quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Capítulo 25: “Por mais longe que estejam, os que mais gostamos estão sempre perto do coração”


Rita não reagiu. O seu sorriso desaparecera mas dera lugar a uma indecifrável reacção, nenhuma lágrima rolou pela sua face e nem deu voz a uma única palavra, estava pálida e ficara branca como cal. Aquela (falta de) reacção assustava Fábio, nunca vivera na pele a morte de alguém de quem era próximo e não sabia o que fazer, acabara também de descobrir o sentimento e não conseguia traduzi-lo. Aquele pequeno feto não era da sua família, mas Fábio sentia-se próximo dele, era como um sobrinho que não tinha, como um pequeno irmão que os pais não lhe deram a oportunidade de ter, e aquelas emoções eram indecifráveis... Era uma perda e como sempre lhe disseram as perdas nunca são fáceis de lidar. Mas ia esconder os sentimentos e os pensamentos para poder tranquilizar Rita, ela precisava dele e da sua amizade, mais do que nunca e ele tinha de ser forte por ambos, ele era mais do que nunca, o seu apoio e a sua força. Ele tentando, transmitir forças sem falar, apertou-lhe a mão mas ela não lhe reagiu. Rita nada fazia, estava branca como cal e nada mais poderia fazer Fábio além de esperar.
Luís, sem energias caiu no chão e assim ficou chorando compulsivamente, ele acabara de perder um filho. Um filho que apesar de ainda estar no ventre da mãe não deixaria de ser o seu pequeno bebé, aquele bebé era a esperança da família Madeira, era ele que tinha unido os pais e tal como um anjo depois de fazer o seu objectivo predominante na Terra, aceitou o seu destino tranquilamente e foi para o céu. Ana tentava fazer com que o pai controlasse as suas lágrimas mas ela própria sabia que depois de os deixar iria chorar aquela perda, nunca reagira bem a mortes e daquela vez tentava como sempre, e como reagira Rita, ser forte. O cunhado, Miguel tentava juntamente com a esposa, Diana oferecer apoio ao sogro mas sabiam que por muitas palavras que dissessem nunca iriam ajudar o suficiente para ele parar de chorar, apenas com o tempo iria aceitar a perda do filho.

Fábio sentiu a sua mão a ficar apertada, Rita começava a reagir, olhou para ela e a sua respiração estava descontrolada, sentiu-se preocupado e falou com ela tentando entender o que se passava ao certo para poder ajudá-la:

-Pequena, que tens? – Ela nada respondera, parecia que a respiração estava a escassear e ele pegou nela ao colo e levou para o exterior do hospital. Pousou-a no chão e com as mãos tentou dar-lhe ar, talvez assim ela recuperasse, passado alguns minutos a respiração acalmou e ele conseguiu perguntar. –Estás melhor Rita?

Rita abanou positivamente a cabeça, mas no fundo sentia-se sufocar com aquela notícia. Por sua culpa tinha perdido o irmão. A mãe tinha-lhe oferecido boleia até à escola e ela recusara. Se tivesse aceite, a mãe atrasar-se-ia a sair de casa e o acidente não teria ocorrido. Sentia-se culpada e essa dor feri-a mais do que a dor de perder o irmão. Fábio apertou-lhe a mão e ela retribuiu, e pela primeira vez olhou-o nos olhos... Ele assustou-se, os seus olhos estavam secos e demonstravam uma expressão assustadora, parecia que o brilho que existia sempre no olhar dela desaparecera, que a sua alegria tivesse desaparecido com a notícia e ele sentia-se impotente por não saber o que fazer, amava-a mas tinha medo de não ter a atitude adequada para ela, que as suas atitudes não demonstrassem o que realmente sentia por ela e que não fosse a pessoa que ela precisasse neste momento tão difícil.

-Fábio, posso pedir-te um favor? – Disse Rúben aproximando-se deles.

-Sim, claro diga-me. – Perguntou Fábio sem nunca afastar a sua mão da de Rita, tentando tranquilizá-la com aquele pequeno gesto.

-Estive a falar com a Ana e com o senhor Luís e este ambiente não faz nada bem à Ritinha... E além do mais não iria ficar cá a fazer nada. Não te importes de a levares a passear para arejar? – Fábio olhou para Rita como que perguntando a sua opinião, ela não respondera com nenhum gesto apenas olhou para ele e conseguiu decidir através daquela pequena troca de olhares.

-Claro que não, talvez assim também a ajude a reagir..

-Obrigado. Em meu nome e em nome desta família, obrigado por estares aqui e pelo que tens vindo a fazer e estás a fazer pela nossa pequena.

-Obrigado eu por me terem dado a sorte de conhecer a Ritinha e por ter-vos a todos, sem excepção, na minha vida.
Fábio agarrou na cintura de Rita e fê-la levantar-se do chão onde estava sentada, ela levantou-se a muito custo e seguiram até ao carro dele. Ele colocou-lhe o cinto e de seguida sentou-se no volante, mas antes disse:

-Não é fácil para ti e acredita quando te digo que também não o é para mim, mas se o teu irmão sobrevivesse, provavelmente tanto ele como a tua mãe estariam em sofrimento e assim estão ambos em paz, sei que custa ouvir mas talvez assim seja o melhor para ambos.

-Não sei lidar com este sentimento... – Pela primeira vez desde que souberam a notícia, Fábio conseguira ver uma reação em Rita. –É o sentimento de impotência, de culpa, o sentimento de perda e de revolta. É o meu irmão... Não posso simplesmente perdê-lo como do dia para a noite. – Escondeu a cara com as mãos.

-Ritinha. – Colocou a mão sobre a saia dela. – Sabes qual é a melhor cura para as tristezas? Baldes de gelado, pacotes de gomas e bolos, muitos, muitos bolos!

Rita sorriu e foi quanto bastou para ele ligar o carro e começar a seguir o seu caminho mas em vez de seguir o seu caminho para casa, fez um pequeno desvio, o que foi o suficiente para ela perguntar:

-Vamos onde pequeno?

-Sou enorme fica sabendo? – Disse sorrindo. –Um jogador da bola não pode ter tantas porcarias dessas em casa, vamos ás compras!

-Até parece que não tens vários tipos de gomas em casa.

-Eu compro vários pacotes e estilos de gomas mas elas durarem lá em casa sabes que não é verdade.
Fábio estacionou o carro na garagem daquele centro comercial e saíram do interior do carro e ele aproximou-se dela e cruzaram os seus dedos e começaram a percorrer o caminho até ao supermercado.

