre e nunca vou ter o movimento de anca dela, mas gosto de dançar, faz-me desanuviar e não pensar nos problemas.
-Acho que deveríamos falar sobre o que se passou.
-Não há nada para falar, Fábio. - Respondeu com uma certa agressividade e com o tom de voz mais elevado.
-Sabes bem que temos de falar sobre nem sei como chamar... Sobre a nossa primeira vez interrompida.
-Não quero falar sobre isso.
-Tu não tens culpa de nada, e eu também não, aconteceu porque tinha de acontecer.
-Já acabaste? Senão te importares quero ir para a sala ler um livro. - Ele nada respondeu, limitou-se a respirar fundo, Rita virou costas e foi para a sala. Tirou um livro da estante e colocou os fones nos ouvidos, assim não ouviria o que Fábio diria quando ele voltasse para ver novamente a televisão na sala, a música começou a tocar e começou a concentrar-se no que dizia o livro, para se afastar dele, até se sentou no sofá mais longe da televisão para não ficar próxima dele. Assim que o rapaz chegou à sala sorriu, mas nada disse, limitou-se a sentar no seu sofá e ver a televisão, mas sempre que podia mandava um olhar matreiro à sua namorada, e ela não precisava de observá-lo, percebia mas nada fazia, fingia não ter entendido. Os minutos passaram e cada minuto o livro que lia parecia mais desinteressante, ou então era ela que não estava atenta, tirou os fones dos ouvidos e pousou-os juntamente com o livro na pequena mesa que existia entre os sofás e com medo que Fábio falasse acabou por apenas dizer:

-Vou à casa de banho. - Dito isto não esperou resposta e foi para a casa de banho. - Fábio! - Berrou, assustando-o, rapidamente se levantou do sofá e foi ter com a namorada, bateu à porta da casa de banho e entrou passado breves segundos.
-Está tudo bem meu amor?
-Não, repara nisto! - Apontou para o seu útero. - Isto não é normal! Estou cheia de comichão, e dói-me, além da cor!
-Nunca vi nada assim, é melhor irmos ao hospital.
-E o que digo à minha família por ter ido parar ao hospital?
-Eles não precisam de saber, és maior de idade!
-Isto dá-me imensa comichão, Fábio, eu é que não te quis dizer que achei normal, e as dores também, mas já vai em quase meia hora e isto não passa.
-Vamos ao hospital, pega nos teus documentos e nas tuas chaves e telemóvel e vamos. - Dito isto foram buscar as carteiras, os telemóveis e as chaves e seguiram rumo ao hospital.
-Fábio, desculpa. - Disse enquanto ele conduzia em direção ao hospital. - Sei que te desiludi, que esperavas mais da nossa primeira vez, eu também fiquei desiludida comigo, acredita, mas eu não conseguia mais. Desculpa.
