segunda-feira, 23 de março de 2015

Capítulo 28 “Não te quero perder, mas também quero o melhor para ti.”


-Eu confio em ti princesa, mas não consigo expressar tudo o que sinto, contigo. Tu é que perdeste um irmão, e tens aguentado este barco sozinha, sem demonstrar pressão ou dificuldade, deveria ser eu a oferecer-te os meus braços para chorares nele.

-Fábio, apesar de ter uma irmã mais velha, desde muito pequenina, que tenho um sentido de responsabilidade muito atento, principalmente desde que o Pedrito nasceu, por isso sei bem lidar com a pressão de aguentar tudo isto sozinha, além do mais, neste momento não tenho vontade de chorar, nem de falar sobre a morte precoce do meu irmão, quero apenas ouvir-te desabafar e oferecer-te os meus braços como porto seguro, como tu, muitas vezes, foste o meu. – Fábio encostou a sua cabeça à barriga de Rita e ela fez-lhe uma pequena festa na sua face e foi quanto baste para irromper em lágrimas.
Cada segundo que passara a ouvir Fábio a chorar, fazia com que Rita senti-se o seu coração a apertar-se e a apertar-se, cada vez mais, e o sentimento de impotência dela apoderava-se, mas nada poderia fazer para o combater, o seu grande companheiro e amigo chorava a morte de alguém que ela também amava, mas suportava a dor de uma forma diferente. A dor de Fábio era horrível e como era a primeira vez que a sentia não sabia como lidar bem com ela.

-O meu coração está apertado só de te ver assim. – Sussurrou Rita baixinho, tentando, sempre, limpar as lágrimas que corriam por aquelas bochechas e pareciam duplicar-se cada vez mais e a um ritmo cada vez mais rápido, mas limpava as lágrimas sempre que lhe escorriam pelas bochechas, tentando suavizar a dor dele e acalmar-se. -Sei que tudo o que te possa dizer não vai suavizar a tua dor, mas o meu irmã está agora em paz.
Fábio sentia-se, um pouco, mais calmo, ao lado de Rita, e com o tempo aquela pouca sensação de calma superou o sentimento de dor.

-Desculpa. – Murmurou Fábio. – Eras tu que deverias chorar nos meus braços, nunca eu nos teus.

-Amor. – Pegou na cabça de Fábio e colocou-o na almofada, à sua frente, olhando-o nos olhos e viu-o sorrir. – Além de namorados, somos amigos e podemos chorar e desabafar um com o outro em qualquer altura, estamos a apoiar-nos em conjunto.

-Nós... Nós somos namorados? – Perguntou admirado.

-Só falta o pedido. – Disse sorrindo para Fábio e ele retribuira.

-Queres namorar comigo?

-Quero muito, meu bem! – Rita tomou a iniciativa e beijou-o. –Este foi o melhor beijo da minha vida.

-E o meu também. - Ambos partilharam um sorriso de orelha a orelha. – Desculpa mas não tenho nenhum pacote de gomas para te dar, de momento.

-Assim começamos com o pé esquerdo. – Virou-se de costas para ele, de braços cruzando, simulando estar chateada.

-Senhora Cardoso. – Disse pousando a cabeça sobre a de Rita, e a mão pousada sobre a sua barriga. –Peço desculpa por não ter um pacote de gomas, mas tenho um gelado de gomas no congelador, se quiseres.

-Sabes o que quero? – Voltou-se e voltaram à posição original, frente a frente, - Quero sentir os teus lábios nos meus, agora.
Fábio beijou Rita com saudade, com carinho e com amor. Ela deitou-se de barriga para cima e ele estava de gatas sobre ela, mas nunca largando os lábios da sua namorada, as mãos dela agarravam o cabelo dele.

-Bé. – Disse Fábio entre beijos. – Queres gelado?

-Estamos aqui tão bem, deixa-te estar. – Disse puxando-o mais para junto dos seus lábios, tentando beijá-lo.

-Tenho medo da carga emocional deste momento. Ainda é cedo... Não estás preparada.

-Coisa boa. – Disse pousando as mãos sobre as bochechas dele. –Não aconteceu com o Tiago porque, além de não estar preparada, a vida não fez com que acontecesse, as coisas acontecem quando tiverem de acontecer. Não o vais pressionar e eu também não.

-A nossa relação precisa de desenvolver para o fazermos, é um momento muito especial, aliás é um momento único e inesquecível. Não quero que te arrependas de o teres feito comigo e que fiques com más memórias.

