segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Capítulo 43: “Acho que ficou tudo demasiado claro.”


Tão cedo quanto tinha dado entrada no hospital, saíra, com alta, mas com muitas recomendações da parte dos médicos e dos enfermeiros, mais sobre a gravidez do que propriamente sobre o coma alcoólico onde teve de fazer uma limpeza ao estômago. Ainda era uma gravidez muito recente e completamente inesperada, afinal Fábio e Rita sempre tiveram muito cuidado com os métodos contracetivos utilizados, ele até a relembrava constantemente de tomar a pílula e por vezes utilizavam os preservativos sem látex que ele tinha comprado bem no início quando se soubera da notícia da sua (única) alergia. Mas pelos vistos, bastara alguns dias longe dele para não tomar a pílula e um pequeno deslize e foi quanto baste. Sempre lhe tinham dito que bastava uma vez para engravidar, mas ela nunca pensara que fosse tão certeiro.

Entre tu boca y la mía (Entre a tua boca e a minha)
Hay un cuento de hadas que siempre acaba bien
(Há um conto de fadas que acaba sempre bem)
Entre las sábanas frías
(Entre os lençóis frios)
Me pierdo a solas pensando en tu piel
(Perco-me sozinho a pensar na tua pele)
Que curiosa la vida
(Que curiosa é a vida)
Que de pronto sorprende con este loco amor
(Que, de repente, me surpreende com este louco amor)
Y es que todo se acaba
(E que tudo acaba)
Y termina si dejo de ser lo que soy
(E termina quando deixo de ser o que sou)

Bésame no dudes ni un segundo de mi alma
(Beija-me, não duvides, nem um segundo da minha alma)
Alteras mis sentidos, liberas mis salas
(Alteras os meus sentidos, libertas as minhas asas)
No cabe tanto amor en esta cama
(Não cabe tanto amor nesta cama)
Si me dejaras
(Se me deixares)
Qué bueno es sentir que suspiro de nuevo
(Que bom é sentir que suspiro novamente)
Que tu roce y mi roce juntos forman fuego
(Roçar o teu corpo com o meu fazemos fogo)
Delicada llama que nunca se apaga
(Delicada chama que nunca se apaga)

Sin ti yo me pierdo
(Sem ti, eu perco-me)
Sin ti me vuelvo veneno
(Sem ti, torno-me veneno)
No entiendo el despertar sin un beso de esos
(Não entendo o acordar sem um beijo desses)
Sin tu aliento en mi cuello
(Sem a tua respiração no meu pescoço)
Qué futuro más bello
(Que futuro mais belo)
Qué plan más perfecto presiento
(Que plano mais perfeito, pressinto)
No tendremos que estar batallando
(Não temos que batalhar)
Buscando siempre el momento
(A procurar sempre o momento)

Depois da música ecoar pelo carro vinda diretamente do rádio e na voz de Pablo Alborán, acompanhada pela do seu namorado (embora sem sombra de dúvida, preferisse ouvir apenas o cantor), acabou por começar a chorar.

-Que se passou meu amor? - Perguntou preocupado, não entendia de onde vinham aquelas lágrimas.
-Esta música fez-me pensar.
-Principalmente na parte do “Que tu roce y mi roce juntos forman fuego” porque na realidade isso deu frutos, certo?
-Em primeiro, a tua pronúncia é realmente bonita e sexy, sabias? - Fábio sorriu. Parecia que tudo o que fazia a atrai-a e ele não se importava que isso sucedesse, de todo. - Em segundo, estava a pensar na música em si,não diretamente nessa parte, porque por incrível que pareça não estava a pensar nesta nossa bênção. - Colocou a mão sobre a sua barriga, como que imaginando que tinha uma barriga grande e a falar com o pequeno, embora soubesse que era impossível ele ouvi-lo de momento.  -É verdade tudo o que a música disse, desde o momento em que me perco a olhar para a tua pele, até que fazemos chamas, os momentos que vivemos, os planos que fizemos que até podem ser realizados mais cedo do que estávamos à espera!
-Temos de falar sobre isso, Rita. - A jovem conhecia bem o seu namorado, percebeu no momento que algo não estava bem na cabeça de Fábio.
-Eu sei que sim. - Fingiu não se aperceber daquele tom do seu namorado. - Mas quando chegarmos a casa, sim? Quero aproveitar este momento bonito que a música nos deu.
-O que significa que ainda queres chorar mais!
-Não disse isso! - O rapaz olhou para ela como que perguntando com os olhos: “quem queres enganar?” - Tu não me olhes assim, Fábio Rafael! A culpa não é minha, é das hormonas!
-É impressão minha ou estás a culpar o nosso filho por seres uma choramingona?
-Nunca culparia o meu filho por nada assim, estou a culpar o pai do meu filho!
-Que culpa tenho eu?
-Porque senão fosses tu, não haveria bebé e muito menos hormonas todas trocadas neste corpo!
-Eu não o fiz sozinho! - Respondeu brincando. - Ou não a fiz. Ainda não sabemos.
-Antes de tu apareceres na minha vida, não existia bebé nenhum na minha barriga mas sim em fase pré-bebé nos teus tintins!
-Portanto, tu é que mos vieste roubar e a culpa ainda é minha!
-É dos dois, e não se fala mais nisso! - Fábio sorriu. Nunca se contraria uma grávida, certo? - E eu é que escolho o nome deste pequeno!

-Onde está a justiça disso?
-Onde está a justiça de eu ter mamas inchadas, barriga enorme, dores insuportáveis do parto e a preocupação de manter a boa forma só por estar ao teu lado? Pois bem eu! Tu podes escolher o nome do próximo!
-Vou escolher o segundo nome dele!
-Estás convencido que vai ser um menino.
-Sei o que fiz. - Piscou-lhe o olho. - E tu não me provoques em relação às tuas mamas, vão ficar na fase mais bonita, inchadas e ainda mais maravilhosas para mim, mas também vais estar super inchada e mal te poderei tocar!
-E vou ser uma grávida chata, estás avisado!
-Sempre o foste, não era a gravidez que iria mudar isso!
Fábio sorriu mas Rita olhou para ele sério. Estacionou o carro e ambos iam para casa.
-Já queres falar sobre o que tanto vive dentro de ti?
-Quando chegarmos a casa.
Subiram até casa de Fábio e ambos sentaram-se no sofá mas ele rapidamente se levantou e começou a sua difícil mas inadiável conversa.
-Em primeiro ligar, quero dizer-te que estes últimos dias têm sido particularmente difíceis para mim. Primeiro estavas numa cama de hospital, por minha culpa e antes que digas que não, eu sinto que foi e sei que foi, não precisas de me defender, a culpa correu-me todos os segundos pelas minhas veias e pelo meu sangue, depois havia a impotência de não poder fazer nada por ti... E mais tarde pelo nosso filho. E foi isso que me fez pensar durante toda a minha ainda curta vida, o que mais me fez pesquisar e querer saber o que era melhor. Depois de muito ler, pesquisar vários exemplos, de pensar e repensar, tomei uma decisão. Mesmo que seja difícil, eu sei que é o melhor para nós... Os três. O nosso maior sonho é sermos pais, mas nenhum de nós tem vida ou condições para o ter agora, por muito que nos custe, sei que é melhor adiarmos este sonho até estarmos preparados. Quem sabe daqui a uns anos.

Rita queria reagir mas, pela primeira vez na vida, não conseguira. Tinha sido das palavras mais difíceis e das emoções mais duras que havia sentido em toda a sua vida e era difícil conciliar tudo e simplesmente reagir. Fábio prometera-lhe tanto antes daquela gravidez e de repente era tudo... Mentira. A mágoa era insuportável.
Quando recebera a notícia da gravidez tivera a certeza que nada seria fácil dali para a frente mas tinha a crença que com Fábio tudo seria diferente mas estava completamente enganada, fora ele o primeiro a abandonar o barco.  E embora a sua vontade fosse também de desistir não o iria fazer. O seu filho merecia mais isso.

