terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Capítulo 26 “Que estão a fazer? Estão a fazer-me um sobrinho?”


-Peço imensa desculpa! – Disse envergonhada. –Entre, entre... – Abriu a porta e deixou a senhora entrar. –Coloque-se à vontade enquanto eu vou só acordar o seu filho.

-Deixa-o descansar querida. – Pediu. –Assim posso aproveitar para trocar umas palavras com a minha nora. – Rita sentiu-se ainda mais envergonhada do que quando fizera a viagem no autocarro com os colegas de Fábio, mas será que todas pessoas da vida dele já sabiam da sua existência?!

Teresa sentou-se na ponta do sofá da sala fazendo com que Rita se sentasse na ponta oposta. Sentia-se desconfortável e não sabia ao certo o que dizer à mãe de Fábio... Ela gostava dele mas não era suposto a mãe dele saber ou era?

-O Fábio já me falou muito de ti minha querida. – Olhou para ela e colocou as mãos sobre as mãos da jovem rapariga.

-Fico muito contente por saber isso! – Sorriu.

-Minha querida não precisas de ter vergonha de falar comigo, eu só quero conhecer melhor a rapariga que roubou o coração do meu filho.

Rita sorriu, simplesmente não conseguia esconder o sorriso, ele tinha dito isto à mãe?

-É com muito orgulho que respondo que o seu filho também roubou o meu.

-Fico contente por saber isso! E como mãe só te posso agradecer por teres aberto os olhos ao meu filho e por tê-lo feito mudar para um homem ainda melhor!

-Dona Teresa, eu não mudei o seu filho. O seu filho é que quis mudar. – A mãe do jovem sorriu, Rita era assim tão humilde que nem queria assumir que havia mudado a vida dele de forma tão sentimental e humana, ela era a principal impulsionadora para ele se tornar um homem melhor com tudo o que isso acarretara.

-Desde que o Fábio me falou de ti que percebi que eras boa pessoa mas depois de trocar alguns dedos de conversa contigo entendo que ele não poderia ter escolhido melhor.

-Muito obrigada! Também tenho de lhe dar os parabéns porque o seu filho além de ser um enorme jogador, é uma enorme pessoa e um enorme homem, não só porque quis mudar mas também devido à excelente educação que lhe deu, tem princípios, consciência e maturidade, o que é difícil encontrar, infelizmente, hoje em dia, dona Teresa.

-Muito obrigada também eu! – Deu um beijo na bochecha de Rita. –E não precisas de tratar-me por dona e muito menos por “você”, prefiro que me trates pelo meu primeiro nome e que me trates por tu querida, não sou assim tão mais velha que tu!

-Desculpe mas isso não sou capaz de o fazer... Não consigo tratá-la por “tu” porque me sinto faltar-te ao respeito e a ser mal educada, é mais velha que eu e simplesmente devo-lhe respeito, não só enquanto mãe do Fábio como enquanto adulta. O dona posso prometer que tento, não prometo é que consiga. – Sorriram. –Desculpe, mas não lhe perguntei... Deseja comer alguma coisa ou beber?

-Querida, não sou assim tão velha que não possa ir fazer isso sozinha!

-Sim, mas tenho de tratá-la de forma ainda mais especial não quero que fique desiludida comigo!

-Isso era impossível! – Ouviram a voz de Fábio a entrar na sala. –Como é que duas pessoas que amo tanto podiam não gostar uma da outra? Eu tenho um excelente bom gosto! – Sentou-se entre as suas “duas mulheres”.

-Olá filho! – Cumprimentaram-se com dois beijos e um grande abraço. –Estava a conhecer a minha futura nora a tentar ver se marcava uns pontos por ti!

-Não precisa dona Teresa! – Exclamou Rita. –O seu filho não precisa de me conquistar mais, o meu coração é todo dele! – Fábio deu-lhe um beijo na testa. –A nossa relação não se torna mais oficial não é por culpa dele, muito pelo contrário, ele é bestial, é por minha culpa, por acreditar nas pessoas erradas e desconfiar das certas!

-Eu também te dei motivos para desconfiares desde o princípio mas mesmo assim tu soubeste-me dizer que não e pores-me um limite e um travão e eu apaixonei-me por esse teu lado autoritário mas também pelo teu lado carinhoso, a tua relação com a nossa afilhada Di mas também com o teu irmão Pedrito e ainda por cima depois do dia difícil de hoje...

