domingo, 27 de dezembro de 2015

Capítulo 35 “Tu não és a namorada do Fábio Cardoso?”


Fábio adormecera a admirar a sua companheira de aventuras e acordara a admirá-la também. Aos seus olhos era simplesmente perfeita, de todas as formas possíveis e imaginárias. Sabia que se falasse com ela enquanto dormia, embora fosse o subconsciente, ela responderia e conseguia ter uma conversa sólida e construída, e por vezes bastava estar apenas deitada ao pé dele, a dormir, que começava a desabafar e a dizer o que realmente a atormentava, e ele já tinha tido a oportunidade de descobrir alguns problemas dela, assim. Sabia que quando demorava a dormir dava imensas voltas na cama, mas quando voltava à posição original e ficava sossegada durante algum tempo era sinal que tinha adormecido. Quando dormia consigo gostava de “dar folga à almofada” e deitar-se sobre o seu peito, a cheirá-lo, a admirá-lo e a pensar na sorte que tinha e somente depois adormecia com um sorriso nos lábios, que adorava adormecer com Fábio a passar-lhe a mão entre os cabelos, nada a fazia adormecer tão rápido. Sabia de cor, qual a posição que ocupava para dormir. Ao contrário de outras raparigas, não se encolhia, esticavas-se o mais que podia e com uma perna à frente e outra para trás, não conseguia dormir de barriga para cima e quando deitava a cabeça na almofada gostava de colocar uma mão sobre e outra sob a almofada. Acordara a meio da noite e conversara com Rita, talvez fosse errado, mas queria falar com o subconsciente dela e entender as reações dela e como se sentia depois de ter perdido a virgindade.

-Amor?
-Sim?
-Amo-te, sabias?- Encostou a cabeça no seu cabelo e pode cheirá-la.
-Também te amo, meu amor.
-Sei que não queres falar sobre isto, que o tens evitado e provavelmente ainda te custa remexer no passado, não porque não o tenhas ultrapassado mas porque te magoou muito, mas talvez se falares sobre ele, te ajude. Sei que não é justo, que estou a aproveitar-me do teu subconsciente mas talvez seja o melhor para os dois.
-O Tiago é passado, não quero falar sobre isso. - Disse e Fábio pensou que mesmo a dormir e apenas com o subconsciente a falar, não deixava a sua teimosia de lado.
-Não feches o teu coração, não, não a mim, por favor, abre-o, eu prometo nunca te magoar. - Rita começou a chorar e apertou-se contra o corpo de Fábio. - Eu não insisto mais, desculpa.
-Não Fábio, talvez eu queira e precise mesmo de te contar, é o melhor para os dois. Eu estava bem, eu estava realmente feliz, mesmo genuinamente, eu pensava que realmente o amava e que íamos ser felizes para sempre, que ia ser com ele que ia construir o meu futuro, eu dei-lhe tudo o que tinha de mim e o que não tinha. Não sou de deixar as coisas pelas metades, ou se faz ou não, e eu deixei que ele rebentasse o meu hímen por capricho dele, não o devia ter permitido, eu ia dar-lhe a minha primeira vez apenas porque ele precisava e ele disse que esperava por mim e o que aconteceu? Foi para a cama com outra! Eu apresentei-lhe a minha família, os meus amigos, a minha vida, e ele deixou-me um buraco no lugar do coração! É como se tivesse levado tudo o que era meu com ele e ficou apenas o meu corpo e o cérebro que mal conseguia pensar. Eu já o perdoei, juro que sim, mas não consigo compreender o porquê. Eu pensava que ele tinha deixado de ser aquele mulherengo, eu jurava a mim mesma que ele tinha mudado, por minha causa e afinal... Afinal ele não mudou nada, enganou-me foi a mim.
-Sabes? Um dia queria que falasses de mim como falavas nele. Não com a mesma mágoa e desilusão, mas com o mesmo ar que lhe deste, com o mesmo carinho e dedicação. Eu sei que ele te magoou e estamos juntos há bem pouco tempo e deste-me coisas que não lhe deste e que me amas...
-Sei que o amor não se compara em tamanhos e medidas, mas tu ocupas um lugar no meu coração que ele nunca ocuparia, eu amo-te realmente, e foi por te amar tanto e por não querer desiludir-te ou magoar-te que reagi assim há pouco...
-Já falamos sobre isso, eu e tu esperávamos mais.
-Deixa-me falar. - Pediu, mesmo o subconsciente era teimoso e mandão. - Eu magoei-te, eu desiludi-te simplesmente porque não aguentei a dor e senti-me a pior pessoa à face da Terra por causa disso, mas quando fui ao hospital e o médico disse que reagi assim porque sou alérgica ao preservativo eu vi alívio em ti, e em simultâneo preocupação. Ficaste aliviado porque não é um problema assim tão grave de saúde, é algo fácil de lidar, quem é que afinal é alérgico ao preservativo? Ou melhor ao látex? Eu nem era alérgica a nada, tinha de ser a isto! Mas também sei que em breve isto vai interferir com as nossas vidas, porque sempre que o fizermos vamos pensar em qual será a melhor forma de prevenirmos um filho nosso no mundo, pelo menos tão cedo. Sei que querias algo inesquecível e foi algo divertido, mas também sei que da próxima vez que o fizermos será bom, genuinamente bom, porque além de confiar em ti, confio na minha sorte e em Deus, o que aconteceu, ficou para trás, tens de pensar em si, para a frente é que é caminho.
-Não imaginas o quanto fico feliz por saber que estás a lidar bem com a situação...
-Eu não estava a lidar nada bem, de verdade, mas depois de falar contigo e pensar bem, acabei por chegar a esta conclusão.
-Tenho tanto orgulho em ti.

-E eu em ti. - Fábio decidiu nada mais dizer, era altura do cérebro e do seu subconsciente descansarem, e ele próprio também precisava de descansar, deu um beijo na testa da rapariga e adormeceu.”
-Para de me tirar as medidas, Fábio Rafael! - Disse Rita fazendo-o assustar-se, estava de olhos fechados, era suposto estar a dormir. - Se estás a gozar comigo, aviso-te já que te gravo a ressonar e partilho para as tuas maravilhosas e histéricas fãs de um raio verem o seu amorzinho a ressonar!
-Isso é tudo ciúmes ou é má disposição de quem acabou de acordar?

Rita pela primeira vez abriu os olhos.

