-Fábio
rápido, esconde-te debaixo da cama. –
O rapaz baixou-se e encolheu-se para se esconder debaixo da cama.
-Rita
já estás acordada? –
Perguntou o pai da jovem entrando no quarto e por segundos não se
cruzou com o futuro genro.
-Sim
pai. O despertador decidiu tocar mais cedo. Como estás?
-Estou
bem e tu? Que é que fazes com essa roupa?
-Foi
o Fábio que me deu pelos anos.
-A
sério? E porque te deu uma roupa dele?
-Porque
lhe disse que gosto de dormir com roupas de rapazes e me sinto super
confortável. E ele decidiu dar-me esta roupa.
-Ah
está bem, mas não tiveste calor com isso?
-Não,
até dormi bastante confortável.
-Então
despacha-te para teres boleia.
-Pai,
estou cansada por causa de ontem. Posso ficar a dormir mais um
bocadinho e depois vou para a escola?
-Podes,
mas não é para ficares todo o dia na cama! Só faltas ás primeiras
duas aulas! Queres que te venha buscar para te levar à escola ou
vais de mota ou a pé?
-Vou
bem a pé, descansa.
-Tens
a certeza? E o teu pé?
-Estou
recuperada senão o médico não me tinha deixado andar sem muletas
não achas pai?
-Sim.
Tens razão. –
Sorriram. –Mas
é melhor ires de mota, para não esforçares demasiado o pé. E
senão te sentires á vontade liga-me e eu levo-te á escola.
-Se
o pé me tiver a doer, vou tocar ao Fábio e ele leva-me descansa.
-Deixa
lá o pobre rapaz descansar que ontem o jogo deve ter sido difícil e
cansativo.
-Pronto,
eu não o chateio! –
Sorriram. –Vou
dormir mais um bocadinho. Até logo pai! –
Deu-lhe um beijo e voltou a deitar-se na cama. O pai saiu do quarto e
ela sussurrou. –Fábio,
deixa-te estar aí escondidinho que a minha mãe e o meu irmão ainda
são capazes de cá vir. –
Pedrito entrou no quarto.
-Oh
mana estavas a falar com quem?
-Estava
a pensar em voz alta, meu amor. –
Pedro aproximou-se da irmã e deu-lhe um beijinho.
-Logo
vais-me buscar à escola com o Fábio?
-Não
sei se vou estar com o Fábio hoje à tarde Pedrito. Ele também
precisa de descansar do jogo de ontem e de mim.
-Vá
lá mana!
-Está
bem meu amor. Mas agora vai lá para a escola para não chegares
atrasado.
-E
tu não vais para a escola hoje mana?
-Vou,
mas vou daqui a um bocadinho, vou descansar mais um pouquinho.
-Está
bem! Mas vai pedir ao Fábio para te levar á escola por causa do pé!
-Está
bem, está bem meu bem. –
Deu-lhe um beijo na bochecha. –E
se ele não me quiser levar?
-Diz-lhe
que eu mandei ele levar-te. –
Pedrito deu-lhe um beijo na bochecha e foi-se embora do quarto.
-Já
viste isto? Um fedelho com 6 anos a pensar que manda em ti!
-Na
Play Station ele manda em nós!
-Fala
por ti menino! Anteontem joguei com ele e ganhei-lhe!
-Tu
ganhaste ao Pedrito? –
Tirou a cabeça de debaixo da cama e olhou para Rita. –Tens
a certeza que não estavas a sonhar?
-Sinceramente
não sei. –
Pousou a mão sobre o queixo pensativa. Ouviu-se alguns passos sobre
o corredor e Fábio voltou a esconder-se.
-Filha
deixei-te o batido em cima da bancada, e um lanchinho para meio da
manhã. Descansa mais um bocadinho e depois vai beber, não quero que
vás para a escola sem nada no estômago, muito menos agora que ainda
estás fraca por causa do pé.
-Mãe,
já estou recuperada do pé, descansa.
-Uma
mãe está sempre preocupada, ainda para mais grávida. Não vás
para a escola a pé, deixei-te algum dinheiro ao pé do batido, vai
de autocarro ou de táxi. Sim, para não incomodares o teu motorista
particular, Fábio.