-Fábio. – Passou a mão sobre a bochecha esquerda dele. – Não posso dizer que te adoro, o sentimento é mais forte que isso, posso dizer apenas que és alguém que eu gosto mesmo muito e eu quero fazê-lo contigo, podes acreditar. Não tenho a certeza se tudo vai correr bem e vou perceber tudo aquilo que dizem logo da primeira vez que o façamos, mas estou disposta a dar-te essa experiência, estou disposta a confiar em ti a esse nível, porque mesmo que esta relação algum dia não resulte, sei que vai continuar a existir uma grande amizade entre nós.

-Podes ter a certeza! – Fábio deu-lhe um beijo na testa. –Eu gosto um milhão de ti sabias?

-Gosto de ti dois bilhões.

-Não gostas mais de mim, que eu de ti. – Deu-lhe um beijo rápido nos lábios. –Amanhã vamos ver a tua mãe, a primeira visita enquanto ela oficialmente minha sogra?

-Sim, quero ir visitá-la. Falei há pouco com o meu pai e ela depois de amanhã deve ter alta. Vais ter comigo à escola e depois vamos buscar o Pedrito e vamos ver a minha mãe?

-Amanhã vais à escola?

-Sim, é importante para o meu irmão voltar à realidade e tentar abstrair-se de tudo e eu não posso faltar mais, tenho vindo a perder matéria.

-Acho que devias ficar mais um dia ou dois em casa, para descansares a cabeça e para te sentires com mais força para voltares ao mundo real.

-Mas não posso perder mais matéria.

-Depois podes pedir os apontamentos às tuas colegas, precisas de descansar.

-Mas não me faz bem ficar em casa, faz-me pensar mais no assunto e aí sim, acuso a pressão e a culpa.

-Não podes, nem deves sentir culpa. Tu não tiveste culpa de nada, tudo aconteceu porque tinha de acontecer, foste tu que me ensinaste isso. – Rita sorriu, agora era ele a animá-la e a apoiá-la.

-Talvez se eu tivesse pedido à minha mãe para esperar um pouco mais por mim, talvez se eu lhe tivesse ligado antes dela descer as escadas, ela estaria a dormir e o bebé estaria entre nós.

-Princesa. – Rita tinha a cabeça pousada sobre o peito de Fábio e ele apertou-a nos seus braços. –Não tens culpa de nada, não tens de te sentir assim, aconteceu porque tinha de acontecer, nada o podia fazer, ou travar. O Bernardo ou a Clarinha estão em paz, a olhar por ti no céu, e a tua mãe está bem, está sem dores.

-Obrigada. – Deu-lhe um beijo na bochecha. –Obrigada por tudo, por tudo mesmo. Gosto tanto de ti. – Cruzou os seus dedos com os de Fábio.

-Adoro-te minha pequena. – Beijaram-se, aquele era um beijo romântico e espontâneo, o sentimento que os unia era forte e crescia cada dia mais, além de amigos, eram namorados, e já passaram juntos momentos realmente bons, juntos, Fábio aconchegou-a entre os seus braços e ela deu-lhe um beijo sobre o peito, pousou a cabeça ao lado e adormeceram, aconchegados.

-Bom dia, meu amor! – Rita abriu os olhos, e sentiu-se acordar da melhor forma possível. Haveria algo melhor do que acordar ao lado de quem se gosta tanto?

-Bom dia, meu bem! – Respondeu sorrindo, e deu-lhe um curto beijo nos lábios.

-Já estás acordado há muito? – Fábio sentou-se na cama e Rita sentou-se ao seu colo, de frente para ele e pousando as mãos sobre as bochechas dele.

-Não. Acordei à questão de minutos, só que estavas tão linda a dormir que fiquei a admirar-te!

-Andas a perseguir-me, menino Fábio? Que stalkear! – Queixou-se.


-Ando a stalkear uma princesa mesmo linda, acho que a minha namorada não vai gostar de saber. – Colocou a língua de fora, provocando Rita, que o beijou. –Sabes que amo os teus beijos não sabes? – Rita não se deixou calar, e beijou mais uma vez e quando separaram os lábios, ela mordeu-lhe os lábios.


-Rita... – Fábio tinha vontade de beijá-la, de acaricia-la, e de chamá-la de sua, de uma forma que sabia que não poderia fazer, e Rita não precisou de palavras para entender.