-Ciúmes? Quem precisa disso? Elas gostam de ti pela tua forma de jogar e pela tua beleza, eu gosto de ti pelo que tu realmente és, além do mais, quem te leva para a cama sou eu!
-Tens razão, a minha cama começa a sentir saudades minhas, normalmente é a tua que me recebe, e só me levaste para a cama uma vez ou duas, de resto sou sempre eu a dizer para nos irmos deitar.
-Que boa disposição do meu namorado! Não queres mesmo um babete a olhar para mim, não?
-Era impossível não me babar no que toca a ti, meu bem!

Pegou numa madeixa de cabelo de Rita e colocou-a atrás da orelha.

-Para lá com o romance a estas horas da manhã por favor! - Levantou-se da cama e olhou para o telemóvel. - Que bom, esqueci-me de pôr a carregar o telemóvel e estou quase sem bateria, além de que adormecemos, pelo menos eu, cheira-me que vou chegar atrasada às aulas.
-E aposto que estás muito preocupada com isso... Tens aqui um gato na cama e estavas mesmo interessada em ir para as aulas.
-Que eu saiba não adotei nenhum animal de estimação e tu também não, e para que saibas eu sou uma aluna aplicada e estudiosa!
-Não precisa de ser um gato, sou logo um pão, e eu não duvido que o sejas, mas aposto que queres ficar aqui na ronha comigo.
-Claro que sim, tu até és a última bolacha do pacote. - Disse deitando-se na cama. - Esta professora também tem por hábito chegar atrasada e eu não tenho nenhuma falta, portanto...
-Beija-me. - Pediu ele.
-Não penses que sou assim tão fácil. - Disse levantando-se novamente da cama. - Tens de me vir roubar um beijo. - Fábio levantou-se da cama e correu atrás de Rita pela casa, mas ela acabou por esconder-se dentro da banheira, mas ele apanhou-a e acabou por roubar-lhe um beijo, mais um e depois outro... E num ápice a série de beijos começou a desenvolver-se algo mais que um misto de beijos.

-Tens a certeza que queres fazer isto.
-Como nunca a tive. - Dito isto, ele abriu o chuveiro e começou aos poucos a despi-la e a ajudá-la a despi-lo. Sabiam que ela teria mais tarde teria de tomar a pílula do dia seguinte e era prejudicial para a sua saúde, mas era o timing perfeito e o momento indicado e deixaram-se levar. E desta vez nada os interrompeu ou quebrou o momento, era apenas os dois e só os dois, e foi completamente entregues um ao outro que viveram momentos mágicos, juntos. Nada os preocupava, nem o tempo, nem o mundo que os rodeava. Quando terminaram tomaram banho e foram vestir-se, de seguida foram tomar o pequeno-almoço.

-Nunca pensei que fosse tão mágico.
-Nunca pensei que fosse tão... Tão verdadeiro. Tão puro.


Nada mais disseram, limitavam-se a trocar sorrisos e olhares, pareciam dois adolescentes apaixonados pela primeira vez. Depois Fábio foi levar Rita à escola e ele também seguiu para o treino, depois partiria para estágio e só voltaria a ver Rita no jogo. A rapariga assim que chegou à escola, reparou que a professora faltara e decidiu aproximar-se dos colegas, mas não sem antes enviar uma mensagem a Fábio:


Quem diria no dia do nosso primeiro beijo que hoje, passado pouco mais de dois meses que estaríamos como estamos? Amo-te tanto meu bem precioso! Obrigada por tudo e por nada S3”

Passado alguns minutos, provavelmente quando ainda estava no balneário antes de ir para o treino, respondeu-lhe:

Se pudesse voltar atrás, eu não voltaria porque seria tudo como foi.
Amo-te, verdadeiramente, pura e genuinamente. Não tens de agradecer, no amor é tudo dado, tudo partilhado, meu bem mais precioso. S3”

(Nesse mesmo dia à tarde)
Rita precisava de companhia para o que ia fazer, mas a quem iria pedir? Não poderia ir com Fábio que não poderia sair do centro de estágios, e também não queria ir com a irmã porque trabalhava, com os pais estava fora de questão e ainda não tinha confiança suficiente com nenhum colega de turma, por isso só poderia pedir a uma única pessoa, mas teria de lhe contar tudo o que se tinha passado e provavelmente iria dizer-lhe o mesmo que a irmã, mas ela simplesmente não conseguia fazê-lo sozinha, e não podia deixar de o fazer. Tinha de tomar a pílula do dia seguinte, para não correr o risco de engravidar. Sabia que não o deveria fazer, mas não conseguira simplesmente tê-lo parado de manhã, aproveitava e iria também ao médico para saber qual a melhor pílula a tomar, agora mais do que nunca tinha pressa de a tomar. Combinou almoçar com Pedro e explicar-lhe toda a situação. Foram até casa dela e enquanto almoçavam trocavam algumas palavras:

-Já me podes explicar porquê tanto secretismo em relação ao que queres fazer esta tarde?
-Preciso de tomar a pílula do dia seguinte e não quero ir sozinha. - Disse muito diretamente e rapidamente.
-Explica-me devagarinho para ver se entendi direito por favor.
-Eu vou-te explicar tudo, direitinho e devagar, está bem?
-Estou à espera.
-Por onde começar? Bem primeiro que tudo, sou alérgica ao látex do preservativo e só descobri isso ontem durante o momento íntimo, não queres que te explique mais pois não? - Pedro sorriu. - Olha pronto aconteceu, mas eu interrompi porque tinha dores, depois apareceram as comichões e estava com uma cor estranha, fomos para o hospital e recebemos essa notícia, fiquei um pouco chateada claro ainda para mais quando a minha irmã me diz que estamos a ir depressa demais. Viemos para casa e ficamos a falar até que adormeci, e hoje... Hoje fizemo-lo mas não tínhamos como nos prevenir porque não tomo a pílula e como imaginas não tínhamos nenhum preservativo sem látex, e como não queremos ser pais tão cedo, o melhor é ir tomar a pílula do dia seguinte, eu sei que faz mal, e que devia ir com ele, mas ele está em estágio no centro de treinos e eu não consigo ir sozinha, e não consigo não pensar em nenhum método contracetivo senão andava o próximo mês com o coração nas mãos à espera da menstruação.
-Em primeiro lugar, como estás em relação a essa primeira vez... Algo diferente?
-Por incrível que pareça estou a reagir bem. Mesmo bem. Porque esperava algo inesquecível e realmente foi... Mas pelo lado engraçado. E talvez tivesse mesmo de ser assim, tive de mudar o meu ponto de vista para aceitar o que se passou.
-E segundo, não te vou dizer se é cedo ou tarde, vocês é que determinam o vosso ritmo e a velocidade a que vivem as coisas, existem casais juntos à anos que não se amam, e quem namore à dias e se ame realmente, mas fiquei preocupado por ter sido o momento em que se envolveram... Porque era a tua primeira vez, apenas isso. Mas se tu estás feliz, eu também o estou. Terceiro, tenho de te perguntar como estás depois de teres ido ao hospital, tiveste mais dores, comichões ou o que quer que seja?
-Não, só tenho algum incómodo mas isso já está relacionado com o que se passou hoje, não tem a ver com a alergia de ontem. E nós não nos prevenimos hoje porque até o fazermos foi tudo demasiado rápido e bom.
-A tua felicidade é a minha felicidade, apenas e só isso. E claro que vou contigo ao médico para tomares a pílula do dia seguinte, mas tens de ter atenção a isso por favor, senão acabas por engravidar, além do mal que a pílula do dia seguinte faz.
-Eu sei, vou estar atenta para a próxima vez, além do mais pergunto já ao médico qual é a melhor pílula por causa das dores infernais do período, e para prevenir bebés nos próximos tempos.
-Então acaba lá de comer que já lá vamos. E como é que te sentes depois de tudo o que me contaste?
-Extremamente feliz, genuinamente feliz. - Pedro olhou-a nos olhos e ficou feliz por ver a amiga realmente nas nuvens.