-Amor, tu não tens de me pedir desculpa por nada, estas coisas acontecem, não tinhas como saber.
-Mas desiludi-te, e sinto-me culpada por isso.
-Neste momento o mais importante é o teu estado de saúde, isso sim. Além do mais tu ensinaste-me uma coisa importante e é nisso que tens de pensar neste momento, senão aconteceu é porque não tinha de acontecer.
-Eu sei, mas custa-me entendes?
-A mim também me custa um pouco, queria que a tua primeira vez fosse algo inesquecível e foi... Mas pela negativa.
-Posso lembrar-me da nossa primeira vez de uma forma um pouco engraçada!
-Original! - Riram-se em conjunto. - Achas que devíamos avisar os teus pais ou a tua irmã que vamos para o hospital?
-Queridos pais, olha eu e o vosso querido genro queríamos ir para a cama, mas eu não aguentei as dores e como tem uma cor estranha, decidimos vir para o hospital.
-Pensando bem não será muito boa ideia... Mas e a tua irmã?
-A minha irmã pode ser, mas não quero que ela vá ter connosco ao hospital, é embaraçoso, além de que tem a nossa afilhada em casa para cuidar. Vou-lhe ligar. - Mexeu nos bolsos e não encontrou o telemóvel, apenas havia trazido a carteira. - Posso ligar do teu telemóvel?
-Estás à vontade! Sabes o número de cor? É que só tenho o número dos teus pais...
-Eu sei de cor não te preocupes! - Pegou no telemóvel e ligou para a irmã.
-Então Fábio, não encontraste o caminho certo, ou já esgotaram a caixa de preservativos e precisam de mais?
-Olá mana! - Respondeu, interrompendo-a. - Nada disso, aliás tivemos de interromper a nossa primeira vez que estava com dores e depois apareceram as comichões, e estava com uma cor estranha... Lá em baixo e por isso decidimos vir ao hospital.
-Deixa-me só avisar o Rúben e já vou ter convosco!
-Não é preciso Ana! Era só para te avisar que não trouxe o telemóvel e se for preciso liga para este que é o do Fábio.
-Eu vou ter contigo, não te vou deixar sozinha no hospital.
-Mas não é mesmo preciso, obrigada.
-Não quero discutir contigo, eu vou a caminho e não se fala mais nisso.
-Está bem, não insisto. O Fábio vai só estacionar e vamos entrar, quando tiveres a chegar, avisa.
-Está bem. Beijo, até já!
-Até já! - Fábio olhou rapidamente para ela enquanto estacionava o carro. - A minha irmã insistiu em vir cá ter. Tens noção da vergonha que vou passar a explicar o que se passou?
-Eu sou desenvergonhado, além de que sou homem, eu explico!
-E que homem... - Disse baixinho.