-Desculpa. – Pediu sentando-se numa ponta da cama, afastando-se o mais que podia dele.

Fábio aproximou-se dela e deu-lhe um beijo na testa.

-Sei que não fizeste de propósito e acredita que eu também não. – Rita não se sentia nada cómoda a falar daquela situação e Fábio não sabia como o abordar. –Eu consigo controlar o que faço ou deixo de fazer, mas não consigo controlar a minha mente, que o faz erguer-se. Mas desculpa, vou tentar controlar isto.

-Amor. – Sentou-se ao lado dele e olhou-o. –Sei que tens necessidades e acredita que as posso satisfazer, dá-me apenas uns dias para me mentalizar que... – Fábio colocou os dedos sobre os lábios dela, interrompendo o que ela dizia.

-Amor, sou eu que tenho de esperar por ti, não tens de ser tu a acelarar tudo por minha causa. – Rita baixou a cabeça não tendo coragem de o olhar, devido à vergonha. –Não estou assim tão desesperado disso e acredita que irei esperar por ti, nem que seja preciso uma vida, sabes porquê? Porque no final vamos fazê-lo juntos, e acredita que me vai saber melhor, do que das vezes que fiz antes, porque foi a ti que eu amei como não amei mais ninguém. – Ela sentou-se ao colo dele e enterrou a sua cabeça no pescoço dele, aninhando-se.

-Não te quero perder, mas também quero o melhor para ti.

-O melhor para mim és tu, meu bem! – Olharam-se e beijaram-se.

-Mana!! – Disse Pedrito entrando no quarto e surpreendendo-os. –Que estavam a fazer?

-Estávamos a dar um miminho, também queres?

-Sim! – Pedrito sentou-se ao colo de Fábio, ao lado de Rita, e o mais velho abraçou-os.

-Pedrito, tenho uma notícia para ti!

-Vais levar-me à escola hoje, Fábio?

-Sim, mas isso já sabias! – Deu-lhe um beijinho na testa. –Como te tinha dito, irias ser o primeiro a saber, eu e a tua irmã já somos namorados! – Pedrito largou um sorriso de orelha a orelha e abraçou-os.

-Obrigada, obrigada, obrigada! – Encheu-lhes a cara de beijos e apertava-os fortemente, abraçando-os. –Já posso dizer aos meus colegas?

-Ainda não, meu bem. Ainda é cedo, por enquanto fica um segredo entre nós, pode ser?

-Não posso contar nem ao pai nem à mãe?

-Nem à mana, nem ao Rúben, nem mesmo à Di!

-Está bem! – Pedrito ficou desapontado e baixou a cabeça. –Posso ir tomar banho?

-Já consegues ir tomar sozinho?
-Sim mana, já tenho 6 aninhos, já sou crescido! – Dito isto saltou da cama e foi tomar banho.

-Rita, tenho de te dizer isto antes da nossa relação avançar. – Rita sentiu o seu coração apertar-se e durante segundos vieram-lhe imensos pensamentos à cabeça e nenhum deles era positivo. –Durante toda a minha vida tentei descobrir o que era amor, mas tu apenas com um olhar demonstraste-mo, e todos os dias mo relembras. Quando apareceste na minha vida, estava perdido, sem sentido, nem rumo e tu deste-me tudo, tudo o que precisava, apenas com a tua existência, apenas com o teu sorriso. Podes não acreditar mas desde que trocamos olhares pela primeira vez que senti que havia algo mais entre nós, por isso nunca desisti de ti, mas nunca esperei que me fizesses descobrir tantos sentimentos. E nunca me arrependerei de não ter desistido de ti. – Rita não conseguia controlar as lágrimas. Aquela declaração de amor era espontânea e os olhos de Fábio brilhavam a fazê-la, ele estava a dizer a maior realidade que o seu coração enfrentava, e ela não sabia como responder. Estava apaixonada sim, mas não sabia como expressá-lo, o que ele acabara de fazê-lo era perfeito.

-Tenho uma prenda para ti, espera aqui um bocadinho!
Rita agarrou na chave de sua casa e passado um minuto voltou, pousou as roupas do irmão no quarto onde ele dormira, e voltou para o quarto onde deixara Fábio.


-Já tinha esta prenda feita há alguns dias, mas estava à espera da altura ideal para ta dar. Desculpa não estar embrulhada!


Rita observou atentamente Fábio a observar a olhar para a prenda, e de seguida, a verificar a “mensagem” que ela lhe havia deixado.