Depois de comerem, foram até ao centro de saúde, onde ouviram atentamente o médico.

-Meus queridos, a pílula do dia seguinte nunca deve usada como método contracetivo, porque injeta uma sobrecarga hormonal no corpo de uma mulher, ainda por cima, nas jovens o efeito é ainda maior porque o corpo está em mudança e já existe um excesso de hormonas, mas desde que foi comercializada que ainda não houve nenhum caso de doenças graves ou problemas graves causados pela mesma, mas tem pequenos efeitos colaterais que os vou pronunciar para não te assustares quando aparecer algum, mas é pouco provável que aconteça. Pode haver algum sangramento inesperado fora do período menstrual, e normalmente a menstruação ocorre uma semana antes do período regular, mas também podes sentir algumas náuseas e vómitos, mas não se preocupem, simplesmente não quero voltar a ver-vos cá por estes motivos, sim meninos?
-Sim, senhor doutor. - Responderam em coro.
-Não vos vou dizer o nome do medicamento nem nada disso, é linguagem farmacêutica e duvido que estejam interessados. - Preparou tudo para Rita tomar a pílula do dia seguinte, e ela de mão dada com Pedro assim o tomou.
-Pode-me dizer a eficácia deste contracetivo, por favor, senhor doutor?
-Ronda os 99%, por isso se tudo correr bem e não forem demasiado azarados não haverá bebé nos próximos nove meses.
-E diga-me doutor, qual é a melhor pílula para eu tomar?

O médico acabou por pesá-la, oscultá-la e por dar-lhe todas as informações que precisava para começar a tomar a pílula, quando terminaram, saíram do consultório e depois do centro de saúde.

-Obrigada por estares do meu lado.
-Amizades não se agradecem. - Rita deu-lhe um abraço forte e sentido.
-Acho que os nossos amores devem estar preocupados de não terem notícias nossas, portanto acho que devíamos mandar mensagem aos nossos amores.
-Parece-me uma excelente ideia!

Rita pegou no telemóvel e enviou uma mensagem a Fábio:

Não te ligo porque estás em estágio, não quero chatear-te enquanto estás aí! Já fui ao centro de saúde com o Pedro e está tudo tratado e bem! Sabes quem vai amanhã ver o jogo e tem muito orgulho em ti? A tua namorada, a tua afilhada e o teu cunhado, beijo, amo-te <3”

Podes-me ligar sempre que quiseres, só não atendo mesmo durante os treinos e jogos. E como correu? Tenho pena de não ter ido contigo, mas não pude mesmo... Mas para a próxima lá estarei ;) Sei que também tenho muito orgulho em vocês, especialmente em ti, amo-te <3”

(Nesse mesmo dia à noite)
Era mais um jantar de família em casa dos patriarcas da família Madeira que decidiram juntar-se para festejar apenas o facto de estarem juntos e unidos à mesa, embora não estivessem todos, Fábio estaria nos seus corações e Rita sabia bem que a afilhada iria estranhar a ausência do padrinho e para de alguma forma compensar a pequena, decidiu ir buscá-la ao ATL e depois irem passear até à hora de jantar, mas acabou por ter uma ideia assim que a foi buscar a afilhada, iriam surpreender Fábio. Iriam até à porta do centro de treinos, ela ligaria ao namorado e ele viria apenas dar um mimo... A cada uma delas. Mas pelo caminho decidiu comprar um pequeno mimo para o seu namorado, ele não poderia comer muitos doces enquanto estivesse em estágio, mas ela levaria um pacote de gomas pequenino... Ele merecia e além do mais não seria ela a dar, era a Di! Assim que chegou à porta do centro de treinos enviou uma mensagem:

Podes chegar à porta por favor?”

Qual porta? Não estou a entender nada, meu amor!”

Á porta do centro de treinos! Temos uma surpresa para ti!”

Como assim temos?!”

Se mexeres esse rabo e chegares aqui logo vês ;) ”

Dá-me dois minutos e levo companhia que é para ter uma desculpa válida para me ausentar!”

NÃO QUERO SABER DE MAIS NADA, DESPACHA-TE!”

Passado alguns minutos, Fábio chegou à entrada do centro de treinos com o seu colega de equipa e amigo, João Cancelo, assim que os viu, a pequena Di foi direta para as pernas do padrinho:

-Minha princesa! - Disse Fábio pegando na afilhada ao colo. - Que tens aí na mão?
-A dinha disse qu'pa ti! - Disse a menina dando-lhe para a mão.
-Espero que tenhas gostado das surpresas, e antes que alguém reclame que eu só te engordo, foi a tua afilhada!
-Que grande madrinha que me saíste a culpar a própria afilhada! - Disse agarrando-a pela anca e dando-lhe um beijo na testa.
-E tu um distraído que nem me apresentas a tua companhia! - Respondeu-lhe.
-João é a Rita, a minha namorada. Rita, é o meu colega de equipa e amigo, Cancelo, ou melhor, o Lelo da equipa.
-Não achei piada oh Cardoso. - Reclamou João e aproximou-se das duas raparigas. Cumprimentou Rita com dois beijos e brincou com a pequena.
-Já alguém te disse que és linda, pequena? - A pequena Di escondeu a cara no ombro da madrinha.
-O João está a falar contigo, meu amor.
-Eu chei mas tenh' vegona.
-Mas faz lá um esforço e responde.