-Também foi difícil para ti, mas o meu irmãozinho está a olhar por ti lá do céu!

-Minha querida, sei que pode ser difícil a morte de um ente querido, mas apesar de não saber se és crente em Deus ou não, mas ele agora está num local melhor, está em paz!

-Não digo que seja fácil porque não é, mas nada é impossível quando a alma não é pequena, como dizia e bem Camões! Eu sei lidar com o que sinto e com a dor que me vai na alma mas o problema vai ser dar a notícia ao meu irmão mais pequenito... Tenho medo da reação dele.

-O Pedrito tem quantos anos querida?

-Seis aninhos. Sei que não tenho de ser eu a dar notícia, mas com a minha mãe está internada no hospital e o meu pai a acompanhá-la e não quero sobrecarregar a minha irmã e o meu cunhado que ainda por cima já têm a minha sobrinha, sobra apenas para mim dizer-lhe.

-O meu conselho para ti, e com experiência visto que este rapaz já teve seis anos. – Sorriu a olhar para o filho. –É ires buscá-lo à escola mais cedo do que é normal e darem-lhe a notícia de forma sincera e direta, depois levam-nos a sítios que ele gosta, como por exemplo ir jantar fora, irem ao parque e mais algumas coisas, vocês de certeza conhecem-no melhor que eu!

-Tem toda a razão do mundo! Fábio então vemo-nos amanhã certo?

-Não Rita, se alguém tem de se afastar sou eu que vim em má altura! – Respondeu a mãe de Fábio.

-Nem pensar nisso mulheres! Vamos os três buscar o Pedrito e dar-lhe um excelente dia! – Concluiu Fábio e com esta ideia de Fábio nenhuma conseguiu recusar, antes pelo contrário, acharam que era o melhor para todos.

-Deixem-me só avisar a minha irmã.

Rita afastou-se um pouco e entrou em contacto com a irmã, avisou-a que iria buscar o irmão e dar-lhe a terrível notícia mas sabia que tinha de o fazer, era o melhor.
Por sorte Fábio já tinha uma cadeirinha para Pedrito no seu carro, por isso foi só entrarem para o carro e seguirem o trajeto até à escola primária do pequeno onde ele estava a ter aulas. Rita acabou por explicar à professora e à funcionária que abrira o portão da escola a razão para ir buscar o irmão e depois de o ter junto de si deu-lhe um enorme beijo e um ainda maior abraço:

-Mana porque me vieste buscar?

-Vamos até ao carro, meu amor.

Quando chegou à porta da escola Pedrito ficou reticente, ao contrário da irmã era um rapaz bastante introvertido e acabou por não se sentir à vontade para cumprimentar a mãe de Fábio. Escondeu-se atrás das pernas da irmã até que ela o apresentou:

-Pedrito. – Olhou para ele. –Não precisas de ter vergonha, senão fosse aquela senhora não havia este rapaz aqui. - Apontou para mãe e filho e Pedrito acabou por ceder, cumprimentou primeiramente Fábio depois a sua mãe.
Caminharam juntos até ao parque infantil que se encontrava nas traseiras da escola primária e sentaram-se no chão, enquanto Fábio e Teresa sentaram-se no banco à frente deles.

-Queres que seja eu? 

-Não, quero ser eu a fazer isto. – Respondeu a Fábio. Fez com que Pedrito se sentasse no seu colo e aconchegou-o.

-Não sei como te dizer isto... Mas aqui vai: O bebézinho que estava na barriga da mãmã já não vai nascer.

-Então mana?

-A mãmã teve um acidente e o bebé morreu.

-Vocês mentiram-me? – Perguntou chocado e magoado.

-Não, meu bem. A mãmã estava grávida mas teve um acidente e o bebé morreu.

-Então o bebé fez mal à mãmã?

-Não, mas a mãe teve um acidente e o bebé não aguentou a dor e foi para o céu. Mas a mãmã está bem.

-Então o bebé estava a fazer mal à mãe e acabou por morrer?

-Não, meu amor. Eles tiveram o acidente, aconteceu, não foi culpa de ninguém e estavam ambos a sofrer e o mano como era boa pessoa e um anjinho decidiu parar o sofrimento e foi para o céu, assim tanto ele como o mãe ficaram em paz.

-E onde está a mãe? E o pai?

-A mãe está no hospital para os médicos tomarem conta da mãe e verem se ela fica bem e o pai está com ela.