Como irá reagir Fábio?
Como correrá esta relação entre eles? Será que o segredo irá manter-se durante muito tempo?

terça-feira, 3 de março de 2015

Capítulo 27: “Queria pedir para Jesus tomar conta do mano que está no céu e que ponha a mãmã boa”



-Pedro! – Repreendeu a irmã. –Achas que isso se diz?

-Mana, quem diz a verdade não merece castigo! – Fábio e Rita não aguentaram o riso ao ouvir a resposta do pequeno. –Estás a ver? Tu e o Fábio riram-se, não disse mal nenhum!

-Já tens uma sobrinha, Pedrito! A Di ainda é muito pequenina para ter um primo e além do mais eu e o Fábio não namoramos!

-E porque não namoram? Eu vi-vos a darem um beijinho!

-As coisas não funcionam assim Pedrito, tu sabes isso.

-Não, não percebo porque é que não namoram se vocês gostam um do outro!

-Daqui a uns tempos seremos namorados, prometo! – Fábio e Rita sorriram com aquela resposta que ela lhe dera, Fábio não a iria pressionar, o tempo iria tratar de os uni-los com aquela relação ainda mais especial.

-Mana, o Fábio não te vai fazer chorar como o Tiago, acredita em mim! O Fábio gosta mesmo muito de ti, ele no outro dia disse-me ao ouvido!

-A sério meu bem? – Baixou-se e fez uma festa ao irmão. –Nessa altura devias ter respondido ao ouvido dele que o sentimento é recíproco.

-O que é que isso quer dizer mana?

-Recíproco quer dizer igual, portanto quer dizer que também gosto muito dele.

-Está bem! Vejam lá se se despacham a vestir, sem mais beijos!- Dito isto saiu do quarto, dando mais privacidade ao futuro casal.

-Ia adorar ter o teu irmão como cunhado! - Disse Fábio, abraçando Rita.

-Pode ser que esse dia esteja mais perto do que pensas, meu bem! – Deu-lhe um beijo sentido nos lábios. –Mas... Quero ser pedida em namoro de uma forma muito especial, não quero flores, nem ursos, mas sim um pacote de gomas!

-Tu sabes bem que eu não aguento muito tempo com um pacote de gomas comigo!

-“É melhor não duvidar,

Vou-te fazer mudar,
Uma chance me dá,
Comigo tu vais ficar” Cantou Rita bem próxima do ouvido de Fábio e fê-lo sorrir.


-“Miuda, tu és linda,

Ninguém vai contrariar,
E você já sabe,
Não precisa de falar” – Respondeu também ele com a letra da canção.


-Tens sempre resposta na ponta da língua Fábio Rafael! Eu a cantar-te uma serenata e tu cantas depois, contigo não dá! – Virou-lhe costas e cruzou os braços sobre o peito.

-Dá-me só um segundo meu bem! – Rita virou-se novamente para ele, Fábio pegou no telemóvel e colocou uma música.

-“Sabes que és o meu amor, hmm

Não mudes nada baby, fica assim pra mim por favor
(...)
-“My baby tu sabes
Que apesar de não seres a mais bonita
Sabes
Não te trocarei por outra mulher
Sabes
Existem qualidades que você tem
Que as outras não compreendem, porque elas não sabem que
Não és diamante mas brilhas em mim
Se depender de mim nunca teremos fim
Porque eu te amo

Bem do jeito que você é
I love you baby
I love you that way
Então não mude nada porque eu te amo, assim”


Fábio cantara toda aquela canção a Rita e ela delirava a cada instante mais e mais, ele estava a cantar-lhe uma serenata, apesar de nunca ter imaginado que fosse uma música assim ou que tivesse apenas em fato de banho, as questões eram questionáveis mas não tornava o momento menos mágico. Ela beijara-o com intensidade, com amor, com carinho, com surpresa, com entusiasmo.. Ela adorava aquele rapaz de um metro e oitenta e sete centímetros com olhos como os seus, castanhos claros. Com tamanha intensidade dos beijos e com algum desastre à mistura, acabaram por cair para cima da cama, mas continuavam a beijarem-se.

-Meninos. – Disse Teresa entrando para o quarto. –Desculpem, eu volto mais tarde. – Disse, encostando a porta do quarto, saindo. Rapidamente ambos se sentaram na cama, separando-se.

-Deixa-te estar mãe, entra.