-Foste a maior desilusão da minha vida. - Desabafou. - Antes de estar grávida prometias-me que íamos lutar contra ventos e marés, que seríamos apenas e só nós, e o que fazes na primeira oportunidade, Fábio Rafael? Dás-me um golpe nas costas quando mais precisei de ti! - Reclamou chorando. - E podes pesquisar, falar, pensar e tudo o que quiseres, mas este bebé vai nascer e pode não ter um pai mas terá sempre uma família! Este bebé vai nascer quer queiras, quer não! - Ia-se embora de casa mas o rapaz agarrou-a.
-Achas que isto é fácil para mim? Acredita que não é! - Reclamou também ele com mágoa.  - É o meu maior sonho ser pai, ter a nossa família, mas eu tenho de pensar em tudo antes de trazer uma criança para o mundo! E neste momento não temos condições e a nossa vida não está encaixada com um bebé de momento!
-És um egoísta! - Gritou-lhe furiosa. - Para o fazeres estavas sempre disponível, deixaste a responsabilidade de não engravidar para mim e só para mim! E agora? Não é o momento indicado! E onde está o “tudo acontece por algum motivo”? Esqueceste-te porque não convêm não é verdade? - Deu um sorriso irónico. - És um egoísta porque tens a oportunidade de realizar o teu sonho mas não o queres fazer porque não é a “altura certa”? Tu tens noção das palavras que saiem por essa tua boca? O amor que sentia por ti e a vontade que tinha de amar-te a cada segundo tornou-se em raiva, Fábio!
-Rita, não estás a pensar no que dizes!
-Estou tão a pensar no que digo que eu. E o teu filho – Gritou as últimas quatro palavras para dar ênfase à situação. - Vamos embora daqui para evitar emoções desnecessárias nesta altura critica do desenvolvimento dele. - Saiu a correr e bateu com a porta ao sair. Tentou abrir a porta de sua casa para entrar mas não conseguiu, por isso decidiu ir caminhar.  Sabia que não iria ser fácil, as lágrimas não paravam de cair dos seus olhos e dificultavam a simples tarefa de andar, que tudo estava mais complicado devido às emoções que sentia e a gravidez dificultava a tarefa porque se cansava com mais facilidade, mas também não queria levar a mota para sair dali, iria evitá-lo enquanto estivesse grávida.  Só poderia ir a caminhar e sabia bem para onde ia, trazia-lhe recordações mas era o único sítio que lhe conseguiria trazer paz. Aquela praia trazia-lhe tantas recordações, mas a mais marcante tinha sido sem dúvida o seu primeiro beijo com Fábio, que se recordara ainda mais de lágrimas nos olhos com saudade do que sentira na altura e do amor infindável que julgava que ele sentiria por si:

“Era o momento mais bonito que estavam a viver juntos e estavam a tentar desfrutá-lo. Sentiam o coração do companheiro a bater e a felicidade bem presente no rosto da outra pessoa, existia uma paz natural nos corações de cada um. E Fábio sabia que era o momento ideal para partilhar o que sentia, sempre tivera medo do momento em que assumia o que sentia, tinha medo que o sentimento não fosse recíproco, que ela se afastasse dele e no fundo de a perder. Mas tinha de arriscar, podia perder tudo mas também podia ganhar tudo.
-Fábio, talvez seja melhor voltarmos. Os meus pais já devem estar à minha espera. – Ele sabia que ela tinha razão e que para ganhar a confiança dos pais da sua amiga tinha de cumprir o que prometera, mas era muito forte o desejo que sentia de prendê-la nos seus braços e não mais largá-la, queria poder ficar ao lado dela até aos últimos dias da sua vida.
-Rita, por favor, só mais um bocadinho.– Suplicou Fábio e Rita não conseguiu resistir.
-Mas é mesmo só mais um bocadinho, sabes que o meu pai está á minha espera.– Disse pousando novamente a mão sobre o peito de Fábio que a agarrou as mãos e olhou para ela.
-Só falta uma coisa para tornar este momento perfeito. – Encheu-se de coragem e disse-o, Rita olhou para ele que sorria e perguntou:
-E porque não o tornas perfeito? – Perguntou envergonhada mas com coragem de dizer tudo o que sentia e de se sentir ainda mais realizada.
-Porque não sei se também o queres.
-Eu confio em ti Fábio.– Disse pousando a mão sobre os cabelos secos mas brilhantes dele.
-Tens a certeza? Tu nem sabes o que vou fazer.
-Faço uma pequenina ideia. E sinceramente, não preciso de saber, tal como te disse confio em ti.
Os olhos de ambos brilharam e foi Rita quem tomou a iniciativa de cruzar os seus dedos com os de Fábio dentro de água. Fábio sabia que o que iria fazer podia estragar aquela amizade, podia deixar a amiga desiludida ou magoada, podia afastá-la de si, mas estava disposto a arriscar, afinal ela permitia-o, fora ela que o incentivara-o a fazer, embora não soubesse ao certo o que ele iria fazer.

Fábio aproximou os seus lábios da face de Rita, pousou a mão esquerda sobre a bochecha dela que fechou os olhos sentindo o doce toque do amigo na sua face, aproximou os seus lábios dos dela e respirou durante breves segundos e beijou-a como desejara há imenso tempo, como nunca desejara beijar ninguém.
E Rita nunca hesitou, nunca temeu e sempre confiou em Fábio, deixou-se beijar e sentir todas aquelas sensações únicas, faziam-na ter ainda mais certeza do que sentia por ele. Estava apaixonada. E aquele beijo causara-lhe uma felicidade inexplicável, sentia-se amada como não sentia desde o final de relação com Tiago.
E Fábio sentiu o que nunca havia sentido antes, uma felicidade a sair pelo seu coração de forma inexplicável, uma vontade de não mais soltar Rita dos seus braços, de fazê-la apenas a única mulher da vida dele. Ela era a sua felicidade, o seu porto de abrigo, o seu porto seguro, uma mulher surpreende apesar da tenra idade.
As bocas só se separaram quando o ar começava a escassear, e parecia nada os querer afastar, não queria mais largar-se, nunca mais se afastarem e ficarem unidos como um só. Rita pousou a cabeça sobre o peito de Fábio e as mãos nos ombros dele, que retribuiu o gesto pousando as mãos sobre as costas de Rita e a cabeça sobre a cabeça dela e com a voz meio-rouca e grave disse...”

Como poderia odiar e amar tanto um homem? Como poderia ele ser o principal alvo de todo o amor, de todo o carinho, mas também de tanto odeio da parte da mesma pessoa? Ele era a esperança e em simultâneo desgosto. Aquele mar trazia-lhe tantas memórias que parecia que se mergulhasse nele, desapareciam do seu corpo. Despiu as calças e o casaco e entrou no mar. A água estava fria, sabia disso mas pouco ou nada sentia na pele, porque o seu coração doía mais do que pensara vir a ser possível e por muito que quisesse chorar, as lágrimas não caiam e queria que o mar tirasse do seu corpo todos aqueles sentimentos relacionados com ele... Tudo o que envolvesse Fábio Rafael queria apagá-lo da sua vida. Mas não era assim que iria resolver as coisas. Até podia esquecer-se de tudo, mas o seu corpo tinha uma pequena parte dele em si e não iria fazer-lhe a vontade ao tirá-lo. Quando o corpo começou a ficar demasiado frio decidiu sair da água e viu quem menos queria junto aos seus pertences. Decidiu tentar enganá-lo e ir buscar apenas a sua roupa e ir embora, mas ele levantou-se e seguiu-a.

-O que pensas que estás a fazer?
-Estava a tomar um banho de mar, porquê? O que tens a ver com isso?
-Além de seres minha namorada, tens um filho meu na barriga, logo tenho tudo haver com isso.
Rita parou e sorriu ironicamente.
-Antes de falares, tenta ter sentido e pensares antes de dizeres asneira. - Vestiu o casaco e a seguir as calças. - Como queres que continue com uma pessoa que simplesmente não quer a coisa que eu mais quero no mundo? A única pessoa que se está entre a realização do meu sonho e o facto de ter sido só uma ilusão? Por muito que eu te ame, vou sempre amar e amo mais este filho!
-O que queres que te diga? Que estou arrependido do que disse quando não estou? Que quero este filho mais do que nunca? Que sei que não era a melhor altura mas que porque aconteceu é porque tem de ser? Eu faço isto tudo por ti, porque te amo!
-Se me amasses, amarias ainda mais este filho do que me amas a mim! - Nenhum de nós conseguiria controlar as lágrimas.
-Pensa Rita! - Gritou-lhe e ela assustou-se. - Tu sonhas ir para a faculdade, ter uma profissão que te faça depender de mais ninguém a não ser de ti mesma. E eu? Tanto estou cá como não estou, nunca podes contar comigo a 100%, queres que fique como? Tens maturidade para ter um filho agora? Estás preparada? Tens meios financeiros para isso? E estabilidade? Eu não tenho nada disso com 19 anos, Rita! Só quero que acordes do sonho e que enfrentes a dura realidade!
-Não precisava de ser tão bruta! - No fundo sabia que o que ele dizia tinha um fundo de verdade. - Sabes o que mais querida neste momento? Ter o meu filho e que tu desaparecesses da minha vida! - Dito isto correu até casa e com lágrimas nos olhos, só queria estar sossegada a repensar.

