segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Capítulo 42: “A Maria Rita está grávida. De quatro semanas”


-A Maria Rita está grávida. De quatro semanas. - O pequeno mundo de uma jovem adolescente, ou no início da vida adulta, ainda não tinha definido em qual estava, sofreu o maior choque profundo na sua vida, mesmo que ainda curta. Todas as perguntas lhe passaram pela cabeça, até que uma mais forte se ergueu na sua cabeça e percebeu quando tinha acontecido: quando ele a fora visitar a Coimbra, na véspera do dia de Natal, eles fizeram amor e ela tinha-se esquecido de tomar a pílula durante uns dias, e bastou essa irresponsabilidade sua para engravidar. Parecia uma estupidez, mas tinha de perguntar:
-Tem a certeza?
-Sim. - O médico parecia falar com muita calma na sua voz, mas também pressentiu que algo não estava bem da parte da jovem. Sentou-se em cima da cama da rapariga e pousou a mão sobre a sua. - Eu percebo que seja uma notícia difícil de digerir, provavelmente não foi planeada, mas tenho a certeza que independentemente do que faça, a sua escolha será a mais acertada e a melhor para todos.
-Mas doutor, eu tenho 18 anos, estou a uns meses de acabar o secundário, quero ir para a faculdade e sem dúvida que um filho é um sonho que tenho desde pequena... Mas nunca para agora.
-Imagino que seja difícil lidar com esta ideia, mas com o tempo acabará por se acostumar...
-Nunca me vou habituar à ideia de ser mãe tão jovem.
-Eu também dizia isso...
-O que quer dizer com isso?
-Eu fui pai com 18 anos. - Sorriu. - Isto é do menos ético que fiz na minha carreira, mas vou-te dar um conselho pessoal. Pense muito bem no que quer fazer, e fale com o pai do bebé, com a sua família e com o pai do bebé e a família dele, decidam em conjunto o que devem fazer, mas a última decisão e mais importante é sua e do pai do bebé. E não pense que não está preparada, ninguém está preparado para ser pai, é algo que se vai aprendendo com o tempo. E bem, agora é melhor eu ir, que tenho outras pessoas com quem falar e ser um pouco mais profissional.
-Obrigada doutor. - A jovem sorriu e sentiu-se estranhamente mais calma... Não esperava estar grávida, assumira a si mesma. Nunca pensou que bastaria apenas uma vez sem métodos contracetivos para engravidar, mas a vida mais uma vez pregara-lhe uma partida. Sabia que o seu maior sonho era ser mãe, mas será que conseguiria ser a mãe que o seu filho merecia? Respirou fundo, tinha tantas perguntas na sua cabeça e tantos dilemas pela frente que lhe parecia impossível conseguir solucionar todos.
Decidiu então colocar os fones nos ouvidos, e escutar uma canção que em parte se identificava consigo:

"Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

Sei que já deste tempo ao tempo e o tempo não passou
tinhas até um plano mas mesmo assim falhou
E nunca era suposto ter chegado onde onde chegou
Parecia só um enjoo passageiro mas com o tempo piorou
E agora também é tarde para chorar sobre os erros do passado
Olha para o que eu digo, não olhes para o que faço
Se o tempo voltasse atrás na tua adolescência qual escolhias entre os dois,
verdade ou consequência?
Pois bem
Esta é uma nova etapa da tua vida e olha que a realidade é bem como tu dizias
sei que tu ainda és nova e que tudo se transforma e o mundo que nem forma tinha outrora, tudo se reformula agora
Agora és tu e ele, e ele que aí vem, sabes o que é ser filha mas sabes o que é ser mãe?
As consequências que isso tem
e as mudanças que advêm quando amigos já são pais
e pais de amigos já não são ninguém?
Soubeste sempre, eu sei que soubeste sempre
como é que foste pensar que isso contigo iria ser diferente?
Não deste ouvidos nem puseste em questão?
Deste ouvidos aos teus amigos de litrosa na mão? Então...
Agora sabes que era só uma fase
por mais que eu saiba o quanto tu odeias esta frase
e logo agora que me imploravas que isto tudo acabasse,
ainda tens que decidir e está quase.

Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

A partir de agora vão parecer-te miúdos, todos imaturos e os amigos, não é por mal mas não contes com muitos
é uma ida sem volta, queres uma volta sem ida mas se deres a volta à vida, a vida volta?
Hoje vens da escola, o futuro pouco importa, fazes só o que queres fazer e nada te incomoda
São as modas, as drogas, as mocas, as motas, as voltas de microcar, as mensagens com quem trocas
as notas, as faltas, as negas, as falsas justificações de faltas que entregas, da praia e das festas
à noite as discotecas, está escrito na tua testa mas tu negas Vera, eu vejo...

Pegas nas chaves e sais, que não tem nada de mais, que são saídas normais e nada vai além
Eu sei onde é que tu vais e que eles te acham demais, pintas os olhos e sais, e queres enganar quem?
E os teus exames finais, e tu em festivais, e a conversa dos teus pais entra-te e sai-te a cem
Miúda vê onde vais, eles são todos iguais e amanhã quando acordares já não vais ter ninguém.


Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

Agora para um pouco e pensa bem,
4 semanas, vai fazer o teste
Olha à tua volta e pensa bem,
5 semanas, vês o que fizeste?
Olha o teu futuro e pensa bem,
ainda te lembras daquilo que me disseste?
E agora volta atrás e pensa bem... "

(…)

-Posso, meu amor? - Bateu à porta a mãe e entrou devagar, sentou-se na cadeira junto à filha e olhou-a nos olhos e deu-lhe dois beijos. - Filha, o que se passou?
-O médico veio falar comigo.
-E então? O que te disse? - Rita tinha duas opções: ou mentiria e contava que não tinha dito nada de especial, ou contava-lhe que tinha recebido a maior surpresa da sua vida e que tinha um pequeno fruto do seu amor e do Fábio no seio do seu ventre, mas isso também significaria que seria também a primeira pessoa a saber, mesmo antes do pai da criança. Tinha apenas poucos segundos para decidir e acabou por engolir em seco, de seguida, abriu a boca mas as palavras não lhe saíram... Simplesmente não sabia como dizer isto à mãe sem a deixar desgostosa e envergonhada.
-Não consigo dizer-te, mãe. Não sou capaz. - Começou a chorar. A mãe abraçou-a e sussurrou-lhe ao ouvido:

-Meu amor, quero que saibas que aconteça o que acontecer, estarei orgulhosa de ti e do teu lado, nos bons e maus momentos. Sei que queres pedir desculpa pela noite de ontem, mas tu és jovem, tens o direito de querer fazer algo assim, acredita que tanto eu como o teu pai acreditamos que estás arrependida e que não voltarás a fazer, e se apanhares outra bebedeira não chegará a este nível, que terás mais cuidado. Mas ninguém te vai pôr de castigo por causa disto, acredita. - Ela limpou as lágrimas e sorriu.
-O Fábio está cá?
-Sim. Queres falar com ele?
-Gostava muito.
-Só te queria pedir uma coisa, Rita. - A rapariga assentiu. - Ele não está bem. Tenta falar com ele e esclarecer as coisas. São dos casais mais cúmplices, estáveis e bonitos da vossa geração, não desperdicem isso. - Dito isto sorriu e foi-se embora do quarto. Passado poucos minutos, Fábio bateu à porta.
-Posso?
-Queria mesmo falar contigo. - Fábio sentou-se ao lado dela.
-Rita, eu só quero o teu bem, depois temos tempo para falar sobre nós, mas primeiro tens de ter alta e descansar.