A menina tirou a cabeça do ombro da madrinha e olhou para João e sorriu-lhe.

-Tabem éx bonito. - Respondeu.
-Como te chamas pequena?
-Diana Feieia, max xamam Di. - Disse a pequena e olhando para o amigo do padrinho.
-Não te importas de brincar um pouquinho com o João enquanto os padrinhos ficam a namorar um bocadinho?
-Não, dinho. - Respondeu a pequena ao seu tio e padrinho e saindo do colo dele e agarrando-se às pernas de João. Rita e Fábio afastaram-se ligeiramente mas não muito.
-Obrigada pela vossa surpresa. - Disse sorrindo-lhe. - Obrigado mesmo, do coração!
-Não sejas tonto, era apenas para dormires bem e amanhã fazeres um jogo ainda mais inspirado, acho que por isso merecia um beijo! -Dito isto, Fábio agarrou-a no fundo das costas e deu-lhe um beijo sentido e carregado de romance. - Acho que só por este beijo valeu a pena! Convida os teus colegas e organizo um jantar lá por tua casa para todos!
-É preciso lata, organizas um jantar em minha casa, e nem me consultas? - Fingiu-se chocado.
-E tu muito chateado, deste-me a chave porque razão?
-Porque tu gostas de arrumar e eu gosto de ter a casa arrumada.
-Tu és a pessoa mais desarrumada que conheço, Fábio Rafael!
-E tu também não gostas propriamente de arrumar.
-Mas quando tem de ser, é uma arrumação à séria! Sou uma querida para ti, e ainda mandas bocas, secalhar é melhor ir-me embora...
-Estava a brincar contigo, é o nosso cantinho, não é apenas a minha casa, o que é meu, é teu!
-Ainda bem que dizes isso, porque assim vais partilhar a minha parte do saco de gomas com o João!
-Tem mesmo de ser?
-Sim! - Respondeu sorrindo-lhe e ele não conseguia dizer que não simplesmente. - E amanhã entre o jogo e o jantar, vamos dar uma voltinha de carro para me explicares como se conduz.
-Já alguma vez te disse que és tu que vestes as calças na nossa relação?
-Senão tiver juízo nesta relação, ninguém a tem.
-É incrível como tens sempre resposta na ponta da língua, isso só me faz amar-te mais.
-Eu amo-te por seres tão pouco ajuizado mas tão boa pessoa. - Deram um beijo intenso.
-Cardoso. - Interrompeu João. - Desculpa interromper, mas secalhar devíamos ir embora...
-Secalhar é melhor. Amor, amanhã aqui na entrada com o segurança vou deixar bilhetes para virem ver o jogo, e sim, amanhã está combinado aquilo que disseste, ainda hoje te confirmo quantas pessoa vão.
-Combinado! - Deram um beijo curto. - E agora um beijo de despedida da minha princesa mais que tudo! - Pegou ao colo da afilhada e deu-lhe um grande abraço e um beijinho. Despediram-se todos e cada um seguiu o seu caminho.

(No dia a seguir, perto da hora do jogo)
Rita juntamente com a família saíram cedo de casa e foram até ao centro de estágios, de onde se aproximaram da sua entrada e levantaram os bilhetes, a pequena Di não poderia assistir ao jogo, ainda era demasiado pequena para entrar no estádio, mas Fábio enviara um colega de equipa que estava fora do jogo, para pedirem ao segurança para fingirem fechar os olhos, e entraram para o estádio. A rapariga entrou com Di ao colo mas acabou por se afastar um pouco para ver o relvado e tentar ver o possível aquecimento de mais perto, junto às grades, e ficou assim durante uns segundos, até que interromperam-lhe os pensamentos:

-Olha desculpa, mas não és a Rita Madeira? - Duas raparigas no início da sua adolescência com cerca de 13/14 anos falavam perto dela.
-Sim sou, minhas queridas, posso ajudar-vos?
-Tu não és a namorada do Fábio Cardoso?
-Sim, sou... - Respondeu com receio.
-Sabias que ele tinha fama de mulherengo, não sabias?
-E que dizem que eles nunca mudam, apenas se revelam... - Concluiu a outra.
-Ele há uns tempos veio meter conversa comigo.
-E começou a seguir-me no Instagram.
Rita respirou fundo, por um lado começou a pensar no que elas diziam mas também a pensar em como não mandá-las para um sítio feio, ou fazê-lo de forma educada.
-Conheço uma rapariga que chegou a falar bastante com ele à uns tempos... E que ele era fácil.
Rita engoliu em seco, sabia que o que elas diziam podia ter um fundo de verdade, mas não sabia como fingir que nada se passava. Ana aproximou-se da irmã e interrompeu a conversa:
-Posso ajudar-te, mana?


Será que Rita vai conseguir-se lembrar de uma resposta à altura?
Ou será que a irmã é que irá defendê-la? Que diferença fará este episódio na vida do casal? 

domingo, 15 de novembro de 2015

Capítulo 34: “Sei que não estou arrependida, apenas surpreendida!”




-Eu vou tomar banho, tu não sei. - Dito isto puxou o lençol da cama e tapou-se com ele, e foi até à casa de banho sem olhar para trás, sabia que olhá-lo iria fazê-la sentir-se ainda pior. Assim que chegou, encostou a porta e deixou cair o lençol do seu corpo, olhou-se ao espelho durante breves segundos e decidiu passar a cara por água. Ligou o rádio, tirou as toalhas do armário e deixou-as ao lado da banheira, ligou a água e fê-la cair primeiro pelo cabelo e depois pelo corpo. A música começou a fazer-se ouvir e a transmitir-lhe sentimentos:

All her life she has seen (A vida inteira, ela viu)
All the meaner side of men (Todos os lados malvados do homem)
They took away the prophets dream (Roubaram os sonhos do profeta)
For a profit on the street (Pelo lucro da rua)
Now she's stronger the you know (Agora ela é mais forte do que imaginam)
A heart of steel start to grown (Um coração de ferro começou a crescer)

All his life he's been told (A vida inteira, disseram-lhe)
He'll be nothing when he's old (Que seria um nada quando fosse mais velho)
All the kicks and all the blows (Todos os pontapés e golpes)
He will never let it show (Que nunca deixou transparecer)
Cause he's stronger than you know (Pois ela é mais forte do que imaginam)
A heart of steel start to grown (Um coração de ferro começou a crescer)