-De certeza? Não quero ver cenas impróprias!

-Não vês, descansa mãe!

-Deixem-se estar, só vinha perguntar se já estão prontos.. - Disse espreitando para o interior do quarto.

-Deixa só a Ritinha vestir-se.

-Se quiseres eu e o Pedrinho vamos andando para a praia e vocês depois vão lá ter...

-Esperem por nós na sala, não vamos demorar.

-Não se demorem!
Rita correu até ao armário numa tentativa de se afastar da vergonha que sentia e de escondê-lo de Fábio, procurou alguma roupa para vestir, tentando cobrir o corpo e não olhando para ele.

-Amor, não precisas de ficar tão envergonhada. É uma coisa natural!

-Não.. Acredita que para mim não o é.

-Não acredito que os teus pais não desconfiassem que tu e o Tiago o tivessem feito.

-Eles até podem ter desconfiado – Disse enquanto vestia a t-shirt. –Mas quando acabamos eu acabei por lhes contar a verdade.

-E qual era a verdade?

-Eu e o Tiago nunca fizemos amor. Sou virgem.

-O quê?! – Perguntou claramente chocado e admirado com o que acabara de ouvir.

-Ouviste bem. – Exclamou sorrindo e terminando de se vestir. –Sou virgem.

-Mas vocês namoraram ano e meio...

-Sim, eu sei. – Sorriu. –Mas não me sentia preparada. E o Tiago disse que estava disposto a esperar, pelos vistos não foi bem assim.

-Então era por isso mesmo que tinhas tão a certeza que não estavas grávida...

-Sim... Só que não queria contar-te realmente o que aconteceu, porque achei cedo.

-Não imagino o quanto te custou quando viste o Tiago... – Fábio hesitou, não sabia como abordar aquele tema e sentia que provavelmente não o deveria ter feito.

-Com a Adriana. – Completou Rita. –Mas senão fosse ele, não te tinha conhecido a ti. – Sentou-se ao colo dele e pousou a cabeça sobre o seu ombro. –Não te importas de esperar até me sentir preparada?

-Amor, eu esperava por ti uma vida inteira se fosse preciso. – Deu-lhe um beijo na testa. – Depois quando começarmos não queres outra coisa! – Sorriram.

-Sim, mas temos de ter juízo, só quero ser mãe depois de ir para a faculdade. – Trocaram alguns mimos. –Mas agora é melhor ir andando que senão a tua mãe pensa mesmo que tivemos a fazer-lhe um netinho! – Trocaram mais um beijo e sairam do quarto, pegaram nas toalhas e foram em direção a casa de Pedro, que já os esperava.

O almoço, no Mc’Donalds, local escolhido pelo elemento mais novo, acabou por proporcionar momentos muito divertidos entre todos, e em quase todos estava presente o pequenino Pedrito, que ingenuinamente os divertia, com brincadeiras típicas. Mas também era importante a relação de Fábio e Pedro, Rita sentia que eles faziam um esforço para se relacionar... Não era por ela e pelo irmão, mas sim por vontade própria. Eles queriam tentar voltar a ser amigos e isso fazia-a feliz, não queria (voltar) a escolher entre ambos.

-Pedro. – Disse Rita e ambos olharam. –Pedrito. – Concluiu. –Queres comer gelado?

-Não mana. Só quero ir para a praia.

Momentos como aqueles eram natural acontecerem, a confusão de nomes entre ambos proporcionava alguns momentos de diversão, por isso combinaram que o mais novo seria tratado pela abreviatura Pedrito e o mais velho seria apenas Pedro. Quando chegaram à praia pousaram a toalha na areia e enquanto Teresa foi até ao café mais próximo comprar água fresca, Pedrito correu até à água e Fábio seguiu-o, Pedro e Rita ficaram na toalha.

-Conheci alguém. – Disse Pedro interrompendo o silêncio. –Não te esqueci, mas estou a fazê-lo e vou ser feliz como tu és com o Fábio.

-Fala-me dessa rapariga. – Pediu ela. –Eu e o Fábio somos felizes juntos, mas ainda não somos namorados.

-Porquê?

-Além de não ter havido pedido ofical. – Anunciou sorrindo. –Preciso de mudar para entrar numa relação séria. Ele já mudou, agora é a minha vez.

-Não precisas de mudar, precisas de confiar mais em ti. O que o Tiago te fez te magoou-te muito, eu sei, mas o Fábio não te faria isso, ele ama-te, ao contrário do Tiago.