-Olá Fábio, à quanto tempo não te via! Que andas a fazer tão bem acompanhado? – Perguntou um rapaz com quem se cruzaram no corredor daquele centro comercial.

-Olá Daniel, não tenho andado muito por aqui, tenho mais ficado em casa com a minha namorada. Rita é o Daniel, Daniel é a Rita.

-Boa tarde. – Cumprimentou Rita afastando os potenciais dois beijos que Daniel queria trocar.

-Estão juntos há muito tempo?

-Sim, há algum.

-Então têm passado muito tempo em casa, vê lá se não tens algum percalço...

-Daniel, podes estar descansado que se acontecer alguma coisa não te irei pedir nada. – Respondeu Fábio, enquanto Rita sentia-se incomodada com a presença daquele rapaz e com as perguntas feias que ele fazia, acabaram por se despedir e continuar o seu percurso. –Desculpa Rita, não queria que conhecesses este tipo de pessoas, que já considerei amigos. Eu era uma pessoa diferente, e tudo o que eu era mudou, desde que te conheci que sou diferente.

-Eu não fiz com que tu mudasses, tu é que o quiseste fazer. – Respondeu serena. –Tu arranjaste em mim mais que uma amiga, arranjaste em mim um amor.

-E quero estar contigo para sempre, sou feliz contigo a meu lado e acho que não conseguiria já viver sem ti.

-Claro que conseguirias, tu viveste sem mim dezanove anos, conseguirias viver ainda mais.

-Eu sobrevivi sem ti, viver só aprendi a teu lado.
Pela primeira vez, Rita olhou para ele e tomou coragem para o beijar, estava apaixonada e já não haveria dúvidas, mas não conseguia iniciar uma relação com ele, tinha medo que Fábio se deixasse “encantar” por outra rapariga, ainda estava magoada com o que Tiago lhe tinha feito, precisava de tempo para o conseguir dizer, mas iria fazê-lo, eles sabiam.
Foram até ao supermercado e compraram os mais variados doces, vários pacotes de gomas, de pipocas e de bolos e foram até à caixa, e o primeiro olhar que a rapariga da caixa fez a Fábio incomodou-a bastante e olhou-a de volta.

-Olá Fábio. – Disse a rapariga.

-Olá Filipa. – Respondeu ele, enquanto Rita o olhava.

-Como estás?

-Estou bem, obrigada. – Respondeu de forma seca.

-Também estou bem, obrigada. – Disse apesar dele não ter devolvido a preocupação. –Eu liguei-te e mandei mensagem e tu nem respondeste, desapareceste.

-Talvez porque não queria que me incomodasses. – Rita olhou para ele surpreendida com a forma com que ele falara.

-Credo Fábio, tu não eras assim! Fiz-te alguma coisa?

-Filipa esquece tudo o que se passou, eu fiz o mesmo. – Deu-lhe algum dinheiro e virou costas e foi embora. –Podes ficar com o troco.

-O que se passou entre ti e esta rapariga? Vocês já se tinham envolvido não já?

-Sim, curtimos à uns meses mas eu acabei tudo mas pelos vistos ela não percebeu.

-E porque não o quiseste fazer?

-Estou bem e feliz contigo, meu bem. É a ti que te amo. – Deu-lhe um beijo na testa e continuaram o caminho de mãos dadas.
Quando chegaram a casa Rita já tinha aberto um pacote de gomas e tinha partilhado com Fábio e já o tinham acabado, decidiram que o melhor era irem até casa dele e sentaram-se em cima da cama rodeados de todas as guloseimas que haviam comprado. Fábio abriu as pernas e Rita sentou-se entre elas e pousou a cabeça e a mão direita sobre o seu peito.

-Ritinha. – Ela ergueu a cabeça e olhou para ele. –Sei que amavas este pequeno bebé como amas o Pedrito e a Ana e que esta perda te abalou muito e gostava de saber o que te dizer, mas não imagino qual é a dor de perder alguém que amamos e por isso não sei, e imagino que não haja palavras que te façam animar ou que te possam ajudar a ultrapassar. Tu és forte, muito forte, mais do que pensas e já ultrapassaste muitas dificuldades e com sucesso, e não quero que te chateias com o que vou dizer mas que tentes compreender. Não quero que te sintas culpada pelo que aconteceu, porque nunca o serias, se existe um culpado sou eu. – Rita queria interrompê-lo para o defender mas entendeu que existia uma explicação para o que ele dizia. –Talvez o teu irmão pequenito fosse um anjo da guarda que tinha apenas como objectivo vir à Terra para reunir novamente a família Madeira e depois de cumprir a sua missão acabou por partir, ele está em paz neste momento. Se ele tivesse ficado aqui, provavelmente estaria em sofrimento assim como a tua mãe, e mesmo na hora da morte foi caridoso, porque para a tua mãe não ficar em sofrimento decidiu partir e ficarem ambos bem. Por mais longe que ele esteja, os que mais gostamos estão sempre perto do coração, como me ensinou e bem a minha mãe e é com esse ensinamento que quero que penses. O Bernas ou a Clarinha estão agora a olhar por vocês no céu e vai sempre torcer por vocês e a ajudar todos os que gostam dele lá do céu. – Rita chorava imenso ouvindo as palavras que Fábio dissera, talvez ele tivesse razão e tinha de aceitar, em paz, aquelas palavras e encarar a realidade. Se o irmão tivesse sobrevivido, tanto ele como a mãe estariam em sofrimento e assim estariam ambos em paz.

-Nem tenho palavras para te agradecer... – Hesitou. –Tu nunca passaste a dor de perder alguém que amas mas soubeste exactamente as palavras certas para me dizer, para tranquilizares o meu coração. Além de seres o meu amor, és o meu melhor amigo. – Deu-lhe um abraço apertado. -Sei que a mim me magoa e vai magoar sempre um bocadinho, mas ao Pedrito vai custar imenso. Ele já estava a pensar partilhar o quarto com ele, jogarem futebol, ele tinha os planos todos pensados e agora não vai poder cumpri-los, porque o irmão simplesmente agora é um anjo.

-Nos próximos tempos, tu e a tua irmã vão assumir um papel ainda mais importante na vida do Pedrito, porque os teus pais vão precisar de aceitar tudo, mas vocês não estão sozinhas, têm a mim e ao Rúben.

-Adoro-te! – Abraçou-o com força. –Obrigada por estares aqui e por estares na minha vida. – Aconchegou-se no peito dele e permaneceram em silêncio durante uns segundos. –Sei que ás vezes não demonstro o quanto gosto de ti, mas eu adoro-te. Do fundo do meu coração. Só que eu ainda me sinto insegura. O Tiago magoou-me muito, ele desiludiu-me e destruiu-me o coração e tu ajudaste-me a recuperar, é verdade, mas só com o tempo vou perdoar o que ele fez e aceitar. Só te peço para me dares tempo, por favor. – Fábio beijou-a na testa.