-Sou
uma pessoa privilegiada por ter um motorista particular tão bonito
não achas mãe? –
Sorriu, lembrando-se certamente que ele estava encolhido e devia de
estar pouco confortável debaixo da cama, escondido. Mas sabia que
ele iria sorrir com a clara provocação dela.
-Na
minha opinião é mais bonito por dentro que por fora. Filha, ele
gosta realmente de ti, não o magoes.
-Não
o vou fazer mãe, prometo.
-No
fundo tu também gostas dele, não gostas? –
Rita respirou fundo ganhando coragem para responder, era a primeira
vez que o diria em voz alta e queria declarar-se com as palavras
certas.
-Sim
mãe, eu também gosto dele. O problema é esse.
-Filha,
gostar nunca é um problema. É uma bênção alguém gostar de ti e o
sentimento ser recíproco, principalmente quando essa pessoa é bem
formada, bem-educada e boa pessoa. Se tens medos e receios fala com
ele, porque pode existir esse sentimento mas vocês são amigos e ele
vai ajudar-te a ultrapassá-los.
-Obrigada
mãe! –
Rita abraçou a mãe e pousou a mão sobre a barriga dela. –E
tu maninho quando saltares cá para fora vais ter o prazer de
conhecer o teu grande amigo.
-E
futuro cunhado. –
Acrescentou. Rita beijou a barriga da mãe e deu-lhe mais um abraço.
-Quem
sabe mãe... –
Despediram-se e Maria saiu do quarto, e milésimos de segundo depois
Fábio saiu da cama e colocou-se de pé, olhou para Rita com os olhos
a brilhar como o sol que irradiava o céu.
-Tu
gostas de mim Rita... –
Ela levantou-se da cama e colocou-se frente a frente a Fábio, e pela
primeira vez quem tomou iniciativa foi ela, que o beijou. Um beijo
que apesar de diferente dos anteriores transmitia todos os
sentimentos que os unia: amor, respeito, carinho e sinceridade.
-Sim
Fábio, eu gosto de ti. Mas não quer dizer nada, as coisas não são
assim tão fáceis.
-Se
tu gostas de mim e eu de ti, porque não te posso chamar de minha
namorada?
-Como
é que queres que namore contigo se morro de ciúmes só de pensar
que as raparigas falam contigo? E que ainda te pedem a camisola? E
começam a ver o jogo e começam a babar-se para cima de ti? Além do
mais como é que sei que não lhes dás trela?
-Elas
podem ver mas só tu podes tocar. –
Trocaram um beijo curto e cruzaram os dedos. –E
eu sei separar as minhas verdadeiras fãs, das interesseiras. E além
do mais tenho a certeza que senão as conseguir meter na linha tu
irás pôr!
-E
se algum dia tu fores transferido para outro clube longe? O que vou
fazer?
-Não
irei tomar decisão nenhuma sem te consultar. Mas é bom saber que já
estás a pensar no nosso futuro. –
Fábio sorriu mas Rita não conseguiu desfrutar do momento da mesma
forma, a sua indecisão não a deixava viver em plena felicidade.
-Claro,
quando entro numa relação é para valer, para o que der e vier.
Vamos dar tempo ao tempo pode ser? Não precisamos de pôr rótulos
em nada.
-Tenho
medo que me esqueças durante esse tempo. –
Confessou ele cabisbaixo.
-Tu
moras mesmo ao meu lado como queres que te esqueça? –
Sorriram. –Digo
isto a brincar mas não te conseguia esquecer nem que morasses no
Algarve. Quero apenas tempo para pensar. Mas acho que os teus beijos
me vão ajudar. –
Fábio não precisou de ouvir mais nada, beijou-a carinhosamente como
sempre fazia.
Acabaram
por trocar mais uns carinhos e enquanto Fábio foi tomar banho e
vestir-se, Rita acabou por fazer o mesmo, cada um em sua casa. Ela
tinha de ir para a escola e Fábio oferecera-se para a levar até lá.
Tomaram o pequeno-almoço juntos e ele acabou por levá-la até á
escola, apesar da insistência dela que não seria necessário, tal
como a restante família dela, também ele ainda estava preocupado
com o seu pé. Embora o médico já o tivesse dado como curado.
"Estas
semanas sin verte
Me
parecieron años
Tanto
te quise besar
que
me duelen los labios
Mira
que el miedo nos hizo
cometer
estupideces
Nos
dejo sordos y ciegos
Tantas
veces"
O
telemóvel de Rita começara a tocar interrompendo a aula.