When you've been fighting for it all your life (Quando lutou toda a vida)
You've been struggling to make things right (Para fazer as coisas certas)
That's how a superheroe learns to fly (É assim que um super-herói aprende a voar)
Every day, every hour (Todo o dia, toda a hora)
Turn the pain into power (Transforma a dor em poder)

E Rita não conseguiu conter as lágrimas... Toda a vida tinha tentado fazer o direito, o correto e tudo parecia correr mal e quando tudo parecia recompor-se, desabou, novamente, mesmo debaixo dos seus pés. Sabia que tinha desiludido Fábio, e isso magoava-a, pior que isso, sentia-se culpa. O que iam viver era suposto ser um momento inesquecível para ambos, e havia sido, mas pela negativa. A dor apoderava-se de si, queria tentar não pensar nisso mas não conseguia simplesmente não pensar nisso. A culpa havia sido inteiramente sua. Deveria ter suportado as dores, no final iria compensar, mas não aguentara, as dores eram insuportáveis. Não lhe tinha dado prazer, tinha-lhe dado uma primeira vez em conjunto, interrompida apenas por ela ser fraca. Chorava, por culpa, por dor, por perca, por desilusão. Era a sua oportunidade de ser feliz, no seu auge e tinha sido mais uma mágoa. Fábio não o merecia, ele merecia o céu e ela prometera-lhe as estrelas e nem lhe conseguia dar um telescópio para as observar. A água continuava a cair pelo corpo, mas continuava a sentir-se suja, continuava a sentir repulsa de mim. Colocou champoo no cabelo e esfregou, passou novamente por água e depois foi a vez do amaciador e do gel de banho, talvez ajudasse a sentir menos suja, mas continuava com o mesmo sentimento. Passou novamente por água durante uns minutos, depois decidiu sair. Não iria gastar mais água, não queria sequer abusar, apesar de ser a casa do seu namorado, não era a sua casa. Embrulhou-se numa toalha e foi para o quarto, e deparou-se com uma mancha de sangue na cama, sentou-se e as lágrimas continuavam a escorrer-lhe pela cara. A dor tornava a sufocá-la, a apertar-lhe o coração e a não deixá-la respirar normalmente. Queria que Fábio a abraçasse, queria sentir-se segura mas também perder-se nos seus braços, queria sentir que estava tudo bem, que o mundo estava ali nos seus braços, mas também sabia que o tinha desiludido e que ele esperava mais de si, e não conseguia lidar com isso. A vergonha e o medo de ver a deceção no olhar dele, impediram-na de falar com ele, a culpa iria ser superior a qualquer outro sentimento. Por isso decidiu ficar sozinha e enfrentar aquela situação só, limpou as lágrimas e vestiu-se. Pegou nas suas cuecas e vestiu-as e tirou uma t-shirt do armário de Fábio, era confortável ficar assim, procurou também o soutien mas não o encontrara. Foi até ao corredor, onde o encontrou e vestiu-o. Mas tinha de avisá-lo que estava apenas com uma camisola dele e que iria servir-se na cozinha, precisava realmente de comer.

-Espero que não te importes, mas tirei uma t-shirt do teu armário e vesti-a.
-Tudo bem, sabes que te adoro ver só com uma t-shirt minha vestida não sabes?
-Queres comer alguma coisa? - Rita mudou rapidamente o rumo da conversa.
-Eu vou só tomar banho e já me sirvo. - Disse Fábio sem nunca tirar os olhos da televisão.
-Estás à vontade.

Fábio foi para a casa de banho, e começou a ouvir-se a água a correr, e Rita aproveitou só para beber um copo de leite, decidiu pegar na roupa que estava espalhada pelo corredor e arrumá-la numa cadeira que havia junto à cama, e enquanto o fazia, o rapaz saiu da casa de banho com apenas uma toalha na cintura e ela foi obrigada a olhar para ele.

-Desculpa, vou-me já embora.
-Não é nada que já não tivesses visto, meu bem. - Era a primeira vez que a olhara, mas Rita desviara o olhar. Ele tinha-lhe chamado um nome querido e isso ainda a fazia corar. - Ainda há gelado de gomas?
-Não lhe toquei, por isso não sei.
Saiu do quarto e deixou o seu namorado vestir-se, mas assim que encostou a porta, sorriu, continuava completamente derretida e maravilhada por poder dizer que aquele homem era seu, embora estivessem juntos à algum tempo. Foi para a cozinha e comeu umas bolachas nutritivas e saudáveis que ele tinha no armário, e enquanto as comia, colocou os fones nos ouvidos e começou a dançar:

Ay payita mía, guárdate la poesía (Ai, meu amorzinho, guarda a poesia)
Guárdate la alegría pa'ti
(E aguarda a alegria para ti)

No pido que todos los días sean de sol
(Não peço que todos os dias sejam de sol)
No pido que todos los viernes sean de fiesta
(Nem peço que todas as sextas sejam de festa)
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón
(Nem que voltes para pedir perdão)
Si lloras con los ojos secos y hablando de ella
(Se choras com os olhos secos, falando dela)

Ay amor, me duele tanto, me duele tanto
(Ai amor, dói-me tanto, dói-me tanto)
Que te fueras sin decir adónde
(Que te tenhas ido embora, sem dizeres para onde)
Ay amor, fue una tortura perderte
(Ai amor, foi uma tortura perder-te)

Yo sé que no he sido un santo
(Eu sei que não tenho sido um santo)
Pero lo puedo arreglar, amor
(Mas posso concertar, amor)
No solo de pan vive el hombre
(Não só de pão vive o homem)
Y no de excusas vivo yo
(Nem só de desculpas vivo eu)
Sólo de errores se aprende
(Só com os erros é que se aprende)
Y hoy sé que es tuyo mi corazón
(E eu sei que é teu, o meu coração)
Mejor te guardas todo eso
(É melhor guardar tudo isso)
A otro perro con ese hueso y nos decimos adiós
(A outro cão com esse osso e assim dizemos adeus)

No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal
(Não pudemos pedir ao Inverno para perdoar um rosal)
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras
(Não posso pedir aos ulmeiros que tragam peras)
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal
(Não posso pedir o eterno a um simples mortal)
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas
(É como atirar milhares de pérolas a porcos)

(...)