-E a mana Ana? E o Rúben e a Di?

-A Diana está na escolinha, ainda é muito pequenina para perceber isto, a Ana e o Rúben estão a acalmar os pais.

-Então já não vou ter de partilhar o quarto? Nem companhia para jogar à bola?

-Tens-me sempre a mim, meu pequeno! – Disse Fábio enquanto pegava em Pedro ao colo.

-Eu queria um mano mais pequenino, tu ganhas-me sempre!

-Na Play Station nem me dás hipóteses! – Disseram a brincar.

-Tu e a mana têm de me dar um primo! – Sorriram.

-Se eu e a tua mana tivermos um bebé não vai ser teu primo mas sim teu sobrinho, como a Di!

-Ah está bem! Queres ir brincar comigo?

-Vamos! – Fábio e Pedro começaram a correr e a brincar enquanto Rita se sentou ao lado de Teresa.

-O pequeno até reagiu melhor do que estava à espera. O teu irmão é muito forte!

-Ele parece muito frágil mas no fundo é muito forte, ainda há pouco tivemos a prova! – Sorriram. – Mas obrigada pelas palavras, fico muito orgulhosa!

-Querida, posso pedir-te um favorzinho?

-Se a puder ajuda, assim o farei, diga.

-Senão te importares gostava de poder falar com a tua mãe e dar-lhe uma palavra de força e apoio, sei que não a conheço mas gostava muito de fazê-lo.

-A minha mãe precisa de todo o apoio e mais algum neste momento por isso agradeço-lhe o gesto, apesar de não saber ao certo como ela vai reagir.

-Minha querida. – Pousou a mão sobre a mão de Rita. –Compreendo e aceito qualquer uma que seja a tua decisão e sei que irás fazer o mais acertado.

-Vou arriscar. – Respondeu respirando fundo. –Mal não irá fazer. Só lhe posso agradecer, conheceu-me hoje e já tem sido mais incansável que outros amigos.

-Querida, faço-o do fundo do coração. Não é por seres amiga e futuramente namorada do meu filho, acredita que não, é porque és uma rapariga com um enorme coração e estás a atravessar um momento difícil e até porque tens de parecer forte, até para manteres a família forte e unida e como tal podes contar com o meu apoio para todos os momentos até quando te sentires mais frágil. – Rita não conteve a emoção e abraçou Teresa.

-Não sei como lhe agradecer por tudo! – Disse emocionada.

-Que é que as minhas princesas estão a falar?

-Meu amor. – Rita falou para Pedrito. –Queres ir ver a mãmã?

-Shim! E será que a mãmã quer ver-me? Ou será que eu vou lembrar o mano que está no céu?

-Pequenito, a mãmã vai ficar surpreendida por ver-te e acredita que vai agradecer-te e encher-te de beijos! – Respondeu Fábio. –Tu vais pôr a mãmã a sorrir não vais?

-Claro que sim! Depois pudemos ir passear na mesma?


-Claro meu tesouro! – Rita deu-lhe um beijo na testa e pegou-lhe ao colo.

Entraram para para o interior do carro e seguiram até ao hospital, mas ao contrário de todos, Fábio ficou na entrada do hospital, Rita estranhou a sua atitude mas nada questionou, talvez ele não estivesse preparado para enfrentar a sua mãe, ela tinha de se recordar que ele nunca vivera na pele uma morte e também para ele estava a ser difícil lidar com todos os sentimentos daquele dia.

-Dona Anabela, eu sei que o Fábio nunca tinha lidado com a morte antes e isso preocupa-me, tenho medo que ele possa estar a esconder o que realmente sente.

-Ele nunca tinha lidado com a morte antes e eu percebo apenas de olhar para ele que a morte do teu irmão o afetou, mas logo fala com ele, obriga-o a desabafar, ele confia em ti e se quiser falar ele assim o fará, ele não consegue guardar aquele que sente durante muito tempo.

-Com todo o respeito... Teresa. – Hesitou. Estava a fazer um esforço para a tratar pelo primeiro nome e não por "dona", antes do seu nome, mas não conseguia deixar de sentir faltar ao respeito. –Dona Teresa, quero eu dizer, mas será que ele não se sentiria mais à vontade para falar consigo?

-Até pode sentir-se à vontade para desabafar comigo, mas infelizmente eu volto ainda hoje para Águeda.

-Esperava que ficasse cá mais tempo...