-Estou grávida. - Atirou sem pensar e com os olhos fechados com meio da sua reação.
-O quê?
-Se é difícil dizer a primeira vez não me obrigues a dizer a segunda, por favor.
-Rita, eu juro-te que não percebi. Falaste demasiado baixo e demasiado depressa. - Rita baixou a cabeça, perguntando a si mesma onde iria arranjar força para repetir o que tinha dito. Nem ela própria queria acreditar que realmente estava neste “estado” e dizê-lo fazia-o sentir ainda mais na pele e lidar com a nova realidade.
-Estou grávida. - Atirou rapidamente e de olhos fechados. - Agora já percebeste?
-Tens a certeza? - Rita abanou positivamente a cabeça, mas com a cara escondida entre as mãos, mas ouviu com clareza a reação de Fábio, que se levantou da cadeira e aproximou-se dela. A partir daí tudo mudou... Todas as reações que Rita imaginara que ele pudesse ter, foram surpreendidas por algo completamente diferente! Ele abraçou-a!

-Obrigada. Obrigada por fazeres de mim o homem mais feliz do mundo. - Rita ergueu a cabeça e ele deu-lhe um beijo na testa. - Eu sei que nenhum de nós desejou que acontecesse tão cedo, mas não achas que é um sinal? Vamos ser pais, caramba! É a melhor notícia que me poderias dar! - A rapariga olhou para ele e sorriu também. - Eu amo-te! Eu amo-te! - Dito isto esqueceu a zanga do dia anterior e beijou-a. - Mas agora é melhor termos cuidado... Ontem não te magoei, pois não? Eu não sabia, juro!
-Fábio, provavelmente ele é do tamanho de um feijão ou provavelmente mais pequeno que isso, não deu por nada!
-Será que ele já sente algo? - Tocou com a mão fria sobre a barriga de Rita e ela sentiu.
-O bebé pode não sentir mas eu sinto essas tuas mãos geladas na minha barriga quente!
-Desculpa! - Sorriram. - Achas que o consigo ouvir?
Assim que se encostou o seu ouvido à barriga da namorada, foram surpreendidos pela mãe dela juntamente com o pequeno Pedrito que mal se deparou com a situação, e teve de reagir como qualquer criança com tão tenra idade.

-Mana! - Correu até junto da irmã e do cunhado. - Tu e o Fábio vão ter um bebé?
-Rita, o que é que isto significa?
-Nós... Nós acabamos de saber. - Respondeu a medo.
-Foi por isso que pediste para o chamar? Querias contar-lhe?
-Sim. - Respondeu escondida nos braços de Fábio. - Eu queria que ele fosse o primeiro a saber.
-E já decidiram o que vão fazer?
Pedrito subiu para o cimo da cama da irmã e colocou a mão em cima da barriga da irmã.
-É menino ou menina? - Perguntou ingenuinamente Pedrinho.
-Vai lá para fora, filho.
-Mas mãe...
-Pedrinho, por favor, faz o que a mãe diz. - Pediu Fábio e o rapaz obedeceu.
-Tu não tomas a pílula?
-Sim, mas esqueci-me durante uns dias e pronto, aconteceu.
-Deviam ter tido mais cuidado, sabiam que isto poderia acontecer.
-Sim, mas se aconteceu é por algum motivo, e ainda vamos descobrir qual.
-Pensem bem antes de tomar qualquer decisão. - Pediu pacificamente. - Falo por experiência própria. Não vou querer tomar nenhuma decisão por vocês mas posso ajudar-vos.