-Ritinha, meu bem, eu vou dar-te todo o tempo que quiseres e precisares. O que o Tiago te fez foi mau demais mas o mal que ele te fez, eu vou-te dar em duplicado, porque o que sinto por ti é mais que uma amizade, é um amor. Eu amo-te. – Ela sorriu e beijou-o, apesar dela não dizer que o sentimento era recíproco ele sentiu-o e isso era o mais importante. Encostou a cabeça no peito dele e adormeceram pouco depois. Tinha sido um dia cansativo e cheio de emoções e ainda tinham de arranjar forças para dar a notícia ao pequeno Pedrito e precisavam das palavras certas para lho dizer.

(Passado algumas horas)
Rita acordou com o som da campainha a tocar, queria acordar Fábio afinal a casa também era dele mas o instinto fê-la acordar e ir abrir a porta. Espreitou pelo buraco da porta e era uma senhora. Não a reconhecia mas também não lhe causou ciúmes. Era uma senhora de meia idade, talvez uma tia dele, não sabia. Hesitou, talvez devesse ir acordar Fábio e ele abrisse a porta mas até então ela iria embora. Abriu a porta e cumprimentou com as boas-vindas.

-Boa tarde. – Disse claramente envergonhada.

-Boa tarde querida. Posso entrar?

-A casa não é minha... E o Fábio está a dormir. Pode-me dizer quem é?

-Teresa Antunes, mãe do Fábio. – Rita, não sorrira naquele dia e depois de ouvir as palavras “mãe do Fábio” gelou, tinha conhecido a mãe do seu melhor amigo e do seu futuro namorado e não sabia o que fazer.

Como se irá desenrascar Rita?
Como correrá o encontro com a mãe de Fábio? E como irão contar a notícia a Pedrito?

domingo, 30 de novembro de 2014

Capítulo 24 “Eu também gosto dele. O problema é esse.”


-Fábio rápido, esconde-te debaixo da cama. – O rapaz baixou-se e encolheu-se para se esconder debaixo da cama.

-Rita já estás acordada? – Perguntou o pai da jovem entrando no quarto e por segundos não se cruzou com o futuro genro.

-Sim pai. O despertador decidiu tocar mais cedo. Como estás?

-Estou bem e tu? Que é que fazes com essa roupa?

-Foi o Fábio que me deu pelos anos.

-A sério? E porque te deu uma roupa dele?

-Porque lhe disse que gosto de dormir com roupas de rapazes e me sinto super confortável. E ele decidiu dar-me esta roupa.

-Ah está bem, mas não tiveste calor com isso?

-Não, até dormi bastante confortável.

-Então despacha-te para teres boleia.

-Pai, estou cansada por causa de ontem. Posso ficar a dormir mais um bocadinho e depois vou para a escola?

-Podes, mas não é para ficares todo o dia na cama! Só faltas ás primeiras duas aulas! Queres que te venha buscar para te levar à escola ou vais de mota ou a pé?

-Vou bem a pé, descansa.

-Tens a certeza? E o teu pé?

-Estou recuperada senão o médico não me tinha deixado andar sem muletas não achas pai?

-Sim. Tens razão. – Sorriram. –Mas é melhor ires de mota, para não esforçares demasiado o pé. E senão te sentires á vontade liga-me e eu levo-te á escola.

-Se o pé me tiver a doer, vou tocar ao Fábio e ele leva-me descansa.

-Deixa lá o pobre rapaz descansar que ontem o jogo deve ter sido difícil e cansativo.

-Pronto, eu não o chateio! – Sorriram. –Vou dormir mais um bocadinho. Até logo pai! – Deu-lhe um beijo e voltou a deitar-se na cama. O pai saiu do quarto e ela sussurrou. –Fábio, deixa-te estar aí escondidinho que a minha mãe e o meu irmão ainda são capazes de cá vir. – Pedrito entrou no quarto.

-Oh mana estavas a falar com quem?

-Estava a pensar em voz alta, meu amor. – Pedro aproximou-se da irmã e deu-lhe um beijinho.

-Logo vais-me buscar à escola com o Fábio?

-Não sei se vou estar com o Fábio hoje à tarde Pedrito. Ele também precisa de descansar do jogo de ontem e de mim.

-Vá lá mana!

-Está bem meu amor. Mas agora vai lá para a escola para não chegares atrasado.

-E tu não vais para a escola hoje mana?

-Vou, mas vou daqui a um bocadinho, vou descansar mais um pouquinho.

-Está bem! Mas vai pedir ao Fábio para te levar á escola por causa do pé!

-Está bem, está bem meu bem. – Deu-lhe um beijo na bochecha. –E se ele não me quiser levar?

-Diz-lhe que eu mandei ele levar-te. – Pedrito deu-lhe um beijo na bochecha e foi-se embora do quarto.

-Já viste isto? Um fedelho com 6 anos a pensar que manda em ti!

-Na Play Station ele manda em nós!

-Fala por ti menino! Anteontem joguei com ele e ganhei-lhe!

-Tu ganhaste ao Pedrito? – Tirou a cabeça de debaixo da cama e olhou para Rita. –Tens a certeza que não estavas a sonhar?

-Sinceramente não sei. – Pousou a mão sobre o queixo pensativa. Ouviu-se alguns passos sobre o corredor e Fábio voltou a esconder-se.

-Filha deixei-te o batido em cima da bancada, e um lanchinho para meio da manhã. Descansa mais um bocadinho e depois vai beber, não quero que vás para a escola sem nada no estômago, muito menos agora que ainda estás fraca por causa do pé.

-Mãe, já estou recuperada do pé, descansa.

-Uma mãe está sempre preocupada, ainda para mais grávida. Não vás para a escola a pé, deixei-te algum dinheiro ao pé do batido, vai de autocarro ou de táxi. Sim, para não incomodares o teu motorista particular, Fábio.

-Sou uma pessoa privilegiada por ter um motorista particular tão bonito não achas mãe? – Sorriu, lembrando-se certamente que ele estava encolhido e devia de estar pouco confortável debaixo da cama, escondido. Mas sabia que ele iria sorrir com a clara provocação dela.

-Na minha opinião é mais bonito por dentro que por fora. Filha, ele gosta realmente de ti, não o magoes.

-Não o vou fazer mãe, prometo.