Entraram para o hospital e como era uma emergência de ginecologia não demoraram a ser atendidos, e quando entraram para o consultório, Ana já tinha chegado e teve de esperar no corredor porque só puderam entrar Rita e Fábio, explicaram a situação ao médico e depois de alguns exames, acabaram por ser informados que ela tinha tido uma reação alérgica. Rita era alérgica ao látex do preservativo. A próxima vez que o fizessem teria de ser com um preservativo sem látex, ou então, ela teria de tomar a pílula. Era o mais recomendável, garantiu, pediu-lhe para ir a uma farmácia e falar com a farmacêutica que a ajudava a escolher e a ajudá-la a ver qual seria a melhor. Acabou também por dizer que ela teria alta no mesmo dia, e poderiam seguir a sua vida... Mas com juízo! Realçou! Saíram do consultório e foram até à sala de espera, onde Ana já os esperava:

-Então? Demoraram tanto tempo, estava a ficar preocupada!
-Sou alérgica ao látex! - Disse Rita, baixando a cabeça. - Não é uma alergia muito agressiva, mas é alergia.
-Então como é suposto fazer amor?
-O médico falou-nos de uns preservativos sem látex, que deveríamos experimentar, mas o mais recomendável é mesmo a pílula.
-Tens mesmo de tomar atenção na altura de a tomares Rita, não te podes esquecer!
-Eu sei Ana, mas também não o pudemos fazer nos próximos tempos...
-Deixem-me só fazer uma pergunta um pouco mais descarada.... Vocês chegaram realmente a fazê-lo e depois interromperam?
-Sim. - Respondeu Rita. - Não conseguia mais aguentar as dores e pedi-lhe para parar, fui tomar banho e ele também, e a dor e comichão não paravam, chamei-o e decidimos vir cá.
-E a Rita ligou-te para vires cá, porque não era bonito contar aos pais dela, como imaginas, além do mais também ficarias em maus lençóis porque lhes mentiste.
-Ninguém tem de saber de nada, mas vocês não podem ficar traumatizados por isto... Principalmente tu, maninha!
-Mas é difícil sabes?
-Imagino que deva ser... Mas também é cedo, vocês estão juntos há pouco tempo, são tão novos, têm tempo.
-O tempo que estamos juntos é indiferente, o que importa é a intensidade com que vivemos os momentos. - Dito isto, agarrou na mão do seu namorado e seguiram até ao carro.
-Não precisavas de ser tão agressiva com a tua irmã, ela estava a tentar ser tua amiga.
-Mas estava a piorar aquilo que sinto. Nós é que temos de decidir qual é o nosso timing ideal, a relação é a dois, ninguém tem de se meter.
-Porque é que estás a ser tão drástica e dura, Rita? Nunca te vi assim!
-Talvez não me conheças assim tão bem.
-Ai é que te enganas, Fábio. Não gosto que as pessoas me digam o que fazer ou não, sem eu perguntar, a vida é minha, a decisão era minha, o corpo é meu e o meu homem és tu, nós é que tínhamos de decidir, tivemos azar, apenas isso, senão fosse eu provavelmente ainda o estávamos a fazer!
-Não tens de te sentir culpada por nada, Maria Rita! - Disse já um pouco chateado. -Aconteceu porque tinha de acontecer, porque estava destinado a acontecer, e tenho a certeza que o teu avô e o teu irmão estão no céu a tentar mentalizar-te disso mesmo, e tu simplesmente não me dás ouvidos! Eu amo-te e eu também tive culpa, não te devia ter pressionado, podia ter-te obrigado a não fazermos nada, também eu podia ter evitado e não o fiz, está feito! E quanto mais te queixas do que se passou mais culpado me sinto Rita, parece que estás arrependida!
-Não estou arrependida! - Respondeu tentando animá-lo. - Simplesmente estou chateada que a minha irmã se queira meter nas nossas vidas, a minha irmã também foi mãe cedo e os meus pais não a julgaram, aliás deram-lhe todo o apoio que precisava, e ela está a acusar-me de ter precipitado a minha primeira vez! Eu sei o que fiz, sei com quem o fiz, e sei que não estou arrependida, apenas surpreendida!
-E não achas que foste um pouco bruta demais com a tua irmã?
-Talvez tenha sido... Amanhã falo com ela, hoje estou demasiado cansada, só quero deitar-me ao teu lado e dormir. Na minha cama, que a tua não está em condições.

Dito isto entraram no carro e seguiram até casa dele, Fábio precisava de ir buscar roupa para vestir no dia seguinte, depois foram até casa dela, onde se deitaram na sua cama e ela começou a relembrar-se de momentos importantes e a contá-los:

-Amor, ainda te lembras...