-Obrigada mãe. - A mãe abraçou filha e genro em simultâneo e Rita deitou uma lágrima teimosa. - As hormonas estão a dar sinais de vida!
-Prepara-te, a gravidez mexe nas hormonas todas, e tu nem dás por isso!
-Vou tentar habituar-me à ideia.
-E meninos, antes de tomarem alguma decisão, façam as pazes! - Piscou o olho à filha e saiu do quarto sem lhe dar tempo de responder.
-Como é que a minha mãe sabe, Fábio Rafael?!
-Que ontem nos chateamos.
-Diz antes que fui a pessoa mais egoísta e parva do mundo.
-Já passou meu amor. - Acalmou. - Claro que me custou um bocadinho tudo o que se passou, porque podíamos ter resolvido tudo a falar, invés de termos as atitudes que tivemos, mas, também somos jovens, vamos cair, aprender e levantar-nos com as quedas, aprender com os nossos erros. E vamos fortalecer a nossa relação com o tempo e com tudo isto. Até porque agora nós somos mais que dois, agora é uma relação a três. - Pousou a mão em cima da camisola dela. - E só depois de saíres do hospital é que vamos conversar sobre o que queremos, devemos e vamos fazer, até lá, vais estar em descanso absoluto, pode ser? - Ela sorriu. Fábio era a sua metade, a pessoa que a completava e que iria ser o pai do seu filho... Sempre acreditaram que tudo acontecia por algum motivo, mas porquê naquele momento da sua vida? Iria descobrir com o tempo, estava certa!
-Posso pedir-te uma coisa?
-Tudo o que quiseres.
-Gostava que se chamasse Bernardo ou Clara, para honrar o meu falecido irmão.
-Nem tinha lógica ser de outra forma. - Deu-lhe um beijo na testa. - Quero cantar-te uma música que acho que nos descreve um pouco.

"(Even if we can't find heaven) (Mesmo se não conseguirmos encontrar o céu)

Hands (Mãos)
Put your empty hands in mine (Põe as tuas mãos vazias nas minhas)
And scars (E cicatrizes)
Show me all the scars you hide (E mostra-me todas as tuas cicatrizes que tens)
And hey, if your wings are broken (E olha, se as tuas asas tiverem partidas)
Please take mine so yours (Por favor, leva as minhas para que as tuas)
Can open too (Possam abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Oh, tears make a lot of sculps in your eyes (Oh, lágrimas fazem muitas marcas nos teus olhos)
And hurt, I know you're hurting, but so am I (E dói, eu sei que estás a sofrer, mas eu também estou)
And love, if your wings are broken (E amor, se as tuas asas tiverem partidas)
Borrow mine so yours (Vou emprestar-te as minhas para que as tuas)
Can open too (Possam abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Even if we're breaking down (Mesmo se entrarmos em colapso)
We can find a way to break through (E não conseguimos encontrar uma forma de acabar)
Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'll walk through hell with you (Vou andar pelo inferno contigo)
Love, you're not alone (Amor, não estás sozinho)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'm gonna stand by you (Eu vou manter-me ao teu lado)
Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'll walk through hell with you (Vou andar pelo inferno contigo)
Love, you're not alone (Amor, não estás sozinho)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-me ao teu lado)

Yeah, you're all I never knew I needed (Tu és tudo o que eu nunca pensei precisar)
And the hurt, sometimes it's unclear why it's bleeding (E a dor, às vezes não é clara porque está a sangrar)
And love, if your wings are broken (E amor, se as tuas asas estiverem partidas)
We can brave through those emotions too (Nós conseguimos encarar estas emoções também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-me ao teu lado)

Oh, truth, I guess truth is what you believe in (Oh verdade, eu acho que a verdade é aquilo em que acreditamos)
And faith, I think faith is helping to reason (E fé, eu penso que fé é ajuda por alguma razão)
Not, not, not, love, if your wings are broken (No, no, no, mãe, se as tuas asas estiverem partidas)
Borrow mine so yours (Vou emprestar-te as minhas para que as tuas)
Can open too (Puderem abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-te a teu lado)"