-No fundo tu também gostas dele, não gostas? – Rita respirou fundo ganhando coragem para responder, era a primeira vez que o diria em voz alta e queria declarar-se com as palavras certas.

-Sim mãe, eu também gosto dele. O problema é esse.

-Filha, gostar nunca é um problema. É uma bênção alguém gostar de ti e o sentimento ser recíproco, principalmente quando essa pessoa é bem formada, bem-educada e boa pessoa. Se tens medos e receios fala com ele, porque pode existir esse sentimento mas vocês são amigos e ele vai ajudar-te a ultrapassá-los.

-Obrigada mãe! – Rita abraçou a mãe e pousou a mão sobre a barriga dela. –E tu maninho quando saltares cá para fora vais ter o prazer de conhecer o teu grande amigo.

-E futuro cunhado. – Acrescentou. Rita beijou a barriga da mãe e deu-lhe mais um abraço.

-Quem sabe mãe... – Despediram-se e Maria saiu do quarto, e milésimos de segundo depois Fábio saiu da cama e colocou-se de pé, olhou para Rita com os olhos a brilhar como o sol que irradiava o céu.

-Tu gostas de mim Rita... – Ela levantou-se da cama e colocou-se frente a frente a Fábio, e pela primeira vez quem tomou iniciativa foi ela, que o beijou. Um beijo que apesar de diferente dos anteriores transmitia todos os sentimentos que os unia: amor, respeito, carinho e sinceridade.

-Sim Fábio, eu gosto de ti. Mas não quer dizer nada, as coisas não são assim tão fáceis.

-Se tu gostas de mim e eu de ti, porque não te posso chamar de minha namorada?

-Como é que queres que namore contigo se morro de ciúmes só de pensar que as raparigas falam contigo? E que ainda te pedem a camisola? E começam a ver o jogo e começam a babar-se para cima de ti? Além do mais como é que sei que não lhes dás trela?

-Elas podem ver mas só tu podes tocar. – Trocaram um beijo curto e cruzaram os dedos. –E eu sei separar as minhas verdadeiras fãs, das interesseiras. E além do mais tenho a certeza que senão as conseguir meter na linha tu irás pôr!

-E se algum dia tu fores transferido para outro clube longe? O que vou fazer?

-Não irei tomar decisão nenhuma sem te consultar. Mas é bom saber que já estás a pensar no nosso futuro. – Fábio sorriu mas Rita não conseguiu desfrutar do momento da mesma forma, a sua indecisão não a deixava viver em plena felicidade.

-Claro, quando entro numa relação é para valer, para o que der e vier. Vamos dar tempo ao tempo pode ser? Não precisamos de pôr rótulos em nada.

-Tenho medo que me esqueças durante esse tempo. – Confessou ele cabisbaixo.

-Tu moras mesmo ao meu lado como queres que te esqueça? – Sorriram. –Digo isto a brincar mas não te conseguia esquecer nem que morasses no Algarve. Quero apenas tempo para pensar. Mas acho que os teus beijos me vão ajudar. – Fábio não precisou de ouvir mais nada, beijou-a carinhosamente como sempre fazia.

Acabaram por trocar mais uns carinhos e enquanto Fábio foi tomar banho e vestir-se, Rita acabou por fazer o mesmo, cada um em sua casa. Ela tinha de ir para a escola e Fábio oferecera-se para a levar até lá. Tomaram o pequeno-almoço juntos e ele acabou por levá-la até á escola, apesar da insistência dela que não seria necessário, tal como a restante família dela, também ele ainda estava preocupado com o seu pé. Embora o médico já o tivesse dado como curado.

"Estas semanas sin verte
Me parecieron años
Tanto te quise besar
que me duelen los labios



Mira que el miedo nos hizo
cometer estupideces
Nos dejo sordos y ciegos
Tantas veces"


O telemóvel de Rita começara a tocar interrompendo a aula.

-Desculpe “stôra”. – Olhou para o ecrã e deparou-se com uma chamada de Fábio. Ele sabia que naquela altura estava em aula e mesmo assim ligara-lhe. Desligou a chamada mas ele tornou a repetir a chamada. –Posso ir atender a chamada? É mesmo muito importante!

-É algum dos seus pais?

-Sim. – Mentiu. –E como a minha mãe está grávida pode ser alguma emergência.

-Vá atender lá fora, mas não se demore! E que isto não se torne a repetir! – Rita levantou-se do seu lugar e atendeu a chamada e saiu da sala. –Fábio estou em aula, não posso falar.

-Eu sei que estás em aula, mas acredita que é mesmo importante.

-Estás-me a preocupar.

-Pega nas tuas coisas e sai da escola. Estou à porta. – Desligaram a chamada e Rita entrou na sala, inventou uma desculpa para ir embora da aula e foi até á porta da escola. Rapidamente deparou-se com Fábio e entrou para dentro do carro dele.

-Já me podes contar o que se passou? E porque é que não me podias contar ao telemóvel?

-A tua mãe caiu das escadas no trabalho e está no hospital.

-O quê? Como é que ela está? E o meu irmão?

-A tua mãe está bem, o teu irmão é que não se sabe ao certo.

-Leva-me até à minha mãe.

-Tens a certeza que queres ir ver a tua mãe? Ela neste momento está a fazer exames e a ser avaliada pelos médicos.

-Sim, quero estar com a minha mãe, este é o momento em que ela mais precisa de mim. E os meus irmãos já sabem?

-A tua irmã já está a caminho do hospital com o teu cunhado. O teu irmão está na escola e os teus pais acharam que era melhor não lhe dizer nada até saberem mais.

-Eu não posso perdê-los Fábio, simplesmente não posso.
Fábio sentira-se impotente, qualquer palavra que pudesse dizer não iria acalmar nem apaziguar Rita. Não sabia qual era a dor de perder alguém da família, nunca havia passado por ela e todos os discursos que ouvira até então pareciam inconvenientes e inúteis para lhe dizer. Ele não podia fazer nada para a fazer sorrir, nem para a fazer sentir melhor, por isso pediu apenas:

-Vem para o meu colo. – Rita obedeceu, apesar do carro não ser o local mais confortável para se sentar no colo dele. Ela sentia-se segura naqueles braços, com o doce beijo que ele lhe dava na cabeça sempre que se sentava ao seu colo. Ouvir o bater do coração dele e o seu respeitar fazia-a acalmar. Respirou bem-fundo para demonstrar que estava calmo, embora estivesse tão nervoso, e sussurrou. –Vais ver que foi só um susto.