-Desculpe
“stôra”. –
Olhou para o ecrã e deparou-se com uma chamada de Fábio. Ele sabia
que naquela altura estava em aula e mesmo assim ligara-lhe. Desligou
a chamada mas ele tornou a repetir a chamada. –Posso
ir atender a chamada? É mesmo muito importante!
-É
algum dos seus pais?
-Sim.
–
Mentiu. –E
como a minha mãe está grávida pode ser alguma emergência.
-Vá
atender lá fora, mas não se demore! E que isto não se torne a
repetir! –
Rita levantou-se do seu lugar e atendeu a chamada e saiu da sala.
–Fábio
estou em aula, não posso falar.
-Eu
sei que estás em aula, mas acredita que é mesmo importante.
-Estás-me
a preocupar.
-Pega
nas tuas coisas e sai da escola. Estou à porta. –
Desligaram a chamada e Rita entrou na sala, inventou uma desculpa
para ir embora da aula e foi até á porta da escola. Rapidamente
deparou-se com Fábio e entrou para dentro do carro dele.
-Já
me podes contar o que se passou? E porque é que não me podias
contar ao telemóvel?
-A
tua mãe caiu das escadas no trabalho e está no hospital.
-O
quê? Como é que ela está? E o meu irmão?
-A
tua mãe está bem, o teu irmão é que não se sabe ao certo.
-Leva-me
até à minha mãe.
-Tens
a certeza que queres ir ver a tua mãe? Ela neste momento está a
fazer exames e a ser avaliada pelos médicos.
-Sim,
quero estar com a minha mãe, este é o momento em que ela mais
precisa de mim. E os meus irmãos já sabem?
-A
tua irmã já está a caminho do hospital com o teu cunhado. O teu
irmão está na escola e os teus pais acharam que era melhor não lhe
dizer nada até saberem mais.
-Eu
não posso perdê-los Fábio, simplesmente não posso.
Fábio
sentira-se impotente, qualquer palavra que pudesse dizer não iria
acalmar nem apaziguar Rita. Não sabia qual era a dor de perder
alguém da família, nunca havia passado por ela e todos os discursos
que ouvira até então pareciam inconvenientes e inúteis para lhe
dizer. Ele não podia fazer nada para a fazer sorrir, nem para a
fazer sentir melhor, por isso pediu apenas:
-Vem
para o meu colo. –
Rita obedeceu, apesar do carro não ser o local mais confortável
para se sentar no colo dele. Ela sentia-se segura naqueles braços,
com o doce beijo que ele lhe dava na cabeça sempre que se sentava ao
seu colo. Ouvir o bater do coração dele e o seu respeitar fazia-a
acalmar. Respirou bem-fundo para demonstrar que estava calmo, embora
estivesse tão nervoso, e sussurrou. –Vais
ver que foi só um susto.
-E
senão for? E se perder o meu irmão? Ou a minha mãe? –
Continuava a soluçar e com as lágrimas a correrem-lhe pela face e
Fábio sentia o seu coração apertar, e a apertar cada vez mais.
Amava-a cada vez mais e não puder fazer nada por ela fazia-o sentir
fraco.
-Preciso
que te acalmes para poder ficar mais descansado, isso não te faz bem
e não faz bem á tua mãe e irmão.
-Obrigada
por estares aqui comigo. – Disse
limpando as lágrimas.
-Estarei
sempre aqui para ti. –
Além do bonito sentimento que era o amor, existia um outro
sentimento forte entre eles, a amizade e naquele momento Rita
precisava daquele sentimento.
Rita
saiu do colo dele que percebeu que ela se estava a sentir melhor,
apesar dela não o dizer. Ligou o carro e como sabia que a música
tinha um poder calmamente sobre ela, acabou por ligar o rádio e com
o passar do tempo ela acalmou-se, a luz no seu olhar voltara e a
garra e a coragem que a descreviam estavam presentes novamente.
Quando estavam a chegar ao hospital pousou a mão sobre a perna dele
e deixou-a ficar, era uma forma de lhe agradecer sem sem por palavras
e o momento não pedia mais que isso, a música calma que tocava no
rádio, que estava baixa fazia o momento tornar-se ainda mais
especial.
-Rita.