Foi até sua casa, meio perdida entre lágrimas e deixou correr água e espuma pela banheira para tomar um banho desejado e que a fizesse sentir realmente bem. Poderia até nem lhe tirar a dor e o aperto que o seu coração sentia, mas era uma forma de se sentir um pouco mais leve e em paz. Além de que sabia perfeitamente que o mar estava demasiado frio, o seu corpo precisava de água quente. Ligou o telemóvel e decidiu colocar música que a fizesse sentir mais confiante.

What goes around comes back around (hey my baby) (Tudo o que vai volta (ei, meu amor)
What goes around comes back around (hey my baby)
What goes around comes back around (hey my baby)
What goes around comes back around (hey my baby)

There was a time (Houve um tempo)
I thought, that you did everything right (Em que pensei, que fizeste tudo bem)
No lies, no wrong (Sem mentiras, sem erros)
Boy I, must've been outta my mind (Rapaz, eu, devia estar a perder a minha mente)
So when I think of the time that I almost loved you (Então quando penso na altura em que quase te amei)
You showed you ass and I saw the real you (Tu mostraste que és um idiota e eu vi o teu verdadeiro “eu”)

Thank God you blew it (Graças a Deus estragaste tudo)
Thank God I dodged the bullet (Graças a Deus, desviei-me da bala)
I'm so over you (Já te superei)
So baby good lookin' out (Então amor, é melhor ires embora)

I wanted you bad (Eu queria tanto ficar contigo)
I'm so through with it (Mas não sinto mais isso)
Cuz honestly you turned out to be the best thing I never had (Porque, sinceramente, acabaste por ser a melhor coisa que eu nunca tive)
You turned out to be the best thing I never had (Tu tornaste-te a melhor coisa que eu nunca tive)
And I'm gon' always be the best thing you never had (E eu serei a melhor coisa que tu nunca tiveste)
I bet it sucks to be you right now (É chato estar no teu lugar agora)

So sad, you're hurt (Tão triste, estás magoado)
Boo hoo, oh, did you expect me to care? (Esperavas que eu me fosse importar?)
You don't deserve my tears (Tu não mereces as minhas lágrimas)
I guess that's why they ain't there (Secalhar é por isso que elas não estão aqui)
When I think that there was a time that I almost loved you (Quando eu penso na altura em que quase te amei)
You showed you ass and I saw the real you (Tu mostraste o idiota que és e o teu verdadeiro “eu”)

Depois de sair do banho, enrolou-se numa toalha e passou pela sala, mas ouviu uma voz dizer:
-Pensavas que te ias livrar de mim tão cedo? - Ela parou e deparou-se com o rapaz sentado no sofá. - Estás ainda mais bonita agora que estás grávida.
-O que fazes aqui?
-Tenho a chave, entrei pelo mesmo sítio que tu.
-Desaparece daqui. A tua casa é em frente, não aqui.
-Vamos falar, não consigo passar o dia sem esclarecer tudo.
-Acho que ficou tudo demasiado claro.
-Rita, vamos falar.
-Tu estás entre mim e o meu filho, e se eu tiver de escolher a escolha é óbvia.
-É assim que tu queres ficar?
-Eu não quero, mas tu obrigaste-me.

Fábio foi-se embora e Rita foi até ao quarto, onde se vestiu e começou a arrumar a sua mala. Precisava de passar uns dias longe da sua casa, precisava de ficar longe da sua família e das perguntas difíceis, de ficar longe dos locais que lhe traziam à memória... O pai do seu filho.

Que decisão vão tomar em relação ao filho?
E como ficará a relação?Será que vão terminar ou não?

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Capítulo 42: “A Maria Rita está grávida. De quatro semanas”


-A Maria Rita está grávida. De quatro semanas. - O pequeno mundo de uma jovem adolescente, ou no início da vida adulta, ainda não tinha definido em qual estava, sofreu o maior choque profundo na sua vida, mesmo que ainda curta. Todas as perguntas lhe passaram pela cabeça, até que uma mais forte se ergueu na sua cabeça e percebeu quando tinha acontecido: quando ele a fora visitar a Coimbra, na véspera do dia de Natal, eles fizeram amor e ela tinha-se esquecido de tomar a pílula durante uns dias, e bastou essa irresponsabilidade sua para engravidar. Parecia uma estupidez, mas tinha de perguntar:
-Tem a certeza?
-Sim. - O médico parecia falar com muita calma na sua voz, mas também pressentiu que algo não estava bem da parte da jovem. Sentou-se em cima da cama da rapariga e pousou a mão sobre a sua. - Eu percebo que seja uma notícia difícil de digerir, provavelmente não foi planeada, mas tenho a certeza que independentemente do que faça, a sua escolha será a mais acertada e a melhor para todos.
-Mas doutor, eu tenho 18 anos, estou a uns meses de acabar o secundário, quero ir para a faculdade e sem dúvida que um filho é um sonho que tenho desde pequena... Mas nunca para agora.
-Imagino que seja difícil lidar com esta ideia, mas com o tempo acabará por se acostumar...
-Nunca me vou habituar à ideia de ser mãe tão jovem.
-Eu também dizia isso...
-O que quer dizer com isso?
-Eu fui pai com 18 anos. - Sorriu. - Isto é do menos ético que fiz na minha carreira, mas vou-te dar um conselho pessoal. Pense muito bem no que quer fazer, e fale com o pai do bebé, com a sua família e com o pai do bebé e a família dele, decidam em conjunto o que devem fazer, mas a última decisão e mais importante é sua e do pai do bebé. E não pense que não está preparada, ninguém está preparado para ser pai, é algo que se vai aprendendo com o tempo. E bem, agora é melhor eu ir, que tenho outras pessoas com quem falar e ser um pouco mais profissional.
-Obrigada doutor. - A jovem sorriu e sentiu-se estranhamente mais calma... Não esperava estar grávida, assumira a si mesma. Nunca pensou que bastaria apenas uma vez sem métodos contracetivos para engravidar, mas a vida mais uma vez pregara-lhe uma partida. Sabia que o seu maior sonho era ser mãe, mas será que conseguiria ser a mãe que o seu filho merecia? Respirou fundo, tinha tantas perguntas na sua cabeça e tantos dilemas pela frente que lhe parecia impossível conseguir solucionar todos.
Decidiu então colocar os fones nos ouvidos, e escutar uma canção que em parte se identificava consigo:

"Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

Sei que já deste tempo ao tempo e o tempo não passou
tinhas até um plano mas mesmo assim falhou
E nunca era suposto ter chegado onde onde chegou
Parecia só um enjoo passageiro mas com o tempo piorou
E agora também é tarde para chorar sobre os erros do passado
Olha para o que eu digo, não olhes para o que faço
Se o tempo voltasse atrás na tua adolescência qual escolhias entre os dois,
verdade ou consequência?
Pois bem
Esta é uma nova etapa da tua vida e olha que a realidade é bem como tu dizias
sei que tu ainda és nova e que tudo se transforma e o mundo que nem forma tinha outrora, tudo se reformula agora
Agora és tu e ele, e ele que aí vem, sabes o que é ser filha mas sabes o que é ser mãe?
As consequências que isso tem
e as mudanças que advêm quando amigos já são pais
e pais de amigos já não são ninguém?
Soubeste sempre, eu sei que soubeste sempre
como é que foste pensar que isso contigo iria ser diferente?
Não deste ouvidos nem puseste em questão?
Deste ouvidos aos teus amigos de litrosa na mão? Então...
Agora sabes que era só uma fase
por mais que eu saiba o quanto tu odeias esta frase
e logo agora que me imploravas que isto tudo acabasse,
ainda tens que decidir e está quase.

Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

A partir de agora vão parecer-te miúdos, todos imaturos e os amigos, não é por mal mas não contes com muitos
é uma ida sem volta, queres uma volta sem ida mas se deres a volta à vida, a vida volta?
Hoje vens da escola, o futuro pouco importa, fazes só o que queres fazer e nada te incomoda
São as modas, as drogas, as mocas, as motas, as voltas de microcar, as mensagens com quem trocas
as notas, as faltas, as negas, as falsas justificações de faltas que entregas, da praia e das festas
à noite as discotecas, está escrito na tua testa mas tu negas Vera, eu vejo...

Pegas nas chaves e sais, que não tem nada de mais, que são saídas normais e nada vai além
Eu sei onde é que tu vais e que eles te acham demais, pintas os olhos e sais, e queres enganar quem?
E os teus exames finais, e tu em festivais, e a conversa dos teus pais entra-te e sai-te a cem
Miúda vê onde vais, eles são todos iguais e amanhã quando acordares já não vais ter ninguém.