-Não, hoje consegui ter uma tarde livre e vim, mas amanhã já há trabalho.

-Tenho pena mas espero pela sua visita mais vezes, será recebida da melhor forma possível!

-Obrigada minha querida, e acredita que para a próxima trago o meu marido para te conhecer, ele está ansioso!

-Espero não a ter desiludido e espero não desiludir também o seu marido!

-Não o farás querida!

Depois de aguardarem mais alguns minutos acabaram por entrar no quarto onde estava Maria, que ficou surpreendida por vê-los, mas em simultâneo feliz. Não tinha como esconder a tristeza, apesar do bebé ainda morar no seu ventre, já não era um pequeno ser vivo. Maria estranhou também a ausência de Fábio, afinal o rapaz era como se fosse da família, mas respeitou qualquer uma que fosse a sua decisão, sabia que ele estava a apoiar a filhota que parecia aceitar minimamente bem a notícia, mas no fundo a realidade não era essa. Trocou também alguns dedos de conversa com Teresa, afinal eram “comadres” como gostavam de se apelidar, que também lhe deu alguns conselhos em relação a lidar com esta notícia, nunca tinha vivido na pele mas já havia vivido mortes de familiares próximos e soube dizer as palavras certas, assim como fez Fábio a Rita, mas Maria estava cansada e por isso a visita não durou muito tempo, decidiram deixá-la descansar e saíram do quarto.

-Rita. – Abraçou-lhe Pedro. –O Fábio contou-me o que se passou com o teu irmão e com a tua mãe e vim logo para aqui. – Deu-lhe um beijo na bochecha. –Estou disponível para ti 24 horas por dia e especialmente hoje, vou juntar-me ao Fábio e à mãe dele para te apoiar e ao Pedrito. – Mexeu-lhe no cabelo.

-Obrigada, mas acho que a minha mãe precisa mais de apoio que eu.

-Ambos sabemos que isso não é bem assim. – Disse-lhe ao ouvido. –Tu também precisas de apoio e eu estou aqui para te apoiar.

-E estás disposto a conviver com o Fábio por minha causa?

-Tu vales a pena o esforço. – Respondeu-lhe em sussurro, ainda durante o abraço.

-Rita, posso ir visitar a tua mãe? Gostava de lhe dar uma palavrinha de apoio. - Perguntou Fábio.

-Ela perguntou por ti. – Respondeu. –Ela está cansada mas de certeza que vai gostar de te ver.

-Posso entrar também? Gostava de dar uma palavra à dona Maria. – Perguntou Pedro.

-Claro! A minha mãe vai ficar muito feliz por vos ver! – Respondeu calmamente e ambos acabaram por entrar no quarto onde estava a mãe da amada.

Depois de esperarem alguns minutos, Pedro e Fábio saíram do
quarto e apesar de Rita saber que eles estavam a fazer um
esforço para proporcionarem um bom dia a si e ao meu irmão,
tinha medo que começassem a discutir ou que algo não corresse
bem.

-Meu bem queres ir até onde? – Perguntou Rita fazendo a sua mão deslizar pela face de Pedrito.

-Pudemos ir até à praia mana?

-Pudemos Fábio, Pedro e dona Teresa?

-Sim! – Responderam em coro.

Enquanto Pedro foi no seu carro até casa mudar de roupa, os restantes foram até casa mudar de roupa. Teresa teve de usar emprestado um fato de banho da mãe de Rita, enquanto Pedrito vestiu o seu, Rita experimentou vários diferentes.

-Posso entrar? – Perguntou Fábio vendo a porta encostada.

Rita respondeu que sim enquanto apertava a parte superior do biquíni, bem próximo do pescoço.

-Podes apertar aqui o biquíni senão te importas?

-Claro que não me importo tonta! – Deu-lhe um beijo no pescoço e colocou as mãos sobre a barriga dela, fazendo-a virar-se para si. –Queres saber uma coisa?

-Vou ter de mudar de biquíni, eu sei... – Confessou com a auto-estima em baixo.

-Para mim és e estás perfeita! – Beijaram-se intensamente, como que aquele beijo demonstrasse o amor e a paixão que existia entre eles.

-Mana? – Perguntou Pedrito interrompendo o beijo. –Que estão a fazer? Estão a fazer-me um sobrinho?

Que é que Fábio e Rita irão responder?
Como irá ficar Pedrito? Como correrá o dia na companhia de Pedrito, Anabela e Pedro?