– Ela
olhava para o vidro observando o parque de estacionamento mas a
partir do momento em que ele a chamou, olhou para ele. O seu olhar
dizia algo mais que ela não conseguia descodificar, não conhecia e
queria perguntar mas algo não a permitiu falar, Fábio desviou o
olhar para a mão dela que o acompanhou. Não precisaram de falar,
ela entendeu o que se passava.
-Desculpa.
–
Afastou rapidamente a mão dele, envergonhada. Saíram do carro mas
ela ainda estava envergonhada pelo que se passou, não queria de
forma alguma provocá-lo mas acabou inconscientemente por fazê-lo.
Cruzaram os dedos num só e caminharam em direcção ao hospital.
Chegaram
até à recepção e o senhor Luís já os esperava, cumprimentou-os
e encaminhou-os até ao quarto, a sua irmã e o cunhado já haviam
chegado e estavam todos à espera que o médico lhe desse notícias,
a preocupação era de momento com o bebé, porque a mãe estava fora
de perigo. E a ideia de perder o mais pequeno membro da família
assustava-os, era um pequeno ser que vivia ainda no ventre da mãe
mas em parte tinha sido ele o principal culpado para a família estar
novamente reunida, através de sua simples existência.
Rúben,
Ana, Luís, Fábio e Rita aguardavam na sala de espera que existia
junto ao quarto, quando o patriarca da família retirou a ecografia
do seu bolso, colocou a mão sobre ela e o dedo indicador a passar
pelas feições do pequeno.
-Para
mim serás uma Clarinha. Para a tua mãe és um Bernardo. –
Sorriu. Ana levantou-se e colocou-se de frente para o pai.
-E
e será um bebé. Tudo isto foi só um susto, vamos todos ficar bem.
Rita
estava sentada numa cadeira olhando para o vazio que transmitia com o
olhar. Não sabia o que pensar, nem o que fazer. Sentia-se culpada e
triste, não deveria ter sido tão egoísta ao ponto de ter abdicado
de uma ecografia do irmão por um capricho. As suas mãos estavam
cruzadas sobre as suas pernas e Fábio pousou a mão sobre a perna
dela que a fez arrepiar, sabia que era a forma de a apoiar mas ainda
a fazia sentir-se mais fraca. Queria transmitir a todos que não
estava triste e aguentaria a dor sem derramar uma lágrima, mas com a
presença dele sentia-se fraquejar, porque só com ele conseguia
chorar sem vergonha e sentir-se melhor. O médico aproximou-se da
sala e pronunciou:
-Família
Madeira? –
Aproximaram-se todos do médico, à excepção de Rita que se deixou
ficar um pouco para trás e ainda mais a trás dela, Fábio que não
a iria deixar sozinha, apesar de não ser da família era tratado
como era tratado Rúben, o marido de Diana, e iria estar presente
naquele momento importante, não só pelo sentimento de amizade por
todos, mas também pelo romance que sentia por Rita.
-Sim,
somos nós, diga senhor doutor. –
Respondeu Luís.
-A
sua mulher está estável e recuperada, irá ficar com algumas
mazelas físicas mas com algum descanso irá passar, irá ficar mais
alguns dias internada para a mantermos sob vigilância.
-E
o meu filho doutor?
-Em
meu nome e da minha equipa peço desculpa, lutamos mas infelizmente
não conseguiu sobreviver.
Como
irão reagir à notícia?
Que
irá sentir Rita com a perda do irmão? Como irá reagir Pedrito?
Oláaa
ResponderEliminarAmei :D
Beijinhos
Catarina
Olá :)
ResponderEliminarAdorei a parte em q o fábio se esconde :P...coitado :P
Aí não posso ;'(...o bebé não sobreviveu :'(
Naturalmente iram reagir mal :/
Acho que a Rita irá chorar :'(
E acho que o Pedrito irá ter a pior reacção de todas :'(
Opah!,..não gostei deste final triste :'(
Bjs
Olá!
ResponderEliminarOh esta parte final foi triste. Escrevi um aborto espontâneo da mãe da Ana (Give) de forma muito mais trágica mas ler coisas assim é sempre pior do que escrever!
Espero que a Rita e a família em geral se aguentem! É sempre triste mas a vida continua.
Pode ser que o Fábio seja o apoio que a Rita vai precisar.
Espero o próximo!
Beso
Ana Santos