Sei que é difícil quando sabes que vais ser o colo de alguém
Sei que é difícil se assumes o que acontece e nem idade tens
Sei que é difícil, constróis a tua vida e descobres que és mãe
Sei que é difícil e tu também.

Agora para um pouco e pensa bem,
4 semanas, vai fazer o teste
Olha à tua volta e pensa bem,
5 semanas, vês o que fizeste?
Olha o teu futuro e pensa bem,
ainda te lembras daquilo que me disseste?
E agora volta atrás e pensa bem... "

(…)

-Posso, meu amor? - Bateu à porta a mãe e entrou devagar, sentou-se na cadeira junto à filha e olhou-a nos olhos e deu-lhe dois beijos. - Filha, o que se passou?
-O médico veio falar comigo.
-E então? O que te disse? - Rita tinha duas opções: ou mentiria e contava que não tinha dito nada de especial, ou contava-lhe que tinha recebido a maior surpresa da sua vida e que tinha um pequeno fruto do seu amor e do Fábio no seio do seu ventre, mas isso também significaria que seria também a primeira pessoa a saber, mesmo antes do pai da criança. Tinha apenas poucos segundos para decidir e acabou por engolir em seco, de seguida, abriu a boca mas as palavras não lhe saíram... Simplesmente não sabia como dizer isto à mãe sem a deixar desgostosa e envergonhada.
-Não consigo dizer-te, mãe. Não sou capaz. - Começou a chorar. A mãe abraçou-a e sussurrou-lhe ao ouvido:

-Meu amor, quero que saibas que aconteça o que acontecer, estarei orgulhosa de ti e do teu lado, nos bons e maus momentos. Sei que queres pedir desculpa pela noite de ontem, mas tu és jovem, tens o direito de querer fazer algo assim, acredita que tanto eu como o teu pai acreditamos que estás arrependida e que não voltarás a fazer, e se apanhares outra bebedeira não chegará a este nível, que terás mais cuidado. Mas ninguém te vai pôr de castigo por causa disto, acredita. - Ela limpou as lágrimas e sorriu.
-O Fábio está cá?
-Sim. Queres falar com ele?
-Gostava muito.
-Só te queria pedir uma coisa, Rita. - A rapariga assentiu. - Ele não está bem. Tenta falar com ele e esclarecer as coisas. São dos casais mais cúmplices, estáveis e bonitos da vossa geração, não desperdicem isso. - Dito isto sorriu e foi-se embora do quarto. Passado poucos minutos, Fábio bateu à porta.
-Posso?
-Queria mesmo falar contigo. - Fábio sentou-se ao lado dela.
-Rita, eu só quero o teu bem, depois temos tempo para falar sobre nós, mas primeiro tens de ter alta e descansar.

-Estou grávida. - Atirou sem pensar e com os olhos fechados com meio da sua reação.
-O quê?
-Se é difícil dizer a primeira vez não me obrigues a dizer a segunda, por favor.
-Rita, eu juro-te que não percebi. Falaste demasiado baixo e demasiado depressa. - Rita baixou a cabeça, perguntando a si mesma onde iria arranjar força para repetir o que tinha dito. Nem ela própria queria acreditar que realmente estava neste “estado” e dizê-lo fazia-o sentir ainda mais na pele e lidar com a nova realidade.
-Estou grávida. - Atirou rapidamente e de olhos fechados. - Agora já percebeste?
-Tens a certeza? - Rita abanou positivamente a cabeça, mas com a cara escondida entre as mãos, mas ouviu com clareza a reação de Fábio, que se levantou da cadeira e aproximou-se dela. A partir daí tudo mudou... Todas as reações que Rita imaginara que ele pudesse ter, foram surpreendidas por algo completamente diferente! Ele abraçou-a!

-Obrigada. Obrigada por fazeres de mim o homem mais feliz do mundo. - Rita ergueu a cabeça e ele deu-lhe um beijo na testa. - Eu sei que nenhum de nós desejou que acontecesse tão cedo, mas não achas que é um sinal? Vamos ser pais, caramba! É a melhor notícia que me poderias dar! - A rapariga olhou para ele e sorriu também. - Eu amo-te! Eu amo-te! - Dito isto esqueceu a zanga do dia anterior e beijou-a. - Mas agora é melhor termos cuidado... Ontem não te magoei, pois não? Eu não sabia, juro!
-Fábio, provavelmente ele é do tamanho de um feijão ou provavelmente mais pequeno que isso, não deu por nada!
-Será que ele já sente algo? - Tocou com a mão fria sobre a barriga de Rita e ela sentiu.
-O bebé pode não sentir mas eu sinto essas tuas mãos geladas na minha barriga quente!
-Desculpa! - Sorriram. - Achas que o consigo ouvir?
Assim que se encostou o seu ouvido à barriga da namorada, foram surpreendidos pela mãe dela juntamente com o pequeno Pedrito que mal se deparou com a situação, e teve de reagir como qualquer criança com tão tenra idade.

-Mana! - Correu até junto da irmã e do cunhado. - Tu e o Fábio vão ter um bebé?
-Rita, o que é que isto significa?
-Nós... Nós acabamos de saber. - Respondeu a medo.
-Foi por isso que pediste para o chamar? Querias contar-lhe?
-Sim. - Respondeu escondida nos braços de Fábio. - Eu queria que ele fosse o primeiro a saber.
-E já decidiram o que vão fazer?
Pedrito subiu para o cimo da cama da irmã e colocou a mão em cima da barriga da irmã.
-É menino ou menina? - Perguntou ingenuinamente Pedrinho.
-Vai lá para fora, filho.
-Mas mãe...
-Pedrinho, por favor, faz o que a mãe diz. - Pediu Fábio e o rapaz obedeceu.
-Tu não tomas a pílula?
-Sim, mas esqueci-me durante uns dias e pronto, aconteceu.
-Deviam ter tido mais cuidado, sabiam que isto poderia acontecer.
-Sim, mas se aconteceu é por algum motivo, e ainda vamos descobrir qual.
-Pensem bem antes de tomar qualquer decisão. - Pediu pacificamente. - Falo por experiência própria. Não vou querer tomar nenhuma decisão por vocês mas posso ajudar-vos.

-Obrigada mãe. - A mãe abraçou filha e genro em simultâneo e Rita deitou uma lágrima teimosa. - As hormonas estão a dar sinais de vida!
-Prepara-te, a gravidez mexe nas hormonas todas, e tu nem dás por isso!
-Vou tentar habituar-me à ideia.
-E meninos, antes de tomarem alguma decisão, façam as pazes! - Piscou o olho à filha e saiu do quarto sem lhe dar tempo de responder.
-Como é que a minha mãe sabe, Fábio Rafael?!
-Que ontem nos chateamos.
-Diz antes que fui a pessoa mais egoísta e parva do mundo.
-Já passou meu amor. - Acalmou. - Claro que me custou um bocadinho tudo o que se passou, porque podíamos ter resolvido tudo a falar, invés de termos as atitudes que tivemos, mas, também somos jovens, vamos cair, aprender e levantar-nos com as quedas, aprender com os nossos erros. E vamos fortalecer a nossa relação com o tempo e com tudo isto. Até porque agora nós somos mais que dois, agora é uma relação a três. - Pousou a mão em cima da camisola dela. - E só depois de saíres do hospital é que vamos conversar sobre o que queremos, devemos e vamos fazer, até lá, vais estar em descanso absoluto, pode ser? - Ela sorriu. Fábio era a sua metade, a pessoa que a completava e que iria ser o pai do seu filho... Sempre acreditaram que tudo acontecia por algum motivo, mas porquê naquele momento da sua vida? Iria descobrir com o tempo, estava certa!
-Posso pedir-te uma coisa?
-Tudo o que quiseres.
-Gostava que se chamasse Bernardo ou Clara, para honrar o meu falecido irmão.
-Nem tinha lógica ser de outra forma. - Deu-lhe um beijo na testa. - Quero cantar-te uma música que acho que nos descreve um pouco.