-E senão for? E se perder o meu irmão? Ou a minha mãe? – Continuava a soluçar e com as lágrimas a correrem-lhe pela face e Fábio sentia o seu coração apertar, e a apertar cada vez mais. Amava-a cada vez mais e não puder fazer nada por ela fazia-o sentir fraco.

-Preciso que te acalmes para poder ficar mais descansado, isso não te faz bem e não faz bem á tua mãe e irmão.

-Obrigada por estares aqui comigo. – Disse limpando as lágrimas.

-Estarei sempre aqui para ti. – Além do bonito sentimento que era o amor, existia um outro sentimento forte entre eles, a amizade e naquele momento Rita precisava daquele sentimento.

Rita saiu do colo dele que percebeu que ela se estava a sentir melhor, apesar dela não o dizer. Ligou o carro e como sabia que a música tinha um poder calmamente sobre ela, acabou por ligar o rádio e com o passar do tempo ela acalmou-se, a luz no seu olhar voltara e a garra e a coragem que a descreviam estavam presentes novamente. Quando estavam a chegar ao hospital pousou a mão sobre a perna dele e deixou-a ficar, era uma forma de lhe agradecer sem sem por palavras e o momento não pedia mais que isso, a música calma que tocava no rádio, que estava baixa fazia o momento tornar-se ainda mais especial.

-Rita. – Ela olhava para o vidro observando o parque de estacionamento mas a partir do momento em que ele a chamou, olhou para ele. O seu olhar dizia algo mais que ela não conseguia descodificar, não conhecia e queria perguntar mas algo não a permitiu falar, Fábio desviou o olhar para a mão dela que o acompanhou. Não precisaram de falar, ela entendeu o que se passava.

-Desculpa. – Afastou rapidamente a mão dele, envergonhada. Saíram do carro mas ela ainda estava envergonhada pelo que se passou, não queria de forma alguma provocá-lo mas acabou inconscientemente por fazê-lo. Cruzaram os dedos num só e caminharam em direcção ao hospital.

Chegaram até à recepção e o senhor Luís já os esperava, cumprimentou-os e encaminhou-os até ao quarto, a sua irmã e o cunhado já haviam chegado e estavam todos à espera que o médico lhe desse notícias, a preocupação era de momento com o bebé, porque a mãe estava fora de perigo. E a ideia de perder o mais pequeno membro da família assustava-os, era um pequeno ser que vivia ainda no ventre da mãe mas em parte tinha sido ele o principal culpado para a família estar novamente reunida, através de sua simples existência.
Rúben, Ana, Luís, Fábio e Rita aguardavam na sala de espera que existia junto ao quarto, quando o patriarca da família retirou a ecografia do seu bolso, colocou a mão sobre ela e o dedo indicador a passar pelas feições do pequeno.

-Para mim serás uma Clarinha. Para a tua mãe és um Bernardo. – Sorriu. Ana levantou-se e colocou-se de frente para o pai.

-E e será um bebé. Tudo isto foi só um susto, vamos todos ficar bem.

Rita estava sentada numa cadeira olhando para o vazio que transmitia com o olhar. Não sabia o que pensar, nem o que fazer. Sentia-se culpada e triste, não deveria ter sido tão egoísta ao ponto de ter abdicado de uma ecografia do irmão por um capricho. As suas mãos estavam cruzadas sobre as suas pernas e Fábio pousou a mão sobre a perna dela que a fez arrepiar, sabia que era a forma de a apoiar mas ainda a fazia sentir-se mais fraca. Queria transmitir a todos que não estava triste e aguentaria a dor sem derramar uma lágrima, mas com a presença dele sentia-se fraquejar, porque só com ele conseguia chorar sem vergonha e sentir-se melhor. O médico aproximou-se da sala e pronunciou:

-Família Madeira? – Aproximaram-se todos do médico, à excepção de Rita que se deixou ficar um pouco para trás e ainda mais a trás dela, Fábio que não a iria deixar sozinha, apesar de não ser da família era tratado como era tratado Rúben, o marido de Diana, e iria estar presente naquele momento importante, não só pelo sentimento de amizade por todos, mas também pelo romance que sentia por Rita.

-Sim, somos nós, diga senhor doutor. – Respondeu Luís.

-A sua mulher está estável e recuperada, irá ficar com algumas mazelas físicas mas com algum descanso irá passar, irá ficar mais alguns dias internada para a mantermos sob vigilância.

-E o meu filho doutor?

-Em meu nome e da minha equipa peço desculpa, lutamos mas infelizmente não conseguiu sobreviver.

Como irão reagir à notícia?

Que irá sentir Rita com a perda do irmão? Como irá reagir Pedrito?

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Novidades! :)

Olá minhas queridas leitoras :)
Infelizmente o que me trás aqui não é um capítulo mas é outra boa notícia, criei um perfil no facebook para poderem partilhar comigo as vossas opiniões sobre os meus blogs, para poderem dar sugestões, e até para falarem comigo, não só como escritora mas enquanto pessoa!

https://www.facebook.com/profile.php?id=100008431504828

Façam-me o pedido de amizade, e mandem-me por favor uma mensagem a dizer que são minhas leitoras, para andar informada. Mais tarde colocar-vos-ei no grupo das minhas fics.

Não sei se têm conhecimento mas tenho uma outra fic, que escrevo sozinha:
http://so-acaba-quando-o-ultimo-desistee.blogspot.pt/ 
E uma história que fala de romance difíceis, de amor verdadeiro, de luta, de escolhas e da vida. É uma história, modéstia à parte, interessante. 

E uma outra que apesar de não o fazer sozinha, a escritora que me acompanha é muito boa, apesar de não publicarmos muito, a história é bonita e adoro escrevê-la:

http://um-amor-como-o-teu.blogspot.pt/

Quem sabe se em breve não trarei um capítulo!

Beijinhos,
Rita Carvalho

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Capítulo 23: "Como poderia abandonar alguém que amo?


Mais importante que o valor da prenda, era o sentimento de quem a depositava e Pedro já demonstrara que o que sentia era bastante forte e superava enormes barreiras. Estivera do seu lado nos momentos bons e menos bons. E ela tinha como, de alguma forma, dado a entender que o sentimento era recíproco... Embora não o fosse. Gostava de Pedro, mas não o amava da mesma forma. Estava apaixonada sim, mas era por Fábio que o seu coração batia fortemente. Era os lábios dele que ela queria que tocassem nos seus, era o toque delicado mas masculino que queria sentir na sua pele, era aquela voz de Fábio que queria ouvir sussurrar no seu ouvido que o sentimento era recíproco. Queria olhar para os olhos do Fábio e sentir um arrepio na sua pele. Queria sentir-se nas nuvens, como só ele a fazia sentir. Mas não podia iludir Pedro, não queria fazê-lo crer que estava disposta a apostar numa relação, quando o sentimento não era mútuo. Não o queria, nem iria magoar, ele não o merecia. Sentou-se na cama a olhar para o ramo e levou as mãos até à cabeça, completamente surpreendida e arrasada com a surpresa que o amigo lhe dera e disse:

-Não sei o que dizer... Não estava à espera. Obrigada! - Disse olhando para o ramo de flores, e depois para Pedro.