-Rita, por favor, só mais um bocadinho. Suplicou Fábio e Rita não conseguiu resistir.
-Mas é mesmo só mais um bocadinho, sabes que o meu pai está à minha espera. – Disse
pousando novamente a mão sobre o peito de Fábio que a agarrou as mãos e olhou para ela.
-Só falta uma coisa para tornar este momento perfeito. – Encheu-se de coragem e disse-o, Rita olhou para ele que sorria e perguntou:
-E porque não o tornas perfeito? – Perguntou envergonhada mas com coragem de dizer tudo o que sentia e de se sentir ainda mais realizada.
-Porque não sei se também o queres.
-Eu confio em ti Fábio. – Disse pousando a mão sobre os cabelos secos mas brilhantes dele.
-Tens a certeza? Tu nem sabes o que vou fazer.
-Faço uma pequenina ideia. E sinceramente, não preciso de saber, tal como te disse confio em ti.
Os olhos de ambos brilharam e foi Rita quem tomou a iniciativa de cruzar os seus dedos com os de Fábio dentro de água. Fábio sabia que o que iria fazer podia estragar aquela amizade, podia deixar a amiga desiludida ou magoada, podia afastá-la de si, mas estava disposto a arriscar, afinal ela permitia-o, fora ela que o incentivara-o a fazer, embora não soubesse ao certo o que ele iria fazer.
Fábio aproximou os seus lábios da face de Rita, pousou a mão esquerda sobre a bochecha dela que fechou os olhos sentindo o doce toque do amigo na sua face, aproximou os seus lábios dos dela e respirou durante breves segundos e beijou-a como desejara há imenso tempo, como nunca desejara beijar ninguém.
E Rita nunca hesitou, nunca temeu e sempre confiou em Fábio, deixou-se beijar e sentir todas aquelas sensações únicas, faziam-na ter ainda mais certeza do que sentia por ele. Estava apaixonada. E aquele beijo causara-lhe uma felicidade inexplicável, sentia-se amada como não sentia desde o final de relação com Tiago.
E Fábio sentiu o que nunca havia sentido antes, uma felicidade a sair pelo seu coração de forma inexplicável, uma vontade de não mais soltar Rita dos seus braços, de fazê-la apenas a única mulher da vida dele. Ela era a sua felicidade, o seu porto de abrigo, o seu porto seguro, uma mulher surpreende apesar da tenra idade.
As bocas só se separaram quando o ar começava a escassear, e parecia nada os querer afastar, não queria mais largar-se, nunca mais se afastarem e ficarem unidos como um só. Rita pousou a cabeça sobre o peito de Fábio e as mãos nos ombros dele, que retribuiu o gesto pousando as mãos sobre as costas de Rita e a cabeça sobre a cabeça dela e com a voz meio-rouca e grave disse:
-Sem dúvida que tornaste este momento perfeito. – Disse sorrindo e olhando para o nascer do sol cada vez mais forte.

-Claro, que me lembro, apesar de todos os momentos vividos ao teu lado terem sido especiais, houve alguns mais inesquecíveis que outros, e o nosso primeiro beijo, foi dos momentos mais bonitos que vivemos juntos, mas porque te lembraste de repente disso?
-Sinceramente? - Ele abanou positivamente com a cabeça. - Todos os dias rezo, agradecendo a Deus teres entrado na minha vida e estarmos juntos.
-A sério? Não imaginas o quanto fico contente por saber isso! Sabes, eu acredito em Deus, mas não sou muito de rezar, gosto de viver o momento e aproveitá-lo e relembrá-lo mais tarde, mas quero saber quais foram para ti os mais importantes e dizer também os meus, queres ouvi-los?
-Obviamente que sim, pode ser que tenhamos algum em comum. Ainda te lembras...

Por isso tocou á campainha de Fábio. Esperou algum tempo e quando o amigo abriu a porta, foi surpreendida por ele. Tinha apenas uma toalha a cobrir-lhe a cintura, nada mais. E Rita pode constar que ele era ainda mais atraente do que julgava e imaginava. O cabelo pingavam e as gotas escorriam pelo corpo, e todas as tatuagens que tinham estavam bem visíveis, inclusivé a do peito.
Não conseguia esconder a admiração. Abriu a boca e Fábio apenas sorriu. Baixou a cabeça e benzeu-se e disse em voz baixa:
-Ai meu Deus! – Nunca tinha observado o corpo de Fábio e não fazia ideia do que a tatuagem no peito diria.
-Tapava o peito mas se o fizer deixo outras partes á mostra! Rita olhou para ele e colocou as mãos á frente dos olhos, mas afastando os dedos, numa tentativa de mostrar que estava envergonhada mas também de admirá-lo.
-Deixa-te estar! Eu depois venho cá! Disse na tentativa de fugir á maior vergonha da sua vida.
-Entra masé tola! Eu vou vestir qualquer coisa para não te deixar tão pouco á vontade. – Disse entrando em casa e Rita seguiu-lhe. – Fecha a porta e finge que a minha casa é a tua. – Afirmou indo em direção ao quarto para vestir alguma roupa menos provocatória para os sentidos dela. Falou do quarto para a sala, onde estava a rapariga. (…) ”