-Sempre juntos?
-Para sempre? - Perguntou ela.
-Sim. Quero revelar-te.
-Quem é a ordinária?
-Hum? - Perguntou confuso.
-Estava a brincar contigo. - Sorriu. -Mas diz.
-Eu e tu temos longas conversas enquanto dormes.
-Fábio, eu não estou bem a dormir na realidade... Estou na fase sonâmbula e digo coisas que na verdade não diria se estivesse realmente acordada, mas lembro-me de tudo no dia seguinte. Já tu...
-Eu?
-Eu falo contigo enquanto dormes e tu respondes.
-A sério? Eu pensava que não era sonâmbulo...
-Acredita, és das pessoas mais sonâmbulas que conheço! Tu falas imenso enquanto dormes, falas com os teus sonhos e reages às vezes. Eu acordo de vez em quando e faço-te perguntas e tu esqueces completamente o teu sonho e respondes-me. Bem no início, eu tinha medo e receio que não gostasses realmente de mim e eu tive a certeza que sim, que gostavas, quando me respondeste a dormir, mesmo que nos teus sonhos, eu lá estivesse!

-Se tu soubesses a quantidade de vezes que sonhei contigo, ficarias surpreendida, ou melhor, não ficarias porque não seria surpresa.
-Nós namoramos à 3 meses e de todas as vezes que dormimos juntos não me lembro de uma em que não sonhaste comigo.
-Eu não sei porque sonho se posso realizar tudo contigo.
-Podes realizar o sonho de ires para o casamento já com filhos.
-E se eu me quiser casar antes desde bebé nascer?
-Que eu me lembre para um casamento é necessário que existam dois “sim”. E sinceramente tu queres casar-te com 20 anos? Isto é se te quiseres casar depois de Abril, senão terias 19 anos e eu 18.
-Eu sei que é demasiado cedo mas não é o passo certo para constituirmos família?
-E precisas de casar-te para seres uma família?
-Não é isso que estou a dizer-te. Mas seria sem dúvida o próximo passo a dar para ficarmos completos.
-Um filho hoje em dia é um compromisso maior que um casamento, porque enquanto os casamentos rapidamente se desfazem, um filho não. Um filho é a prova que estaremos unidos para o resto da nossa vida.
-Claro que eu não estava a pensar casar-me para já, mas depois do nascimento do bebé, não me parece que seja uma ideia tão longínqua quanto seria ontem.

-Não quero casar-me porque estou grávida, passaria a vida a perguntar-me se estarias comigo por amor ou porque queres o melhor para o bebé, não, isso não acontecerá Fábio. Eu não quero isso nem para mim, nem para nós, nem para este bebé. E temos ainda de pensar no que fazer, temos tantas opções em cima da mesa, temos de optar por algo, e isso tem prioridade em relação a qualquer outro casamento ou qualquer outra ideia.
-Bebé, eu só quero que penses noutras opções.
-Este bebé é a nossa maior opção e prioridade, neste momento. Eu amo-te mas é cedo demais.
-Estás a recusar o meu pedido de casamento? - Fingiu-se chocado e a brincar.
-Isto foi um pedido de casamento? Se sim, foi o pior que vi até hoje!
-Estava apenas a trocar ideias e talvez concordasses em casar-te, melhor dizendo, estava a apalpar terreno!

-Não sejas fresco que senão corres o risco de ficar mas é a pão e água!
-Não me resistias muito tempo!
-Talvez tenhas razão ou talvez não, quem sabe? - De repente o ambiente mudou e ambos suspiraram. - Achas que vou ser uma boa mãe? E que vou ficar muito inchada?
-Acho que vais ter um peito irresistível e que eu dificilmente vou resistir a adormecer por lá!
-Fábio, eu estou a falar a sério.
-Rita, eu conheço-te. - Encostou as suas mãos nas dela. - Sei quando dizes uma coisa mas no fundo queres dizer o contrário, sei interpretar os teus barulhos e os teus silêncios, sei, porque te conheço, bem, mesmo que te assuste pensar que isto é verdade. E eu só não te digo o que tu queres ouvir porque eu quero que reveles o que sentes, sem eu precisar falar, quero que tenhas um completo à vontade comigo como não tens, nem tiveste com mais ninguém. Claro que é cedo porque a nossa relação ainda parece muito precoce, temos apenas 3 meses de namoro, mas nós, alguma vez, seguimos as regras ditas normais? Alguma vez fomos ao ritmo de alguém? Nós somos nós, apenas e só. Acho que sermos completamente sinceros um com o outro e falarmos sobre tudo vai fazer esta relação manter-se e fortalecer-se.