"(Even if we can't find heaven) (Mesmo se não conseguirmos encontrar o céu)

Hands (Mãos)
Put your empty hands in mine (Põe as tuas mãos vazias nas minhas)
And scars (E cicatrizes)
Show me all the scars you hide (E mostra-me todas as tuas cicatrizes que tens)
And hey, if your wings are broken (E olha, se as tuas asas tiverem partidas)
Please take mine so yours (Por favor, leva as minhas para que as tuas)
Can open too (Possam abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Oh, tears make a lot of sculps in your eyes (Oh, lágrimas fazem muitas marcas nos teus olhos)
And hurt, I know you're hurting, but so am I (E dói, eu sei que estás a sofrer, mas eu também estou)
And love, if your wings are broken (E amor, se as tuas asas tiverem partidas)
Borrow mine so yours (Vou emprestar-te as minhas para que as tuas)
Can open too (Possam abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Even if we're breaking down (Mesmo se entrarmos em colapso)
We can find a way to break through (E não conseguimos encontrar uma forma de acabar)
Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'll walk through hell with you (Vou andar pelo inferno contigo)
Love, you're not alone (Amor, não estás sozinho)
Cause I'm gonna stand by you (Porque eu vou manter-me ao teu lado)

Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'm gonna stand by you (Eu vou manter-me ao teu lado)
Even if we can't find heaven (Mesmo se não conseguirmos encontrar um caminho para o céu)
I'll walk through hell with you (Vou andar pelo inferno contigo)
Love, you're not alone (Amor, não estás sozinho)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-me ao teu lado)

Yeah, you're all I never knew I needed (Tu és tudo o que eu nunca pensei precisar)
And the hurt, sometimes it's unclear why it's bleeding (E a dor, às vezes não é clara porque está a sangrar)
And love, if your wings are broken (E amor, se as tuas asas estiverem partidas)
We can brave through those emotions too (Nós conseguimos encarar estas emoções também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-me ao teu lado)

Oh, truth, I guess truth is what you believe in (Oh verdade, eu acho que a verdade é aquilo em que acreditamos)
And faith, I think faith is helping to reason (E fé, eu penso que fé é ajuda por alguma razão)
Not, not, not, love, if your wings are broken (No, no, no, mãe, se as tuas asas estiverem partidas)
Borrow mine so yours (Vou emprestar-te as minhas para que as tuas)
Can open too (Puderem abrir também)
Cause I'm gonna stand by you (Porque vou manter-te a teu lado)"

-Sempre juntos?
-Para sempre? - Perguntou ela.
-Sim. Quero revelar-te.
-Quem é a ordinária?
-Hum? - Perguntou confuso.
-Estava a brincar contigo. - Sorriu. -Mas diz.
-Eu e tu temos longas conversas enquanto dormes.
-Fábio, eu não estou bem a dormir na realidade... Estou na fase sonâmbula e digo coisas que na verdade não diria se estivesse realmente acordada, mas lembro-me de tudo no dia seguinte. Já tu...
-Eu?
-Eu falo contigo enquanto dormes e tu respondes.
-A sério? Eu pensava que não era sonâmbulo...
-Acredita, és das pessoas mais sonâmbulas que conheço! Tu falas imenso enquanto dormes, falas com os teus sonhos e reages às vezes. Eu acordo de vez em quando e faço-te perguntas e tu esqueces completamente o teu sonho e respondes-me. Bem no início, eu tinha medo e receio que não gostasses realmente de mim e eu tive a certeza que sim, que gostavas, quando me respondeste a dormir, mesmo que nos teus sonhos, eu lá estivesse!

-Se tu soubesses a quantidade de vezes que sonhei contigo, ficarias surpreendida, ou melhor, não ficarias porque não seria surpresa.
-Nós namoramos à 3 meses e de todas as vezes que dormimos juntos não me lembro de uma em que não sonhaste comigo.
-Eu não sei porque sonho se posso realizar tudo contigo.
-Podes realizar o sonho de ires para o casamento já com filhos.
-E se eu me quiser casar antes desde bebé nascer?
-Que eu me lembre para um casamento é necessário que existam dois “sim”. E sinceramente tu queres casar-te com 20 anos? Isto é se te quiseres casar depois de Abril, senão terias 19 anos e eu 18.
-Eu sei que é demasiado cedo mas não é o passo certo para constituirmos família?
-E precisas de casar-te para seres uma família?
-Não é isso que estou a dizer-te. Mas seria sem dúvida o próximo passo a dar para ficarmos completos.
-Um filho hoje em dia é um compromisso maior que um casamento, porque enquanto os casamentos rapidamente se desfazem, um filho não. Um filho é a prova que estaremos unidos para o resto da nossa vida.
-Claro que eu não estava a pensar casar-me para já, mas depois do nascimento do bebé, não me parece que seja uma ideia tão longínqua quanto seria ontem.

-Não quero casar-me porque estou grávida, passaria a vida a perguntar-me se estarias comigo por amor ou porque queres o melhor para o bebé, não, isso não acontecerá Fábio. Eu não quero isso nem para mim, nem para nós, nem para este bebé. E temos ainda de pensar no que fazer, temos tantas opções em cima da mesa, temos de optar por algo, e isso tem prioridade em relação a qualquer outro casamento ou qualquer outra ideia.
-Bebé, eu só quero que penses noutras opções.
-Este bebé é a nossa maior opção e prioridade, neste momento. Eu amo-te mas é cedo demais.
-Estás a recusar o meu pedido de casamento? - Fingiu-se chocado e a brincar.
-Isto foi um pedido de casamento? Se sim, foi o pior que vi até hoje!
-Estava apenas a trocar ideias e talvez concordasses em casar-te, melhor dizendo, estava a apalpar terreno!

-Não sejas fresco que senão corres o risco de ficar mas é a pão e água!
-Não me resistias muito tempo!
-Talvez tenhas razão ou talvez não, quem sabe? - De repente o ambiente mudou e ambos suspiraram. - Achas que vou ser uma boa mãe? E que vou ficar muito inchada?
-Acho que vais ter um peito irresistível e que eu dificilmente vou resistir a adormecer por lá!
-Fábio, eu estou a falar a sério.
-Rita, eu conheço-te. - Encostou as suas mãos nas dela. - Sei quando dizes uma coisa mas no fundo queres dizer o contrário, sei interpretar os teus barulhos e os teus silêncios, sei, porque te conheço, bem, mesmo que te assuste pensar que isto é verdade. E eu só não te digo o que tu queres ouvir porque eu quero que reveles o que sentes, sem eu precisar falar, quero que tenhas um completo à vontade comigo como não tens, nem tiveste com mais ninguém. Claro que é cedo porque a nossa relação ainda parece muito precoce, temos apenas 3 meses de namoro, mas nós, alguma vez, seguimos as regras ditas normais? Alguma vez fomos ao ritmo de alguém? Nós somos nós, apenas e só. Acho que sermos completamente sinceros um com o outro e falarmos sobre tudo vai fazer esta relação manter-se e fortalecer-se.

-Eu confio em ti, mas nunca vou conseguir abrir-me completamente em relação ao que sinto e penso, tenho medo de te magoar, de te desiludir. Sou demasiado pensativa, sabes? E isso vai-me sempre impedir de ser completamente feliz alguma vez! Eu estou grávida... É o meu maior sonho desde sempre! E sabes o que penso? Se serei boa mãe, ou se serei uma boa matriarca da família, se este bebé me vai levar tantas energias que vou abdicando de ti e da nossa relação. - Fábio sentou-se na cama e abraçou-a.
-Vamos fazer um acordo, sim? - Ela abanou a cabeça afirmativamente. - Vais descansar e evitar pensar no assunto enquanto aqui estiveres, quando tivermos alta falamos pode ser? Sei que vai ser difícil não pensares em todas essas questões na tua cabeça que não te vão deixar escutar o coração direitinho, mas tenta desfrutar apenas deste bebé sim? Eu vou deixar tudo prontinho em casa para te receber quando tiveres alta, pode ser?
-Sabes que os meus pais devem querer-me por casa, não sabes?
-Claro que sim, mas depois deles te estragarem de mimos, estrago eu, afinal já não à nada que te possa fazer que não tenha feito.
-E se eles me fizerem perguntas por causa da gravidez?
-Dizes que ainda não falamos sobre isso, pode ser?

-Combinado! - Deram um “passou-bem”. - Trouxeste alguma coisa para mim, ou vou ter que ficar a reclamar contigo e contar aos teus filhos que fizemos as pazes, me vieste ver ao hospital e que descobrimos que estava grávida e tu não me trouxeste nada?
-Tenho eternamente o poder de deixar o melhor para o fim. - Tirou as gomas do bolso traseiro das calças.
-É suposto eu comer isso?
-Se quiseres como eu, não me importo nada, sabes disso?
-Deixa estar que eu faço o esforço. - Mesmo estando à vista as gomas na mão de Fábio, Rita decidiu ser mais atrevida e colocar a mão no seu rabo e apalpar. - Onde estão mesmo?
-E aposto que a ideia dos teus pais é que eu é que sou o atrevido desta relação!
-Pobres criaturas ingénuas! - Exclamou sorrindo. - Onde estão as gomas mesmo? - Roubou-lhe o pacote da mão e tirou uma goma e colocou na boca, depois de alguns segundos, Fábio deu-lhe um beijo e roubou-lhe a goma.