-Não acredito que te lembraste disso!!
-Foi um dos momentos mais divertidos que me proporcionaste, como me poderia esquecer?!
-Não tem graça, eu já estava congestionada por causa das canadianas e era de manhã, ainda nem o pequeno-almoço tinha tomado e já estava a ficar sem palavras!
-Se eu te dissesse que estava com duas canadianas, tinhas ficado logo chateada! - Rita cruzou os braços e fingiu-se chateada, virou-se de costas para ele.
-Fica lá com as tuas canadianas, e come francesinhas e adota ainda gregas por causa da crise que eles também precisam de ajuda, sejam felizes!
-Não precisas de ter ciúmes, para quê ter canadianas, francesinhas, de nada, porque eu tenho a minha portuguesa ao meu lado e não quero mais nenhuma. - Encostou-se a ela e deu-lhe um beijo na bochecha. - És uma das pessoas mais divertidas que conheço, sabias?
-Fazia uma pequena ideia! - Sorriram. - Ainda te lembras...

-Olá! – Sorriu. E Rita confessava a si mesma que tê-lo a menos de dois metros de si, o tornava ainda mais bonito. E... Sexy! Bem era esta a palavra, chegava a esta conclusão Rita. – O meu nome é Fábio Cardoso e sou teu vizinho da frente. – Não conseguia reagir. Estava surpreendida. – Tu és a Rita Madeira não és? – Corou. Como é que ele sabia o seu nome?
-Sim. Dizem que sim. – Respondeu Rita sorrindo.
-Conheces-me? – Se havia algo que ela gostava era deixar tudo claro. Não o conhecia pessoalmente e não era “conhecida” por isso não havia motivos para ele a conhecer. Tinham já falado mas podia ser apenas por ele ter segundas intenções consigo, que não eram de todo retribuídas. Não queria ser apenas “uma” rapariga na conta pessoal de ninguém. –Quer dizes ainda há pouco falamos mas podias já te ter esquecido. – Disse sinceramente. -Ou teres segundas intenções não retribuídas. – Disse baixinho entre-dentes.”

-Quando nos conhecemos? Obviamente que me lembro! Quando te vi nesse dia achei-te tão bonita, mas tão bonita! - Esperava uma resposta de Rita, mas apenas ouviu silêncio, esperou mais alguns segundos e nada... Não respondia. Olhou para ela que havia adormecido com a cabeça pousada sobre os seus braços e encostada ao seu peito, depositou-lhe um pequeno beijo na testa e sussurrou-lhe “amo-te”. Ela estava cansada e havia adormecido mas havia tanto para conversarem, para esclarecerem, nenhum deles sabia o futuro mas sabia que queria fazê-los juntos.

Será que Rita vai pedir desculpa à irmã?
Como será o resto do namoro? Será que a 1ª vez irá acabar por afastá-los?

2 comentários:

  1. Olá!
    Cheguei (tarde como sempre), mas cheguei!
    "E o premio de pior primeira vez de sempre vai para...Rita Madeira, que nao deu sequer hipotese à concorrencia".
    Pqp que azar! A 1ª vez já tem os seus quê's mas a Rita teve um azar daqueles.
    Estou curiosa para ver se vai voltar a rolar ou nao. Mas nao acredito que este percalço separe o casalinho, apesar de reconhecer que pode criar uma tensao em volta de momentos mais intimos.
    Veremos!
    Espero o proximo!

    Beso
    Ana Santos

    ResponderEliminar
  2. Olá :)
    Bem!...antes que penses que desisti da fic, digo já que não desisti, apenas falta-me tempo para ler. Mas hoje vou ler tudo :p
    Bem!...alérgica ao látex. Nunca pensei. Mas acontece e espero que a Rita não se culpe de nada, foi apenas um azar.
    Espero que ela fale com a irmã, que só tentou ajudar.
    Espero que esta primeira vez falhada não afecte o namoro deles

    ResponderEliminar