-Também pensava ter mudado o Tiago e afinal só me desiludi, tenho simplesmente medo que volte a acontecer.

-Talvez aconteça, talvez não, tens de arriscar. – Respondeu tranquilo. –Confia em ti mesma e no teu instinto.

-Obrigada. – Cruzou os dedos com os dele. –Não te importas que vá lá dar-lhe um beijo? Mas quando voltar irás contar-me tudo sobre essa tua nova amiga.

-Vai! – Ela levantou-se e correu em direção a Fábio, prendeu as suas pernas no tronco de Fábio e beijou-o fugazmente.

-Posso saber o porquê deste beijo? – Disse quando separaram os lábios.

-Poder, podes. Mas não preferes desfrutar de outro? – Não precisou de mais nenhuma resposta, ele beijou-a com romance e com carinho, mas também felicidade no seu estado mais puro. –Isto é tudo amor?

-É amor, carinho, atenção, respeito, mas acima de tudo, confiança. Eu confio em ti. – Encostou os seus lábios aos dele, um beijo rápido. –Adoras-me?

-Adoro-te! – Agarrou-a nas costas e repetiu o beijo curto de há pouco. Enquanto se beijavam, ele correu com Rita ao colo até entrarem na água.

-Não acredito no que me acabaste de fazer Fábio Rafael! – Disse pousando os pés na areia que delimitava o fundo do mar.

-Mana! – Gritou Pedrito fora de água. –Vou chamar o Pedro! Posso ir para a água?

-Sim, mas só se vieres com o Pedro, ou então com a dona Teresa.

Enquanto aguardavam, Fábio e Rita aproveitaram para trocar mais uns mimos.

-Sabes uma coisa? – Perguntou Rita, surpreendendo Fábio.

-O quê, meu bem?

-És, exatamente aquilo que preciso! – Cruzou os dedos e sorriu-lhe.

-Mana! – Disse o pequeno Pedrito entrando na água e nadando até próximo da irmã. –Acho que o mano ia gostar do Fábio!

-Tens as bóias nos braços mas achas que devias ter saído assim de ao pé do Pedro? – Agarrou no irmão e pô-lo ao seu colo. –Já viste a aflição em que deixaste o rapaz?

-Não te preocupes que eu disse-lhe para vir que eu vinha logo atrás. – Respondeu Pedro (o mais velho) pegando no mais pequenito. –O teu irmão precisa que lhe dêm espaço e transmitam confiança, ele é muito desenrascado e inteligente.

-Mana, já sou crescido! – Saiu do colo de Pedro e nadou próximo deles durante uns segundos.

-Pedro, eu sei que já és crescido mas para mim serás sempre pequenino!

-Para mim também serás sempre pequenina, menos quando tiveres um bebé na barriga! – Respondeu rapidamente o pequenino. –Mana, a mãe do Fábio, não quer vir para a água podemos ir para ao pé dela?

-Claro meu bem! – Sorriu respondendo. –Queres que te pegue ao colo ou vamos a nadar?

-Quero ir a nadar, mas quero que o Fábio vá comigo, tu vais para a toalha com o Pedro. – Rita acenou, positivamente para o irmão e foi andado para a toalha com Pedro.

-Como se chama a tua amiga? – Perguntou Rita enquanto se sentava na areia à beira-mar.

-Marta. Acho que ias adorar conhecê-la.

-Tenho a certeza que sim. E o que é que vocês têm?

-Ainda nos estamos a conhecer mas estou muito interessado. Ela é simplesmente fantástica. – A felicidade de Pedro a falar nela era simplesmente notória, o sorriso de orelha a orelha e o brilho no olhar falavam por si.

-Estás apanhadinho. – Confessou ela, também sorridente, o amigo merecia ser feliz e ela ficava feliz por vê-lo feliz também.

-Oh mana, não me viste a nadar! – Disse o Pedro mais pequenino, sentando ao colo da irmã. – O Fábio diz que nado bem!

-Eu vi, meu bem! Nadaste muito bem! – Deu-lhe um beijo na bochecha orgulhosa. Fábio aproximou-se deles e deu a mão a Rita e começaram a caminhar até à mãe do mais velho. –E porque não vais fazer-lhe uma surpresa?

-Achas que ela ia gostar?

-Todas as mulheres gostam de surpresas e a Marta não deve ser excepção!

-Que é que lhe compro?