-Cá se fazem cá se pagam. - Ambos se riram. - Eu agora tenho de ir andado porque os teus pais ainda têm de te ver e falar com os médicos, sim?
-Tens mesmo de ir? Está tanto frio, podíamos ficar aqui a dormir e fazias conchinha comigo. - Fez beicinho.
-Espero bem que o nosso filho não herde isso porque seria difícil dizer-lhe que não.
-Isso quer dizer que sim?
-Quer dizer que te estou a resistir mas que ainda hoje volto. - Deu-lhe um beijo na testa. - E antes que me esqueça e porque sei que adoras uma Margarida simples. - Abriu a porta do quarto e agarrou numa única flor que tinha deixado escondida. - Aqui tens. - Rita sorriu e ele deu-lhe um beijo. - O melhor fica sempre para o fim. Amo-te.
-Também te amo muito. - A rapariga sorriu como uma adolescente apaixonada e feliz e depois de ouvir aquele amo-te esqueceu-se pela primeira vez desde que soubera que estava grávida e imaginou-se apenas com Fábio, os dois sozinhos e felizes como sempre e como nunca.

Será que Rita vai cumprir o acordo?
Que surpresa estará a preparar Fábio? Será que vão seguir com a gravidez para a frente?

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Capítulo 41: “Quem ama, cuida e preocupa-se.”


Rita queria chorar mas as lágrimas não lhe caiam pelo rosto, nem as palavras eram expulsas pela sua boca, ela queria poder responder mas não conseguia dizer nada nem reagir, mas Fábio pelo contrário, depois de uns segundos de choque, finalmente conseguiu reagir.

-Rita. - Tiago afastou-se e deixou Fábio aproximar-se.
-Nem tentes. - Virou costas e começou a caminhar para sair dali rapidamente. A dor estava presente, não só na sua cara, como também no seu coração, e essa era uma dor que tão cedo não iria sarar e demoraria muito mais a curar que a dor na sua face.
-Amor. - Ele correu até junto dela.
-Desaparece daqui! - Gritou aos berros.
-Deixa-me pelo menos levar-te para casa.
-Não quero saber de nada do que tenha a ver contigo.
-Estás a ser injusta!
-Estou? - As lágrimas caíram pela cara e a revolta e a dor eram óbvias na sua expressão mas também no olhar carregado de uma série de sentimentos que Fábio nunca tinha visto nos seus olhos. - Porque a mim parece-me que até estou a ser simpática contigo!
-Eu não queria bater-te! - Respondeu também ele revoltado.
-Fábio, esquece, acabou! - De repente, Fábio parou e olhou para Rita diretamente nos olhos, como que pedindo esperança. -Acabou esta conversa, desaparece! - Nunca Fábio tinha ficado tão feliz com uma resposta tão fria de Rita. A rapariga correu dali para fora sem destino certo mas mergulhada numa dor imensa e com as lágrimas a correrem-lhe pela face e a molhar os olhos, e quase provocando um atropelamento, porque ela atravessou-se na passadeira e não viu o carro a pouca distância. Correu até ao pequeno areal que não existe longe e deitou-se em cima da área e deixou-se chorar durante minutos a fio. Era mais que um simples estalo, era muito mais que isso... Já lhe tinha mostrado que o amava com imensas provas de amor, gestos, palavras e atitudes, mas ele parecia ainda duvidar desse amor e daquela relação, era óbvio pela sua reação com Tiago, pela insegurança que Fábio tinha em relação a ele. Tinha-lhe dado o privilégio de ser padrinho da sua afilhada e sobrinha, tinha vivido com eles experiências únicas e apresentar-lhe logo os pais e em especial particularidade o irmão, tinha-lhe aberto o coração e tinha-lhe dado tudo o que pertencia e amava-o como nunca tinha sequer ousado amar Tiago mas parecia nunca ser suficiente! Do que adiantava dizer que a amava e confiava nela se com atitudes comprovava o contrário?

105 is the number that comes to my head (105 é o número que me vem à cabeça)
When I think of all the years (Quando penso nos anos)
I wanna be with you (Que quero estar contigo)
Wake up every morning with you in my bed (Acordar contigo todos os dias na minha cama)
That's precisely what I plan to do (É exatamente o que planeio fazer)

And you know one of these days (E sei que um dia destes)
When I get my money right (Quando receber o meu dinheiro direito)
Buy you everything (Vou comprar-te tudo)
And show you all the finer things in life (E mostrar-te todas as “coisas finas” da vida)
Will forever be enough (O “para sempre” nunca será suficiente)
So there ain't no need to rush (Não é preciso apressar-nos)
But one day, I won't be able to ask you loud enough (Mas 1 dia, eu não serei capaz de pedir-te alto o suficiente)

I'll say will you marry me (Eu vou dizer-te queres casar comigo)
I swear that I will mean it (Eu juro que vou dizer-te)
I'll say will you marry me (Eu vou dizer-te queres casar comigo)
Singing oohh, ooh, ooh (A cantar, oohh, ooh, ooh)
Oh yeah (Oh sim)

How many girls in the world (Quantas raparigas no mundo)
Can make me feel like this? (Conseguem fazer-me sentir assim)
Baby I don't ever plan to find out (Bebé, eu planeio nunca descobrir)
The more I look, the more I find the reasons why (Quanto mais olho para ti, mais encontro razões porque)
You're the love of my life (És o amor da minha vida)

(…)

And if I lost everything (E se perder tudo)
In my heart it means nothing (No meu coração, nada significa)
'Cause I have you, girl I have you (Porque te tenho, rapariga, porque eu te tenho)

O telemóvel de Rita tocara com aquela música e ela demorou alguns segundos a atender, lembrara-se da vez em que Fábio lhe cantara aquela música e da forma apaixonada e sentida com que o fizer, e do que aquela música significara... Ele era um mulherengo antes de a conhecer e mudara tanto por causa dela e por causa da relação que os unia, do que ambos sentiam. Limpou as lágrimas e olhou para o ecrã, ao contrário do que esperava, não era Fábio, mas sim Pedro! Mas afinal porque lhe ligara? Tinha que o atender.

-Sim? - Tentou recuperar a voz normal, de quem não tinha chorado durante imenso tempo.
-Estás onde? - Rita percebeu exatamente que Pedro sabia tudo e começou a chorar novamente.
-Eu quero estar sozinha.
-Rita, tu não estás bem, tu precisas de alguém para estar contigo.
-Preciso de uma pessoa que me ame, sem medo e que não me agrida apenas porque tem ciúmes.
-Rita, estás a ser injusta, ele não te queria agredir porque estava com ciúmes, ele não quis agredir ninguém!
-Tu a defendê-lo? Pedro, isto não tem defesa possível!
-Rita, eu não quero saber de quem tem razão ou não, eu quero dar-te um abraço forte e chorares no meu peito, depois quando te acalmares podes falar comigo ou não, depende do que te apetecer fazer.
-Estou no areal junto aos barcos.

Rita limpou as lágrimas e respirou fundo mais de duas mãos cheias de vezes até se sentir mais calma, depois começou a pensar em toda a sua vida, desde antes de conhecer Fábio, desde o momento em que soubera da separação dos pais e que descobrira a traição de Tiago, e nunca pensara que doera mais um estalo do seu atual namorado do que aquela traição. Mas os seus pensamentos rapidamente foram interrompidos por uma voz que tão bem conhecia mas não esperava, de todo, naquele momento.