-Eu confio em ti, mas nunca vou conseguir abrir-me completamente em relação ao que sinto e penso, tenho medo de te magoar, de te desiludir. Sou demasiado pensativa, sabes? E isso vai-me sempre impedir de ser completamente feliz alguma vez! Eu estou grávida... É o meu maior sonho desde sempre! E sabes o que penso? Se serei boa mãe, ou se serei uma boa matriarca da família, se este bebé me vai levar tantas energias que vou abdicando de ti e da nossa relação. - Fábio sentou-se na cama e abraçou-a.
-Vamos fazer um acordo, sim? - Ela abanou a cabeça afirmativamente. - Vais descansar e evitar pensar no assunto enquanto aqui estiveres, quando tivermos alta falamos pode ser? Sei que vai ser difícil não pensares em todas essas questões na tua cabeça que não te vão deixar escutar o coração direitinho, mas tenta desfrutar apenas deste bebé sim? Eu vou deixar tudo prontinho em casa para te receber quando tiveres alta, pode ser?
-Sabes que os meus pais devem querer-me por casa, não sabes?
-Claro que sim, mas depois deles te estragarem de mimos, estrago eu, afinal já não à nada que te possa fazer que não tenha feito.
-E se eles me fizerem perguntas por causa da gravidez?
-Dizes que ainda não falamos sobre isso, pode ser?

-Combinado! - Deram um “passou-bem”. - Trouxeste alguma coisa para mim, ou vou ter que ficar a reclamar contigo e contar aos teus filhos que fizemos as pazes, me vieste ver ao hospital e que descobrimos que estava grávida e tu não me trouxeste nada?
-Tenho eternamente o poder de deixar o melhor para o fim. - Tirou as gomas do bolso traseiro das calças.
-É suposto eu comer isso?
-Se quiseres como eu, não me importo nada, sabes disso?
-Deixa estar que eu faço o esforço. - Mesmo estando à vista as gomas na mão de Fábio, Rita decidiu ser mais atrevida e colocar a mão no seu rabo e apalpar. - Onde estão mesmo?
-E aposto que a ideia dos teus pais é que eu é que sou o atrevido desta relação!
-Pobres criaturas ingénuas! - Exclamou sorrindo. - Onde estão as gomas mesmo? - Roubou-lhe o pacote da mão e tirou uma goma e colocou na boca, depois de alguns segundos, Fábio deu-lhe um beijo e roubou-lhe a goma.

-Cá se fazem cá se pagam. - Ambos se riram. - Eu agora tenho de ir andado porque os teus pais ainda têm de te ver e falar com os médicos, sim?
-Tens mesmo de ir? Está tanto frio, podíamos ficar aqui a dormir e fazias conchinha comigo. - Fez beicinho.
-Espero bem que o nosso filho não herde isso porque seria difícil dizer-lhe que não.
-Isso quer dizer que sim?
-Quer dizer que te estou a resistir mas que ainda hoje volto. - Deu-lhe um beijo na testa. - E antes que me esqueça e porque sei que adoras uma Margarida simples. - Abriu a porta do quarto e agarrou numa única flor que tinha deixado escondida. - Aqui tens. - Rita sorriu e ele deu-lhe um beijo. - O melhor fica sempre para o fim. Amo-te.
-Também te amo muito. - A rapariga sorriu como uma adolescente apaixonada e feliz e depois de ouvir aquele amo-te esqueceu-se pela primeira vez desde que soubera que estava grávida e imaginou-se apenas com Fábio, os dois sozinhos e felizes como sempre e como nunca.

Será que Rita vai cumprir o acordo?
Que surpresa estará a preparar Fábio? Será que vão seguir com a gravidez para a frente?