No te bajes, no te bajes
(Não te vás, não te vás)
Oye negrita, mira, no te rajes
(Olha negrita não vás)
De lunes a viernes tienes mi amor
(De segunda a sexta tem o meu amor)
Déjame el sábado a mi que es mejor
(Deixa-me o sábado para mim, é melhor)
Oye mi negra, no me castigues más
(Oh minha negra, não me castigues más)
Porque allá afuera sin ti no tengo paz
(Porque lá fora, sem ti, não tenho paz)
Yo sólo soy un hombre arrepentido
(Eu sou um homem arrependido)
Soy como el ave que vuelve a su nido
(Sou como uma ave que volta ao ninho)

(...)

Ay, ay, ay, ay, ay
(AI, AI, AI, AI, AI)
Ay, todo lo que he hecho por ti
(Ai, tudo o que fiz por ti)
Fue una tortura perderte
(Foi uma tortura perder-te)
Me duele tanto que sea así
(Dói-me tanto que sejas assim)
Sigue llorando perdón, yo
(Se chorar pedindo perdão, eu)
Yo no voy a llorar hoy por ti
(Eu não vou chorar hoje por ti)

Quando a música terminou, pousou os fones nos seus ombros e ouviu nas suas costas:
-Nunca imaginava que dançasses tão bem! - Rita sorriu.
-Estás aí à muito tempo?
-Desde que começaste o show. O que estavas a dançar?
-Shakira, o que haveria de ser? - Trocaram um sorriso cúmplice. - La tortura, conheces?
-Claro que sim, aquela dança dela é irresistível a qualquer homem.
-Nunca aprendi a dançar a dança do ventre e nunca vou ter o movimento de anca dela, mas gosto de dançar, faz-me desanuviar e não pensar nos problemas.
-Acho que deveríamos falar sobre o que se passou.
-Não há nada para falar, Fábio. - Respondeu com uma certa agressividade e com o tom de voz mais elevado.
-Sabes bem que temos de falar sobre nem sei como chamar... Sobre a nossa primeira vez interrompida.
-Não quero falar sobre isso.
-Tu não tens culpa de nada, e eu também não, aconteceu porque tinha de acontecer.
-Já acabaste? Senão te importares quero ir para a sala ler um livro. - Ele nada respondeu, limitou-se a respirar fundo, Rita virou costas e foi para a sala. Tirou um livro da estante e colocou os fones nos ouvidos, assim não ouviria o que Fábio diria quando ele voltasse para ver novamente a televisão na sala, a música começou a tocar e começou a concentrar-se no que dizia o livro, para se afastar dele, até se sentou no sofá mais longe da televisão para não ficar próxima dele. Assim que o rapaz chegou à sala sorriu, mas nada disse, limitou-se a sentar no seu sofá e ver a televisão, mas sempre que podia mandava um olhar matreiro à sua namorada, e ela não precisava de observá-lo, percebia mas nada fazia, fingia não ter entendido. Os minutos passaram e cada minuto o livro que lia parecia mais desinteressante, ou então era ela que não estava atenta, tirou os fones dos ouvidos e pousou-os juntamente com o livro na pequena mesa que existia entre os sofás e com medo que Fábio falasse acabou por apenas dizer:

-Vou à casa de banho. - Dito isto não esperou resposta e foi para a casa de banho. - Fábio! - Berrou, assustando-o, rapidamente se levantou do sofá e foi ter com a namorada, bateu à porta da casa de banho e entrou passado breves segundos.
-Está tudo bem meu amor?
-Não, repara nisto! - Apontou para o seu útero. - Isto não é normal! Estou cheia de comichão, e dói-me, além da cor!
-Nunca vi nada assim, é melhor irmos ao hospital.
-E o que digo à minha família por ter ido parar ao hospital?
-Eles não precisam de saber, és maior de idade!
-Isto dá-me imensa comichão, Fábio, eu é que não te quis dizer que achei normal, e as dores também, mas já vai em quase meia hora e isto não passa.
-Vamos ao hospital, pega nos teus documentos e nas tuas chaves e telemóvel e vamos. - Dito isto foram buscar as carteiras, os telemóveis e as chaves e seguiram rumo ao hospital.
-Fábio, desculpa. - Disse enquanto ele conduzia em direção ao hospital. - Sei que te desiludi, que esperavas mais da nossa primeira vez, eu também fiquei desiludida comigo, acredita, mas eu não conseguia mais. Desculpa.
-Amor, tu não tens de me pedir desculpa por nada, estas coisas acontecem, não tinhas como saber.
-Mas desiludi-te, e sinto-me culpada por isso.
-Neste momento o mais importante é o teu estado de saúde, isso sim. Além do mais tu ensinaste-me uma coisa importante e é nisso que tens de pensar neste momento, senão aconteceu é porque não tinha de acontecer.
-Eu sei, mas custa-me entendes?
-A mim também me custa um pouco, queria que a tua primeira vez fosse algo inesquecível e foi... Mas pela negativa.
-Posso lembrar-me da nossa primeira vez de uma forma um pouco engraçada!
-Original! - Riram-se em conjunto. - Achas que devíamos avisar os teus pais ou a tua irmã que vamos para o hospital?
-Queridos pais, olha eu e o vosso querido genro queríamos ir para a cama, mas eu não aguentei as dores e como tem uma cor estranha, decidimos vir para o hospital.
-Pensando bem não será muito boa ideia... Mas e a tua irmã?
-A minha irmã pode ser, mas não quero que ela vá ter connosco ao hospital, é embaraçoso, além de que tem a nossa afilhada em casa para cuidar. Vou-lhe ligar. - Mexeu nos bolsos e não encontrou o telemóvel, apenas havia trazido a carteira. - Posso ligar do teu telemóvel?
-Estás à vontade! Sabes o número de cor? É que só tenho o número dos teus pais...
-Eu sei de cor não te preocupes! - Pegou no telemóvel e ligou para a irmã.
-Então Fábio, não encontraste o caminho certo, ou já esgotaram a caixa de preservativos e precisam de mais?
-Olá mana! - Respondeu, interrompendo-a. - Nada disso, aliás tivemos de interromper a nossa primeira vez que estava com dores e depois apareceram as comichões, e estava com uma cor estranha... Lá em baixo e por isso decidimos vir ao hospital.
-Deixa-me só avisar o Rúben e já vou ter convosco!
-Não é preciso Ana! Era só para te avisar que não trouxe o telemóvel e se for preciso liga para este que é o do Fábio.
-Eu vou ter contigo, não te vou deixar sozinha no hospital.
-Mas não é mesmo preciso, obrigada.
-Não quero discutir contigo, eu vou a caminho e não se fala mais nisso.
-Está bem, não insisto. O Fábio vai só estacionar e vamos entrar, quando tiveres a chegar, avisa.
-Está bem. Beijo, até já!
-Até já! - Fábio olhou rapidamente para ela enquanto estacionava o carro. - A minha irmã insistiu em vir cá ter. Tens noção da vergonha que vou passar a explicar o que se passou?
-Eu sou desenvergonhado, além de que sou homem, eu explico!
-E que homem... - Disse baixinho.