-Não tens de agradecer, sabes que este ramo de flores é uma parte muito pequenina do que sinto por ti. - Tocou-lhe na mão e fê-la levantar-se da cama, beijou-a na face e sorriu-lhe. Rita abraçou-o e sussurrou:

-Obrigada, obrigada, obrigada! -  Deu-lhe um beijo na bochecha esquerda e sorriu. Apertou-o fortemente e sentia-se bem, mas não a fazia sentir-se tão bem como quando abraçava Fábio.

-Não tens de quê Ritinha, sabes o quanto gosto de ti e isto é só um miminho!

-Tu não tinhas de o fazer.. Obrigada, nunca me vou esquecer desta prenda! – Naquele instante olhou para Fábio que fugiu com o olhar até á afilhada de ambos. E aquela atitude só demonstrava que estava desiludido. Separou-se de Pedro que lhe disse:

-Tenho mais uma surpresa para ti. – Tirou uma pequena caixa das suas calças e entregou-lhe.

-Não achas que o ramo de flores era mais do que suficiente? Eu já não sei como te agradecer..


-A melhor maneira de agradeceres é usar esta prenda sempre que quiseres! – Rita abriu a prenda e viu.


Gostava do relógio, da sua cor, tamanho e feitio, experimentou-o e ficou ainda mais apaixonada, contrastava bastante bem com o seu pulso frágil e fino. A cor, era a sua preferida e a mistura de tom com o verde, impensável na sua opinião, contrastava bastante bem. Agradeceu-lhe, mais uma vez e deu-lhe dois beijos, e por milésimos de segundo olhou para Fábio que virou o olhar, desiludido. Talvez pensara que as surpresas de Pedro seriam melhores que as suas, mas estava enganado. A melhor prenda que recebera naquele dia, tinha sido a oportunidade de estar com Fábio.

-Mana, eu, o Rúben e a Di também temos alguns miminhos para ti. – Interrompeu a conversa, claramente com a intenção de cortar o mau ambiente que podia começar a existir.

-Sabes que não era preciso mana! – Ana tirou um envelope da mala que estava sobre a cama e deu-lhe. Enquanto Rita olhava para o que estava escrito a irmã explicou-lhe.

-Claro que era preciso, não é todos os dias que se faz dezoito anos!

-Claro que não, assim como os dezassete, os dezanove, os vinte e por aí fora... A única diferença é que agora já sou presa e posso tirar a carta de condução para conduzir um carro, como não tenciono matar ninguém e não tenho dinheiro, nem vou tirar a carta de condução, fica tudo igual.

-Se eu fosse a ti não falava tão cedo... – Respondeu a irmã. -Aí tens a tua licença para tirares a carta para carros. – Pegou num embrulho que estava escondido sobre a cama. –E esta é a prenda da tua afilhada.  

-Obrigada! Muito obrigada!– Deu um abraço á irmã e ao cunhado que a mimaram, sabiam que ela merecia aquela prenda.

-Falta a prenda da tua sobrinha e afilhada! É um pequeno miminho mas esperemos que gostes, foi ela que escolheu! – Rita abriu o saco e admirou a prenda que a pequena afilhada (com ajuda dos pais) lhe tinha oferecido.


Não conseguiu conter uma gargalhada assim que as calçou, e aquele era realmente o seu sorriso de felicidade e de contentamento. Era um dos seus desenhos animados preferidos e a sua forma divertia-a.
A festa acabou por decorrer com bastante animação e conversa á mistura. Enquanto Pedro fazia de tudo para comunicar com todos, inclusivé com Fábio, e divertir-se e tornar o aniversário dela um dia inesquecível para ela, Fábio estava diferente daquilo que todos conheciam. E isso preocupava Rita. Ele evitava falar com Pedro e as palavras que trocava com os familiares da aniversariante, eram apenas as suficientes, parecia que fazia o maior esforço do mundo para ficar apenas concentrado na afilhada. Ela não entendia o porquê daquelas atitudes dele, mas também não lhe queria perguntar. Sentia que a culpa era sua e nada poderia fazer, talvez ele tivesse á espera de uma declaração de amor da parte dela, como ele já havia feito. Mas ela simplesmente não era capaz. Não conseguia admitir que gostava imenso dele e que queria poder beijar-lhe e tocar-lhe como não fazia a mais ninguém, que queria dizer-lhe que o adorava e que queria poder chamar-lhe “namorado” mas não conseguia... Confiava nele, mas não o suficiente para terem uma relação. Apesar de ver nos seus olhos que ele realmente gostava de si, tinha medo de começar uma relação e que ele entendesse que conseguia uma rapariga melhor, e que terminasse tudo com ela.  E sabia que não tinha forças naquele momento para esquecer e ultrapassar... Não tão pouco tempo depois do fim da última relação que a magoara tanto. Tinha medo que ele realmente gostasse de si, mas que não soubesse manter uma relação, e que acabasse nos braços de outras raparigas, como o que lhe fizera Tiago. Tinha medo de tal como na última relação, que acreditasse que tivesse ensinado um mulherengo o que era um amor e uma relação estável e depois entendido tarde demais que era apenas e só mais uma ilusão da sua cabeça e coração. Sabia que a relação amorosa que os poderia unir, só iriam fortificar a amizade que existia entre ambos, mas não era o suficiente para arriscar. Esta era a forma mais eficaz para proteger o seu coração! Desta vez tinha pensado nela e da melhor forma para não sofrer com um erro. Sabia muito bem porque se havia apaixonado por ele. Não era somente o exterior e o seu porte físico, ela havia-se apaixonado pelo interior dele. Porque ele sim, era um homem com H grande. Com um enorme coração e tanto para dar, e ela tinha-se apaixonado por tudo aquilo que ele era... Só que não queria dizer-lhe tudo o que pensava, porque sabia que ele iria tentar beijar-lhe e conquistá-la e ela irremediavelmente iria cair nos braços dele. Por isso decidiu não mais insistir naquele dia, mas não conseguia deixar de pensar na forma como ele estava estranho. Será que se havia passado algo mais? Será que estava tudo bem consigo?
A festa terminou, até porque era um dia de semana e Rita estava bastante cansada e cada um foi para sua casa. Fábio despediu-se de todos e foi até sua casa, assim como Pedro, a irmã e a sua família. E cada um foi descansar, e assim que Rita pousou a cabeça na almofada adormeceu, mas não fora uma noite fácil. Acordou por volta das 3h da manhã onde havia tido um sonho no mínimo estranho.