-Talvez um ramo de flores, seja uma boa ideia. – Sugeriu Fábio.

-Obrigada. – Secou o corpo com a toalha, vestiu-se rapidamente, despediu-se de todos e foi até ao carro. Iria surpreender Marta e estava feliz por isso, iria lutar pela sua felicidade ao lado de quem gostava. Não esquecera completamente Rita, já o assumira, mas iria esquecê-la por completo e tentar compreender o que tanto o ligava a Marta.

-Onde é que ele foi? – Perguntou Teresa, surpreendida com a despedida repentina de Pedro.

-Arranjar uma namorada. – Fábio sorriu, mas nada disse, nem iria dizer. Estava feliz porque já não sentia pressão em disputar Rita, iria amá-la e ela iria apenas concentrar-se no amor que sentia por ela. No fundo, ele tinha medo que ela percebesse que arranjava melhor que ele e apenas desistisse do amor que os unia. –E tu menino Fábio, podes-te rir à vontade, que já tens o caminho livre para me amar. – Deu-lhe um beijo no nariz.

-Dona Teresa quer ir connosco à água? – Perguntou Pedrito animado.

-Acho que vou contigo à água para deixarmos a tua mana e meu filho a namorarem. – Deu a mão ao mais pequenino e foram em direção ao mar. Rita sentou-se entre as pernas de Fábio e sentiu o seu corpo ser rodeados pelos grandes e fortes braços do seu amado.

-O Pedro ainda gosta de mim. – Fábio sentiu o coração apertar-se. –Mas está a esquecer-me mas conheceu uma rapariga e está a apaixonar-se.

-Só tenho medo que percebas que arranjas melhor que eu e que saias da minha vida, de repente, como entraste.

-Não vai acontecer. – Olhou para ele. –Nem com o Pedro nem com mais ninguém, porque ninguém me merece como eu te mereço a ti, vale? – Desta vez foi ela que o beijou fugazmente. Sabia bem a Fábio ouvi-las, mas também senti-las, o sentimento era recíproco.

(Mais tarde)
Já haviam saído da praia e tomado banho, o jantar estava pronto e na mesa.

-Bem meninos, visto que já têm a comidinha pronta, eu vou indo...

-Jante pelo menos connosco, dona Teresa. – Convidou Rita.

-É melhor ir andado querida, como qualquer coisa pelo caminho e assim o teu pai não fica acordado à minha espera.

-Queres levar uma sandes ou qualquer coisa para comer no caminho?

-Deixa-te estar. – Caminhou até à porta de casa enquanto todos a acompanhavam. Baixou-se para se despedir de Pedrito. –Gostei muito de te conhecer, pequeno.

-Também gostei muito de si, mãe do Fábio! – Teresa sorriu, aquele menino além de ser um excelente menino estava a ter uma educação repreensível da parte dos seus pais como também do apoio da irmã.

-Gostei muito de te conhecer minha querida. –Deu dois beijos a Rita e sussurou-lhe ao ouvido. –Toma bem conta do meu filho, ele pode ter alguns defeitos mas é um excelente rapaz.

-O prazer de a conhecer foi todo meu. – Deu-lhe dois beijos à sua futura sogra. –E esteja descansada que irei tomar conta do seu filho.

-E tu meu pequeno que nunca irá crescer, para mim. – Deu um beijo na bochecha do filho. –Quero que também tomes bem conta da Rita, nunca é tarde para levares umas boas palmas nesse rabo!

-Não te preocupes que também te ligo todos os dias! –Respondeu enquanto começava a encostar a porta depois da saída da sua mãe.

-Senão o fizer eu mando-lhe uma mensagem! – Respondeu Rita depois de Fábio fechar a porta e dirigindo-se para a mesa da cozinha onde iriam jantar.

-Mas tu tens o número da minha mãe?

-Pois é, meu amigo, não és só tu que tens o número dos meus pais.

Depois de jantarem, Pedrito sentiu o corpo fraquejar.

-Mana, posso ir para a cama?

-Vamos para nossa casa então amor?

-Tenho um quarto livre, podem cá passar a noite, se quiserem. – Sugeriu Fábio. –Como sabes, quando comecei a vir jogar para o Benfica, os meus pais compraram esta casa e eu durmo no quarto que era dos meus pais e o que era meu está disponível.

-Mana, eu quero lá dormir!

-E vais dormir com o quê vestido?