Entraram para o hospital e como era uma emergência de ginecologia não demoraram a ser atendidos, e quando entraram para o consultório, Ana já tinha chegado e teve de esperar no corredor porque só puderam entrar Rita e Fábio, explicaram a situação ao médico e depois de alguns exames, acabaram por ser informados que ela tinha tido uma reação alérgica. Rita era alérgica ao látex do preservativo. A próxima vez que o fizessem teria de ser com um preservativo sem látex, ou então, ela teria de tomar a pílula. Era o mais recomendável, garantiu, pediu-lhe para ir a uma farmácia e falar com a farmacêutica que a ajudava a escolher e a ajudá-la a ver qual seria a melhor. Acabou também por dizer que ela teria alta no mesmo dia, e poderiam seguir a sua vida... Mas com juízo! Realçou! Saíram do consultório e foram até à sala de espera, onde Ana já os esperava:

-Então? Demoraram tanto tempo, estava a ficar preocupada!
-Sou alérgica ao látex! - Disse Rita, baixando a cabeça. - Não é uma alergia muito agressiva, mas é alergia.
-Então como é suposto fazer amor?
-O médico falou-nos de uns preservativos sem látex, que deveríamos experimentar, mas o mais recomendável é mesmo a pílula.
-Tens mesmo de tomar atenção na altura de a tomares Rita, não te podes esquecer!
-Eu sei Ana, mas também não o pudemos fazer nos próximos tempos...
-Deixem-me só fazer uma pergunta um pouco mais descarada.... Vocês chegaram realmente a fazê-lo e depois interromperam?
-Sim. - Respondeu Rita. - Não conseguia mais aguentar as dores e pedi-lhe para parar, fui tomar banho e ele também, e a dor e comichão não paravam, chamei-o e decidimos vir cá.
-E a Rita ligou-te para vires cá, porque não era bonito contar aos pais dela, como imaginas, além do mais também ficarias em maus lençóis porque lhes mentiste.
-Ninguém tem de saber de nada, mas vocês não podem ficar traumatizados por isto... Principalmente tu, maninha!
-Mas é difícil sabes?
-Imagino que deva ser... Mas também é cedo, vocês estão juntos há pouco tempo, são tão novos, têm tempo.
-O tempo que estamos juntos é indiferente, o que importa é a intensidade com que vivemos os momentos. - Dito isto, agarrou na mão do seu namorado e seguiram até ao carro.
-Não precisavas de ser tão agressiva com a tua irmã, ela estava a tentar ser tua amiga.
-Mas estava a piorar aquilo que sinto. Nós é que temos de decidir qual é o nosso timing ideal, a relação é a dois, ninguém tem de se meter.
-Porque é que estás a ser tão drástica e dura, Rita? Nunca te vi assim!
-Talvez não me conheças assim tão bem.
-Ai é que te enganas, Fábio. Não gosto que as pessoas me digam o que fazer ou não, sem eu perguntar, a vida é minha, a decisão era minha, o corpo é meu e o meu homem és tu, nós é que tínhamos de decidir, tivemos azar, apenas isso, senão fosse eu provavelmente ainda o estávamos a fazer!
-Não tens de te sentir culpada por nada, Maria Rita! - Disse já um pouco chateado. -Aconteceu porque tinha de acontecer, porque estava destinado a acontecer, e tenho a certeza que o teu avô e o teu irmão estão no céu a tentar mentalizar-te disso mesmo, e tu simplesmente não me dás ouvidos! Eu amo-te e eu também tive culpa, não te devia ter pressionado, podia ter-te obrigado a não fazermos nada, também eu podia ter evitado e não o fiz, está feito! E quanto mais te queixas do que se passou mais culpado me sinto Rita, parece que estás arrependida!
-Não estou arrependida! - Respondeu tentando animá-lo. - Simplesmente estou chateada que a minha irmã se queira meter nas nossas vidas, a minha irmã também foi mãe cedo e os meus pais não a julgaram, aliás deram-lhe todo o apoio que precisava, e ela está a acusar-me de ter precipitado a minha primeira vez! Eu sei o que fiz, sei com quem o fiz, e sei que não estou arrependida, apenas surpreendida!
-E não achas que foste um pouco bruta demais com a tua irmã?
-Talvez tenha sido... Amanhã falo com ela, hoje estou demasiado cansada, só quero deitar-me ao teu lado e dormir. Na minha cama, que a tua não está em condições.

Dito isto entraram no carro e seguiram até casa dele, Fábio precisava de ir buscar roupa para vestir no dia seguinte, depois foram até casa dela, onde se deitaram na sua cama e ela começou a relembrar-se de momentos importantes e a contá-los:

-Amor, ainda te lembras...