-Rita. – Ela olhou para a rua procurando de quem poderia ser aquela voz. Aquela voz estava próxima mas não sabia de quem era. Raphael Guzzo aproximou-se de si e falou. –Sei que muito provavelmente não me conheces, mas eu apresento-me, Raphael Guzzo. –Cumprimentou-a com dois beijos, ela sorriu e embora o soubesse não o iria dizer. –Desculpa se vim estragar os teus planos mas preciso de falar contigo, senão te importares.

-Claro que não. Mas como é que me conheces?

-Vivo com o Pedro. Era impossível não ter ouvido falar de ti.

-Ah.. Está bem. – Disse claramente constrangida.

-Sei que não somos propriamente amigos e me deves estar a achar maluquinho no mínimo, mas não te assustes porque não te venho fazer mal nenhum, aliás até te quero ajudar a encontrar a felicidade.

-O que queres dizer com isso? E melhor como achas que me vais ajudar?

-O Pedro ama-te Rita. Ele quer-te de uma forma surreal, mas não me interpretes mal, atenção! O Pedro vê em ti tudo aquilo que quer para a vida dele, é em ti que ele vê a namorada, a futura mulher e mãe dos filhos, dos vossos filhos como ele diz. É em ti que ele vê a “tal”. E quando fala de ti, não sei, os olhos brilham de uma forma tão especial, com um sorriso que nunca ninguém o fez assim. Não sei o que lhe fizeste mas apanhaste-o forte e feio e como tal, queria apenas pedir-te que mesmo que não sintas o mesmo, não o magoes, nem iludas ou desiludas, ele não o merece e iria cair bem fundo.

-E se eu não o amar dessa forma... Especial como ele me ama?

-Lamento informar-te mas não sou nenhum expert em relações amorosas. Mas de certeza que tens outras pessoas com quem contar.

-Infelizmente os meus dois únicos amigos são eles. E como imaginas não irei falar com o Pedro sobre o Fábio, nem vice-versa. – Caminharam durante alguns metros e sentaram-se num pequeno banco de madeira. –Mas tu não tens de ouvir os meus problemas, desculpa incomodar-te.

-Fui eu que vim ter contigo para falarmos, posso não entender muito bem o que é isso de amar, mas posso tentar ajudar-te. E não incomodas nada acredita no que te digo!

-Promete-me que tudo o que vou dizer não contas nem ao Pedro nem ao Fábio.

-Claro que não. Mas calma... Eu conheço o Fábio?

-Sim. Não sei se são amigos mas conheces. É o Fábio Cardoso.

-Ui... Alguém já te disse que tens uma queda por jogadores de futebol?

-Por acaso já tinha reparado. Até porque o meu ex também era amigo do Fábio.

-Então também gostas de te meter em confusões deixa que te diga!

-Não é nada disso! – Sorriu. –Simplesmente aconteceu, não escolhi nada! Tanto é que se escolhesse, não estava no meio desta confusão! O Fábio de um lado e o Pedro de outro!

-Mas tu gostas do Pedro? Ou do Fábio?

-Sinceramente... Não sei. – Disse calmamente mas com receio. –Gosto de sentir as borboletas no estômago quando estou com o Fábio, quando ele me toca, quando me beija, bem nem sei explicar, sinto que vou ao céu. Mas não tenho confiança nele para começar uma relação, tenho medo que me deixe para ir ter com outra entendes? – Ele acenou positivamente com a cabeça. –E com o Pedro... Gosto imenso de estar ao pé dele, faz-me sentir bem e sorrir naturalmente, mas não gosto dele da mesma forma forte como ele me ama. E sei que ele me faria tudo para me ver bem, assim como fez como quando tivemos juntos naquela curte, mas os ciúmes falaram mais alto.

-Acho que as tuas palavras foram bastante claras... A maneira como tu falas de um e do outro muda. Não te sei explicar, mas muda. Do Pedro tu falaste a sorrir, mas do Fábio tu falaste com os olhos a brilhar. Tens medo de magoar o Pedro, e tens medo de ser magoada pelo Fábio.

-Sim, é isso!

-E sinceramente, imagina que estavas num precipício...

-Ai credo Raphael que drama!

-É só um exemplo que talvez te ajude!

-Desculpa. Continua.

-Imagina que estavas num precipício e só podias escolher um para ficar contigo para o resto da tua vida, quem escolherias? – Ela pensou e repensou, e chegou a uma conclusão.”

Rita acordou do seu sonho com claras certezas do que sentia. Mas tinha de falar com a pessoa que lhe roubara mais que um beijo, tinha de lhe dizer que apesar das prendas que Pedro lhe dera, era com ele que ela se sentia realmente feliz. Saiu da cama e pegou nas chaves e saiu, mesmo com o pijama curto de Verão que tinha vestido. Fechou a porta tentando fazer o mínimo de barulho possível e foi até á porta da frente, bateu com a mão contra a porta e esperou algum tempo, como não obteve resposta tocou á campainha durante algum tempo. Esperou e Fábio abriu-lhe a porta de casa, em boxers. Rita abraçou-o e ele embora tenha ficado surpreso durante uns segundos, acabou por pousar a mão sobre o fundo das costas dela e retribuir o abraço.

-Rita. – Disse surpreendido enquanto a vi-a e ela o abraçava. –Que estás aqui a fazer? Está tudo bem?

-Por favor não me deixes! Nunca! – Apertou-o com força, e ele retribuiu apertando-a nos seus braços.