-Mana, já estou de pijama. – Respondeu Pedrito, que havia tomado banho na casa de Fábio, com ele, enquanto Rita fora a sua casa tomar banho e trouxera-lhe um pijama para ele vestir. –Tu e o Fábio podem ficar a fazer-me companhia até adormecer?

-Claro. Depois arrumamos a cozinha. – Respondeu Fábio, em vez de Rita. –Acho que ainda tenho uma história qualquer para te ler, se quiseres.

-Deixa estar Fábio, sabes rezar?

Tanto Fábio como Rita ficaram surpreendidos por aquela pergunta. Pedro sabia rezar apenas o Pai Nosso, porque a irmã lhe ensinara com 4 anos, mas nunca tinha sido hábito fazê-lo.

-Sei, porquê?

-Queria pedir para Jesus tomar conta do mano que está no céu e que ponha a mãmã boa. – Rita ficou claramente surpreendida e com uma lágrima no canto do olho. O irmão era um poço de surpresas, positivas. A sua maior preocupação não era pedir para ficar bem, mas sim para que o irmão vivesse em paz no céu e que a mãe ficasse inteiramente saudável e bem.
Os três foram até à beira da cama e colocaram-se de joelhos, benzeram-se e rezaram o pai nosso, seguido de uma prece espontânea do pequenino:

-Querido Jesus, sei que me estás a ouvir. A mana disse que ouvias toda a gente quando rezamos. – Fábio espreitou pelo canto do olho para Rita, que assim como Pedro mantinha os olhos fechados e ele imitou o gesto. –Tentei portar-me bem, mas às vezes é difícil. Mas eu prometo que me porto, se puseres a mãmã boa e se fizeres com que o meu mano mais pequenino fique perto de ti no céu, feliz e a olhar por nós, como tu, pode ser? – Durante alguns segundos o silêncio instalou-se. –Prometo. – Repetiu Pedrito. –Apesar de não te ver gosto muito de ti, Jesus! – Olharam para Pedrito que deu por terminada a oração e benzeram-se. Deitou-se e depois de aguardarem alguns minutos, acabou por adormecer. Sairam do quarto e encostaram a porta para ficarem mais à vontade e foram até à cozinha onde a arrumaram.

-O teu irmão Pedro é um anjo.

-É verdade. Ele surpreendeu-me muito hoje!

-Apesar de não o conhecer tão bem como tu, também fiquei surpreendido. Ele reagiu bastante bem à morte do irmão.
-Fábio, não precisas de te fazer de forte. – Desta vez foi Rita que surpreendeu Fábio. –Tu podes não o ter demonstrado, mas tanto eu como a tua mãe, reparamos que tu estás com vontade de chorar, e que por dentro estás de rastos. – Fábio gelou, seria assim tão transparente para as mulheres que marcaram a sua vida até então?
Correu até aos braços dela e abraçou-a.

-Estou bem, a sério que sim.

-Fábio, vamos para a cama e falamos mais à vontade. – Deitaram sobre a cama, um de frente para o outro e Fábio pousara-lhe a mão ao fundo das costas enquanto ela pousara a mão sobre o peito dele.

-É verdade que estou de rastos, mas isto passa. Simplesmente nunca tinha sentido na pele a morte de ninguém, é apenas isto. – Confessou, apesar de saber que não era assim tão delinear como dizia.

-Fábio, podes chorar junto a mim. – Ele encostou a cabeça na barriga dela e fazia tudo para se sentir forte mas no fundo sabia que a qualquer momento iria desabar o muro que contruira em seu redor.

-Tu é que perdeste um irmão... – Repreendeu-se. –Devias ser tu a desabafar comigo.

-Tenho uma forma muito peculiar de lidar com as mortes, não te preocupes. – Respondeu Rita e sabia que no fundo era verdade. – Pode parecer egoísmo, frieza e tudo o que quiseres chamar, mas para mim o meu irmão está no céu, em paz, eu, sim estou no inferno da Terra onde as pessoas são terríveis.
-És uma mulher incrível e apaixonante sabias? – Olhou-a nos olhos. –Não me irias mentir, eu confio em ti. – Cruzou as mãos com as dela e sentiu-se desanimar ainda mais, mas tentando ter forças por Rita.

-Podes chorar nos meus braços Fábio... Confia e desabafa comigo, meu amor. –Pediu.

Será que Fábio vai desabafar ao pé de Rita?

Será que Rita irá ser o apoio necessário? Será que as preces de Pedrito serão ouvidas?