-Rita? - Ela virou-se rapidamente e levantou-se.
-O que fazes aqui?
-Quero falar contigo.
-Desaparece!
-Tem calma, precisamos de falar.
-Eu não quero falar contigo!
-Dá-me um beijo para eu sentir pelo menos que ainda me amas.
-Os sentimentos não mudam do dia para a noite, devias saber isso, acima de tudo, devias senti-lo.
-Eu sei disso, mas o medo de te perder é irracional.
-Eu chamo isso a insegurança que tens em mim.
-Não, acredita que não é. - Ele mudou o tom... Estava calmo e parecia falar diretamente do coração, de uma forma completamente diferente das que tinha feito anteriormente, ela não o conhecia daquela forma. - É a insegurança que tenho de mim mesmo. O medo terrível de perder-te por um erro estúpido qualquer que eu sei que ia cometer.
-E porque não falaste comigo antes?
-Porque tive medo de me revelar contigo e te desiludir e de quereres terminar comigo.
-Eu não quero terminar nada, simplesmente é muito para digerir e eu quero pensar... - Rita tinha tanta vontade de chorar mas não podia, ela ia fazer-se de forte para bem de si mesma.
-Respeito isso. Queres dar um tempo?
-Não. Eu não quero fazer isso. - Disse sem hesitar. - Simplesmente preciso de uns dias para pensar em tudo.
-E eu vou dar-te todo o tempo que precisares Rita. Acredita que se me deres uma nova oportunidade vou mudar.
-Não precisas de uma nova oportunidade porque nada acabou, simplesmente quero algum espaço pessoal e isso é algo que só posso fazer sozinha, sim?
-Eu vou deixar-te sozinha. - Ela sentou-se na areia, sentia já não ter forças nas pernas para estar em pé. - Só quero pedir-te desculpa mais uma vez e dizer que te amo.
-Eu também te amo. - Fábio estava prestes a ir-se embora mas foi interrompido o caminho pela voz de Rita que o parou. -Podes dar-me um beijo?
-Pensei roubar-to mas decidi não o fazer.
-Não é roubado quando é pedido e dado. - Ela inclinou a cabeça para trás e ele deu-lhe um beijo na testa. - Eu falei de um beijo, não de um beijinho. - Fábio sorriu e decidiu dar-lhe um beijo sentido e com saudades nos lábios, de seguida foi-se embora sem ambos dizerem nada mais e sem trocarem mais um único olhar. Ela precisava de escrever, precisava de desabafar sobre o que sentia, sobre tudo o que tinha vivido nos últimos meses, mas também sabia que não o conseguia fazer, não enquanto estivesse tudo demasiado a quente na sua cabeça e no coração, mas talvez falar em voz alta a ajudasse a aclarar os seus pensamentos.

-Fábio, eu só quero que entendas que o que mais me doeu, não foi o estalo. A dor física passou, mas as palavras que tu me disseste magoaram mais que tu possas imaginar... - Suspirou e limpou mais lágrimas que não paravam de cair mas embora em menos quantidade. - É a tua insegurança. Eu sei que dizes que tens medo de me perder, por algo que faças ou tenhas, mas eu sei e sinto que tens medo é de mim. Medo que me vá embora... Medo que não te ame o suficiente. E é isso que me magoa mais. - Limpou as lágrimas e decidiu ir almoçar, afinal quem conseguia pensar direito com o estômago vazio?
Foi até à paragem de autocarro mais próxima e apanhou um autocarro mas até esse sítio lhe trazia memórias... Memórias de Fábio e de Tiago.

(Lembrança)

-Apesar de nos conhecermos há pouco tempo, já sei algumas coisas sobre ti 
pequenina. – Talvez fosse um termo carinhoso que Fábio lhe tinha dado para 
demonstrar a sua amizade, ou fosse apenas o modo de lhe relembrar que era pequena 
ao seu lado. – E fica sabendo que só chamo amigos quando existe mesmo confiança. 
Mas sabes ultimamente tenho andado a adorar falar com estranhos, desabafar 
com eles. É como senão te criticassem. E não te julgassem.
-Os estranhos parece que nos ouvem melhor que os amigos. Quando soube que os 
meus pais se iam separar, a primeira coisa que fiz foi apanhar um autocarro e 
falar com estranhos, senti essa necessidade. Podes chamar-me maluca mas foi o 
que quis fazer. Mas nunca, nem por um segundo, deixar o meu irmão para trás. 
Ele foi comigo.”
(Fim de Lembrança)

Rapidamente chegou a casa e foi a pé o curto caminho que a separava de sua casa, e subiu... Mas o instinto levou-a até casa de Fábio, foi a meter a chave na porta que percebeu que estava no local errado. Tinha de ir para sua casa. Respirou fundo e foi até sua casa, mas foi surpreendida por um excelente cheiro que pairava pela casa. Nem a mãe, nem o pai lhe tinham dito que iam almoçar a casa e ela sinceramente não queria partilhar espaço com ninguém, queria comer calmamente e sair novamente para destino incerto. Foi até à cozinha e deparou-se com Fábio de avental e a cozinhar, noutra altura teria comentado que era o sonho de qualquer rapariga mas naquele momento não teria qualquer interesse em apreciar um dos lados mais atrativos do seu namorado.

-Que fazes aqui? - Perguntou com rudeza.
-Apesar de estares chateada comigo, eu não deixo de me preocupar e vim preparar o almoço para ti, apesar de não saber se vinhas almoçar ou não, mas não te preocupes mal acabe, eu saiu.
-Obrigada por te preocupares.
-Quem ama, cuida e preocupa-se.
-Quem ama, confia. - Respondeu friamente.
-Bem, vou embora. - Rita agarrou-o no braço, impedindo-o de se ir embora.
-Por favor, fica.
-Não te entendo, sabes?
-Alguma vez intendestes? Sou mulher, dá-me um desconto. - Ambos sorriram.
-E eu estou apaixonado pela primeira vez, dá-me também a mim.
-As relações são complexas! - Concluiu ela. - Mas devem ser viciantes, porque não consigo pensar sequer na ideia de estar sem ti.
-Então porque não esquecemos tudo o que se passou hoje e recomeçamos?
-Não abuses. - Disse novamente fria e Fábio sabia que estava a pisar terreno incerto e que precisava de ter cuidado, nunca tinha visto a namorada assim mas tinha demasiadas memórias dela e conhecia-a demasiado para decifrar algumas pequenas partes dela que talvez a ajudassem.
-Sabes do que me lembrei?
-Não. Ainda não existe nenhuma máquina que leia mentes.
-Da primeira vez em que dormimos juntos.
-Mas tu até nestas horas és perverso?
-Nada disso, princesa. Escuta-me.

(Lembrança)
Fábio ficou surpreendido pelo estranho pedido de Rita, mas sorriu. Fora inocente o pedido e explicara as suas razões mas a mente do jovem trucidara-o, queria levá-lo para caminhos que ela não queria e ele tentava afastar aqueles pensamentos ao máximo. Queria desfrutar de uma amizade sem segundas intenções. Perguntou:

-Tens a certeza? Não quero outras interpretações nossas ou mesmo do teu pai. –Respondeu nervoso, lembrando-se do que dissera ao pai da sua amiga. Sabia que Rita o conhecia, que reconhecia o seu estilo. Ele não era homem de se apaixonar e de ter relações sérias e ela sabia melhor que ninguém, já conversaram mais que uma vez sobre esse assunto. Ele tinha medo do rumo que aqueles mimos pudesse levar, mesmo que inocentes. Queria que ela permanece-se na sua vida, como amiga.

-Não entendi essa do meu pai, mas adiante. – A jovem não fazia ideia de que Fábio prometera ao seu pai tomar conta dela, enquanto amigos e nada mais. – Já somos crescidinhos o suficiente para distinguirmos a amizade do amor. Além do mais não há segundas intenções. Pelo menos da minha parte. – Disse frisando bem a sua posição.

-Da minha parte igual. – A amizade entre eles estava mais forte não só a cada dia que passavam juntos mas como a cada olhar trocado, a cada palavra dita e a cada atitude, mesmo que involuntária. Começavam a moldar o seu feitio de forma a conseguirem manter uma amizade e á forma de ser e estar com a vida. Fábio vi-a como amiga, sem intenção de vir a ser mais uma conquista na sua (longa) lista, e Rita começara a abrir o coração para Fábio e vi-a nele um amigo, em quem podia apoiar-se e recuperar de tudo o que lhe acontecera. – Chega-te mais para junto de mim, minha doentinha.– A rapariga aproximou-se dele e Fábio encostou os ombros à parede e deixou as costas num ângulo de 75º e com este gesto ficou com os pés fora da cama e ambos soltaram um sorriso.

-Quem te manda seres enorme? – Perguntou ela sorrindo deparando-se aquele particular momento.

-Quem te manda seres pequena? – Respondeu ele também de pergunta.

-A mulher é como a sardinha só se quer é pequenina! – Rita deixou-se deslumbrar durante uns segundos pelo sorriso de Fábio. Não podia negar a si mesma que ele era bastante atraente e bonito e o sorriso levava-o ao extremo da sua beleza. – Posso encostar-me ao teu ombro? –Perguntou depois de afastar aqueles pensamentos que ela não queria ter, não estava interessada em ter relações sem ser de amizade com qualquer outro rapaz, nem sérias, nem menos sérias e não com um rapaz que era, de momento, o seu único amigo.