-Como poderia abandonar alguém que amo? – Beijou-lhe a testa e de seguida ela ergueu a cabeça e olhou para ele que pousou o dedo indicador sobre os seus lábios e fê-los deslizar até ao queixo. Como que os desejando. Ela olhou para os olhos dele e aproximou os lábios e tocaram-se por impulso dos dois. As mãos dela deslizaram até ao pescoço dele e ele pegou nela ao colo, fechou a porta com o pé e levou-a até á sala, enquanto se beijavam. Beijos doces e de amor, mas apesar de tudo curtos. Pousou-a no sofá, deitada e ela empurrou-o para cima dele, sem nunca se separem. E aquela sucessão de beijos, outrora amorosos acabaram por se tornar em beijos carregados de desejo. Fábio começou a explorar o pescoço de Rita com beijos e bem perto do peito deixou uma marca bastante característica conhecida como um “chupão”, que ela não podia negar para fazia-a sentir-se bem, fazia-se sentir desejada. Sabia que mais tarde teria de justificar aos pais mas de momento não a preocupara. Beijou-a perto do colar que lhe havia dado e que estava preso ao seu pescoço e regressou novamente aos lábios, onde ela o beijou de forma audaz. As mãos que até há pouco tempo se encontravam pousadas, já estavam com as unhas cravadas sobre as costas dele. As mãos de Fábio já estavam no interior da camisola de Rita explorando o seu abdómen e as suas ancas, aproximava já as mãos do soutien para no final tirar a camisola, mas ela impediu-o. Parou os beijos.

-Pára Fábio! – Pediu puxando a camisola para baixo, tapando-lhe o ventre, e sentando-se no sofá.

-Desculpa Rita. – Levantando-se do sofá e indo em destino incerto.

-Onde vais? Também não precisas de ir embora!

-Vou vestir algo para te deixar mais confortável!

Volvido alguns minutos Fábio voltou com uma camisola de manga á cava vestida e Rita só pensava que apesar da camisola já lhe tapar o tão desejado peito, ainda não cobrira o suficiente, o desejo continuava presente. Mas trazia uma camisola na mão e uns calções.

-Tentei trazer a roupa mais pequena que trouxe mas é capaz de te estar grande. – Pousou a roupa sobre o sofá e deixou um enorme espaço entre si e a amiga. Rita vestiu a camisola e os calções e confirmava-se. A roupa estaria, no mínimo, grande.

-Desculpa. Não tinha intenção forçar-te a nada.

-Não forçaste, descansa!

-Mas estás arrependida?

-Fábio, o que lá vai, lá vai.

-Sim, mas podemos falar do que ia acontecendo. Não te quero deixar desconfortável.

-Vais-me deixar desconfortável por falarmos sobre o que se ia passando!

-Rita... Posso fazer-te uma pergunta?

-Sim, faz.

-Tu és virgem?

-Não significa que só porque não quero fazer sexo, que seja virgem! – Defendeu-se. –Não temos nada juntos, porque nos iríamos envolver a este nível? Nem sabes o que sinto por ti.

-Tu podias facilitar-me a vida e dizer-me.

-Como é que é suposto dizer-te o que sinto quando nem eu sei? – Mentiu.

-Como não sabes o que sentes? – Pousou a cabeça sobre a perna dele e começou a olhar para a televisão que reflectia os dois juntos.

-Simplesmente não sei. Sei que gosto de estar contigo, que gosto de beijar-te, que me fazes feliz e quando sorris alguma coisa mexe comigo, mas não sei o que é! – Sabia bem o que sentia por ele mas não o iria dizer e por isso mentiu.

-Isso é amor! – Respondeu Fábio com os olhos a brilhar fazendo-lhe festas na face. 

-Não, não é. Se fosse eu sabia. – Mentiu mais uma vez, e apesar de demonstrar uma enorme força nas palavras que dizia, por dentro sentia-se fraquejar.

-Também não foi fácil para mim aceitar que estou apaixonado mas como conseguia negar um sentimento que já sabia que era verdade?

-Mas tu sabes que gostas de mim. Eu não sei se gosto de ti. Tu ainda há pouco demonstraste que gostas de mim, era impossível esconderes os ciúmes do Pedro!

-Sim, é verdade. E não vás mais longe, os teus pais sabem o que sinto por ti... Eu disse-lhes!

-O QUÊ?! – Perguntou aumentado um decibéis acima do normal.

-Eu prometi aos teus pais que ia cuidar de ti enquanto amigo e agora tive que lhes dizer que a minha intenção já não é essa. Quero tomar conta de ti sim, mas enquanto namorada.

-Porque fizeste isso? Que é que te deu? O que é que bebeste? Deves ter-te passado da marmita só pode! – Ele aproximou-se dela e respondeu-lhe.

-Porque te amo, e não me importo de esperar por ti, até tu saberes o que sentes.

-Preciso de descansar. – Respondeu mudando rapidamente o tema da conversa.

-É o melhor. E mais uma vez desculpa.

-Fábio... – Hesitou. –Podes vir comigo?

-Sim... Queres que vá contigo?

-Sim! Podes vir comigo?

-Sim, claro. – Foi buscar as chaves de casa e seguiu Rita. Fecharam a porta de casa de Fábio e foram até casa dela, encostaram a porta do quarto dela e ela pediu para ele se deitar sobre a cama, ele obedeceu e pousou a cabeça sobre o peito dele. Que começou a distribuir carícias nas bochechas e a mexer no cabelo dela.

-Desculpa Fábio. Sei que merecias mais, mas tenho medo de me magoar.

-O Tiago magou-te muito, eu sei. E o Pedro desiludiu-te. Tu simplesmente tens medo que eu também te magoe. Mas eu não o farei, eu vou esperar por ti.

-Obrigada! – Ele continuou a mexer-lhe no cabelo e ela acabou por adormecer pouco depois. Rapidamente Fábio entendeu por causa do ar pesado em que ela se havia afundado.

-Amo-te Ritinha. – Disse dando-lhe um beijo sobre a testa. –Sim, sei que tens medo que te magoe como o Tiago te magoou, ou que te desiluda como o Pedro fez, mas eu farei de tudo para te fazer a mulher mais feliz deste planeta e deste universo. E nunca te irei abandonar, porque te amo e vou fazer de tudo para te compensar tudo o que me ensinaste e por tudo o que fizeste por mim. E porque não me imagino mais sem ti. Porque é só a ti que amo. – Deu-lhe um pequeno beijo nos lábios e aconchegou-se ao corpo dela e adormeceu enquanto lhe fazia pequenas festas na bochecha.


“Ay payita mía, guárdate la poesía
Guárdate la alegría pa'ti
No pido que todos los días sean de sol
No pido que todos los viernes sean de fiesta
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón
Si lloras con los ojos secos y hablando de ella”
Tocou o telemóvel de Rita, acordando-os.
-Fábio acorda. – Pediu Rita abanando Fábio tentado despertá-lo. –Adormecemos!
-E agora o que fazemos?
-Rita acorda. Já está na hora! – Ouviram uma voz anunciar do corredor e caminhando em direção ao quarto dela.
-E agora? – Perguntaram em simultâneo olhando um para o outro. 
Será que o senhor Luís os vai apanhar?
Ou será que Fábio vai conseguir esconder-se a tempo? Será que Rita vai compreender o que sente?