-Rita, por favor, só mais um bocadinho. Suplicou Fábio e Rita não conseguiu resistir.
-Mas é mesmo só mais um bocadinho, sabes que o meu pai está à minha espera. – Disse
pousando novamente a mão sobre o peito de Fábio que a agarrou as mãos e olhou para ela.
-Só falta uma coisa para tornar este momento perfeito. – Encheu-se de coragem e disse-o, Rita olhou para ele que sorria e perguntou:
-E porque não o tornas perfeito? – Perguntou envergonhada mas com coragem de dizer tudo o que sentia e de se sentir ainda mais realizada.
-Porque não sei se também o queres.
-Eu confio em ti Fábio. – Disse pousando a mão sobre os cabelos secos mas brilhantes dele.
-Tens a certeza? Tu nem sabes o que vou fazer.
-Faço uma pequenina ideia. E sinceramente, não preciso de saber, tal como te disse confio em ti.
Os olhos de ambos brilharam e foi Rita quem tomou a iniciativa de cruzar os seus dedos com os de Fábio dentro de água. Fábio sabia que o que iria fazer podia estragar aquela amizade, podia deixar a amiga desiludida ou magoada, podia afastá-la de si, mas estava disposto a arriscar, afinal ela permitia-o, fora ela que o incentivara-o a fazer, embora não soubesse ao certo o que ele iria fazer.
Fábio aproximou os seus lábios da face de Rita, pousou a mão esquerda sobre a bochecha dela que fechou os olhos sentindo o doce toque do amigo na sua face, aproximou os seus lábios dos dela e respirou durante breves segundos e beijou-a como desejara há imenso tempo, como nunca desejara beijar ninguém.
E Rita nunca hesitou, nunca temeu e sempre confiou em Fábio, deixou-se beijar e sentir todas aquelas sensações únicas, faziam-na ter ainda mais certeza do que sentia por ele. Estava apaixonada. E aquele beijo causara-lhe uma felicidade inexplicável, sentia-se amada como não sentia desde o final de relação com Tiago.
E Fábio sentiu o que nunca havia sentido antes, uma felicidade a sair pelo seu coração de forma inexplicável, uma vontade de não mais soltar Rita dos seus braços, de fazê-la apenas a única mulher da vida dele. Ela era a sua felicidade, o seu porto de abrigo, o seu porto seguro, uma mulher surpreende apesar da tenra idade.
As bocas só se separaram quando o ar começava a escassear, e parecia nada os querer afastar, não queria mais largar-se, nunca mais se afastarem e ficarem unidos como um só. Rita pousou a cabeça sobre o peito de Fábio e as mãos nos ombros dele, que retribuiu o gesto pousando as mãos sobre as costas de Rita e a cabeça sobre a cabeça dela e com a voz meio-rouca e grave disse:
-Sem dúvida que tornaste este momento perfeito. – Disse sorrindo e olhando para o nascer do sol cada vez mais forte.

-Claro, que me lembro, apesar de todos os momentos vividos ao teu lado terem sido especiais, houve alguns mais inesquecíveis que outros, e o nosso primeiro beijo, foi dos momentos mais bonitos que vivemos juntos, mas porque te lembraste de repente disso?
-Sinceramente? - Ele abanou positivamente com a cabeça. - Todos os dias rezo, agradecendo a Deus teres entrado na minha vida e estarmos juntos.
-A sério? Não imaginas o quanto fico contente por saber isso! Sabes, eu acredito em Deus, mas não sou muito de rezar, gosto de viver o momento e aproveitá-lo e relembrá-lo mais tarde, mas quero saber quais foram para ti os mais importantes e dizer também os meus, queres ouvi-los?
-Obviamente que sim, pode ser que tenhamos algum em comum. Ainda te lembras...

Por isso tocou á campainha de Fábio. Esperou algum tempo e quando o amigo abriu a porta, foi surpreendida por ele. Tinha apenas uma toalha a cobrir-lhe a cintura, nada mais. E Rita pode constar que ele era ainda mais atraente do que julgava e imaginava. O cabelo pingavam e as gotas escorriam pelo corpo, e todas as tatuagens que tinham estavam bem visíveis, inclusivé a do peito.
Não conseguia esconder a admiração. Abriu a boca e Fábio apenas sorriu. Baixou a cabeça e benzeu-se e disse em voz baixa:
-Ai meu Deus! – Nunca tinha observado o corpo de Fábio e não fazia ideia do que a tatuagem no peito diria.
-Tapava o peito mas se o fizer deixo outras partes á mostra! Rita olhou para ele e colocou as mãos á frente dos olhos, mas afastando os dedos, numa tentativa de mostrar que estava envergonhada mas também de admirá-lo.
-Deixa-te estar! Eu depois venho cá! Disse na tentativa de fugir á maior vergonha da sua vida.
-Entra masé tola! Eu vou vestir qualquer coisa para não te deixar tão pouco á vontade. – Disse entrando em casa e Rita seguiu-lhe. – Fecha a porta e finge que a minha casa é a tua. – Afirmou indo em direção ao quarto para vestir alguma roupa menos provocatória para os sentidos dela. Falou do quarto para a sala, onde estava a rapariga. (…) ”

-Não acredito que te lembraste disso!!
-Foi um dos momentos mais divertidos que me proporcionaste, como me poderia esquecer?!
-Não tem graça, eu já estava congestionada por causa das canadianas e era de manhã, ainda nem o pequeno-almoço tinha tomado e já estava a ficar sem palavras!
-Se eu te dissesse que estava com duas canadianas, tinhas ficado logo chateada! - Rita cruzou os braços e fingiu-se chateada, virou-se de costas para ele.
-Fica lá com as tuas canadianas, e come francesinhas e adota ainda gregas por causa da crise que eles também precisam de ajuda, sejam felizes!
-Não precisas de ter ciúmes, para quê ter canadianas, francesinhas, de nada, porque eu tenho a minha portuguesa ao meu lado e não quero mais nenhuma. - Encostou-se a ela e deu-lhe um beijo na bochecha. - És uma das pessoas mais divertidas que conheço, sabias?
-Fazia uma pequena ideia! - Sorriram. - Ainda te lembras...

-Olá! – Sorriu. E Rita confessava a si mesma que tê-lo a menos de dois metros de si, o tornava ainda mais bonito. E... Sexy! Bem era esta a palavra, chegava a esta conclusão Rita. – O meu nome é Fábio Cardoso e sou teu vizinho da frente. – Não conseguia reagir. Estava surpreendida. – Tu és a Rita Madeira não és? – Corou. Como é que ele sabia o seu nome?
-Sim. Dizem que sim. – Respondeu Rita sorrindo.
-Conheces-me? – Se havia algo que ela gostava era deixar tudo claro. Não o conhecia pessoalmente e não era “conhecida” por isso não havia motivos para ele a conhecer. Tinham já falado mas podia ser apenas por ele ter segundas intenções consigo, que não eram de todo retribuídas. Não queria ser apenas “uma” rapariga na conta pessoal de ninguém. –Quer dizes ainda há pouco falamos mas podias já te ter esquecido. – Disse sinceramente. -Ou teres segundas intenções não retribuídas. – Disse baixinho entre-dentes.”

-Quando nos conhecemos? Obviamente que me lembro! Quando te vi nesse dia achei-te tão bonita, mas tão bonita! - Esperava uma resposta de Rita, mas apenas ouviu silêncio, esperou mais alguns segundos e nada... Não respondia. Olhou para ela que havia adormecido com a cabeça pousada sobre os seus braços e encostada ao seu peito, depositou-lhe um pequeno beijo na testa e sussurrou-lhe “amo-te”. Ela estava cansada e havia adormecido mas havia tanto para conversarem, para esclarecerem, nenhum deles sabia o futuro mas sabia que queria fazê-los juntos.

Será que Rita vai pedir desculpa à irmã?
Como será o resto do namoro? Será que a 1ª vez irá acabar por afastá-los?