-Encosta! – Colocou a palma da mão sobre o fundo das costas de Rita e fez uma ligeira pressão para ela se aproximar dele e ela obedeceu-lhe. Encostou a cabeça entre o seu peito e o seu ombro e deixou-se ficar. Era bom sentir-se protegida, sentir que gostavam dela e a apoiavam. E Fábio, o seu único amigo, apoiava-a e estava ao lado dela quando precisasse, já dera provas disso. Pela primeira vez Rita sentiu de perto, o perfume de de Fábio e gostou. Era um bom cheiro, não era exagerado e era viciante, quanto mais cheirava, mais queria cheirar. Ouvia o seu coração a palpitar não muito feroz e acalmava-a.
Ele colocou a sua mão na cabeça de Rita, entre os cabelos e começou a massajá-los. Queria mimá-la e fazer com que ela não se sentisse sozinha, iria satisfazer o pedido de Rita mas também a pensar na promessa que fizera a Luís. Desligou a televisão e ela sussurrou:

-Amo que me mexam no cabelo! – Disse a jovem doente com os olhos fechados e a sorrir, mas ele apenas consegui-a ver o sorriso da amiga.

-E eu amo mexer nos cabelos dos outros! – Ela sentia-se protegida e ele sentia que estava a cuidar da amiga, era um gesto de amizade e de carinho. – Agora fecha os olhos e deixa-me mimar-te que bem precisas de miminho! – Afirmou inocentemente.
-Mas com juízinho menino. – Sorriram e ele deixou-se ficar deitado e a fazer leves cócegas na cabeça de Rita e ouvia-a a respiração dela. Durante alguns minutos, ele continuou a massajar a cabeça de Rita e a sentir os fios de cabelo dela tocarem na sua pele, a respiração de Rita tornou-se mais pesada e Fábio olhou para ela, tinha adormecido. Estava a dormir carinhosamente e pacificamente.

Os lábios dela pareciam mais carnudos e atraentes enquanto dormia e o desejo dele era de tomá-los como seus mas deixou o seu desejo acalmar e fez uma leve festinha sobre a bochecha dela e admirou-a durante segundos. “Como conseguia ser uma pessoa tão forte depois de tudo o que lhe acontecerá?”, “Porque tentava demonstrar que estava sempre tudo bem quando sentia o seu mundo a desabar?”, “Porque Rita se tinha afastado de tudo e de todos, inclusivé mãe, família e amigos?”, “Será que ela o considerava mesmo seu amigo?”, “Porque Rita o admirava tanto ao ponto de teres fotos suas no seu quarto?”. Tantos pensamentos invadiram a sua cabeça e ele queria saber todas as resposta mas acabou também por adormecer. Os corpos de ambos tombaram sobre as mantas e os pés de Fábio ficaram ainda mais fora da cama.”

(Fim de Lembrança)

-Isso foi pouco depois de nos conhecermos não foi? - Sabia bem quando tinha acontecido mas fingira não saber para não dar parte fraca e Fábio ficou dececionado.
-Sim. Quando andavas com aqueles enjoos e tudo, tinha-te obrigado a fazer um teste de gravidez, sendo tu virgem.
-Eu sabia que não estava grávida, mas tu mesmo assim forçaste-me, como sempre sem confiar em mim.
-Sabes, Rita? - Levantou-se da mesa onde já almoçavam claramente chateado. - Eu estou a tentar mas tu simplesmente estás a dificultar-me demasiado, chegas ao ponto de ser rude!
-Vais desistir de mim? - Perguntou desiludida.
-Nunca vou desistir de ti, acredita. - Mas Fábio até chateado, era romântico, perguntava interiormente Rita. - Estou a desistir deste almoço dos dois. - Fábio levantou-se da mesa com rumo a sua casa, mas foi travado por Rita, que o agarrou no braço. - Por favor, não vás.
-O que vai mudar, Rita? A tua forma de rudeza? Ou a tua capacidade de me dizeres que errei mais que uma vez na nossa história?
-Preciso de ti.
-Para quê? - Rita aproximou-se dele e colocou os braços sobre os ombros dele e ficaram frente a frente, enquanto ele colocava as mãos no fundo das suas costas, abraçando o seu corpo com os seus braços.
-Para me amar. - Dito isto beijou-o e o que começou com um beijo inocente rapidamente acabou com as roupas no chão e dois corpos nus em cima de uma cama. Depois do momento, nenhum sabia como reagir ou o que dizer, mas foi ele que tomou a iniciativa:

-E agora? Fica tudo bem? - Com aquelas palavras, Rita despertou do “transe” em que estava a sua cabeça e começou a procurar a roupa e a vestir-se.
-Isto não foi nada. - Para Fábio todo o mundo desabara, ou pelo menos o seu coração parecia cair. - Foi sexo de compaixão, não sexo de retorno.
-Como tens coragem? Como consegues?
-Não tenho sentimentos... É isso! - Respondeu Rita sorrindo.
-Não conhecia este teu lado...
-Insensível! - Disse ela.
-Bruto e rude! Mas sei que não és assim, e não é isto que me vai fazer desistir de ti, nem nada!
-Vou-me embora! - Pegou na sua mala e foi-se embora sem dizer mais nada, deixando-o completamente despido de qualquer roupa e numa confusão imensa de sentimentos e dúvidas.

Rita saiu de casa e bastou caminhar apenas mais uns minutos para ouvir um piropo no carro:

-Oh gata, podes dar-me o teu número? - A rapariga não olhou mas o carro continuou a prosseguir ao seu lado. - Se tivesses solteira, acredita que não me escapavas. - Noutra circunstância qualquer, Rita teria ignorado e continuado o seu percurso mas simplesmente não estava com paciência e estava farta de rapazes, por isso virou-se para o carro e decidiu responder.
-Ouve lá! - Quando reparou no dono do carro, calou-se. - O que fazes aqui?
-Pensei que talvez não tivesses bem e precisasses de ir jantar fora e passear.
-Sabes que o culpado de estar assim és tu?
-Não, não sou. - Respondeu com um sorriso irónico. - A culpa é do teu namorado que respondeu com um estalo a uma simples conversa.
-Tu nunca foste santo, não me tentes enganar, tu provocaste-o.
-É verdade que provoquei, mas existe desculpa para partir para a violência? - Rita ia responder mas decidiu não o fazer, ela conhecia bem os dois lados da questão. - E também te conheço bem, sei que não estás bem.
-E como sabias que iria estar pela rua?
-Porque conheço-te. Primeiro precisas de espaço e eu dei-te, agora querias mimo e eu vim-te dar.
-Eu tenho o Fábio, ainda somos namorados, caso me lembre.
-Ainda? Isso quer dizer alguma coisa.
-Não quer dizer nada, é uma expressão. É só algo menos bom que se está a passar na nossa vida, vai passar.
-E nós?
-Não existe um nós. Tu acabaste-o quando te envolveste com a Adriana.
-Eu errei.
-É um erro sem perdão. E eu sou feliz com o Fábio, e tu vais encontrar outra pessoa.
-E se eu só te quisesse a ti? E tentasse alguma coisa contigo?
-Se me conhecesses sabes que não é não. Eu tenho o Fábio, e amo-o. Tu és o meu primeiro amor, nunca te vou esquecer, mas o nosso tempo chegou ao fim.
-E se ficássemos apenas amigos? Como nos velhos tempos antes de namorarmos?
-Assim aceitaria jantar contigo.
-Então vamos. - Ele acelerou e acabaram por jantar e depois foram para uma discoteca próxima, onde Rita não aguentou a dor que vivia no peito e decidiu beber muito mais do que o seu corpo aguentava.

(No dia seguinte)
Rita tivera uma noite terrível e não tivera um melhor despertar, tinha bebido demasiado e tinha acabado por ir parar ao hospital... Em coma alcoólico. Não queria acreditar, ela nunca tinha cometido uma loucura típica de adolescente, raramente sai-a à noite e era uma rapariga calma para a idade, mas tinha abusado e ela estava ciente disso, a prova era claro, o local onde estava: numa cama de hospital. Tinham-lhe feito uma lavagem ao estômago, mas o que mais lhe doía era a alma. E o coração. Queria chorar e ir diretamente para os braços de Fábio e chorar por lá até se sentir melhor, mas sabia que tinha sido injusta com ele e não lhe poderia fazer isso. Tinha de suportar a dor sozinha. Até que o médico entrou no seu quarto:

-Como está menina?
-Estou a recuperar doutor.
-Precisamos de falar.
-Eu sei que fiz mal, doutor. Acredite que é a primeira e última vez, prometo.
-Não é isso, Maria. - A rapariga nunca na sua vida iria habituar-se a que lhe chamassem de Maria em inverso de Rita, mas estava mentalizada que era o seu primeiro nome. - Tem de pensar de forma diferente. A sua vida não é a única que está em risco agora.
-O que quer dizer com isso, doutor? - Rita não queria acreditar, talvez tivesse ouvido mal... Talvez ele não quisesse dizer isso. Ela precisava de confirmar o que não queria ouvir.


Como irá reagir Rita?

O que quererá o médico dizer? Ou será um falso alarme?