Pedro
deixara-se levar pelos seus sentimentos, gostava dela e nunca o tinha assumido,
em voz alta, a ninguém. Nem mesmo aos seus amigos mais próximos e fizera tudo
para Rita nunca desconfiar dos seus sentimentos. Sabia que não eram retribuídos
e por medo de se magoar, decidiu escondê-los. O que lhe fizera pior, porque já
a tentara esquecer, mas sabia melhor que ninguém que só depois de lhe dizer o
que sentia e ouvir da boca dela que o sentimento não era recíproco, é que
conseguiria ultrapassar. Aquele reencontro, serviu para uma série de
sentimentos, Rita sentiu-se bem a falar com um amigo. Considerava Fábio como
tal, mas já conhecia Pedro e sabia que podia contar sempre com ele, os anos de
vida de amizade que os uniam eram a prova disso. Serviu para ela desabafar
sobre o fim de relação com Tiago, e para em Pedro nascer uma pontinha de
esperança sobre uma possível relação entre si e Rita. E quando ela contou ao
amigo a relação que tinha com o seu vizinho e amigo, o rapaz sentiu ciúmes.
Sabia que o seu amigo, ao contrário de si, não era um rapaz de relações sérias
e comprometedoras, e tinha medo que existissem segundas intenções da parte dele
e magoassem futuramente a sua amiga. Mas não lhe dissera. Mas ficara-lhe preso
no pensamento, atitudes que Fábio tivera com Rita, que sabia que não teria com
outra rapariga. Com ela estava a ser diferente do que era com outras raparigas.
Passaram a tarde juntos e tiveram enormes momento de alegria e boa-disposição.
Pedro era envergonhado mas assim que começava a sentir-se mais á vontade com um
amigo, começava a dar-se a conhecer e Fábio não era assim, antes pelo
contrário. Dava-se logo a conhecer, num primeiro contacto. Rita era genuína,
não se deixava logo conhecer, mas deixava-se conquistar por gestos e não por
palavras. E Pedro já lhe provara mais que uma vez que era seu amigo.
Ela
foi totalmente apanhada desprevinida com aquele beijo. Não era de todo fruto do
acaso, ou de um acidente. Aquele toque de lábios tinha outras intenções, que
ela nunca desconfiara que ele pudesse ter. Ele não a beijara, mas tinha-lhe
tocado com os lábios no seu lábio inferior e tinha cercado entre os seus
lábios, o lábio superior de Rita. Não a tinha beijado, mas o desejo dela era
para que o fizesse. Sentiu uma estranha ligação para com ele. Não sabia bem
explicar por palavras e muito menos entender o que sentira, era como uma
estranha ligação. Não o amava, mas queria poder beijá-lo. Ele separou os lábios
e a suas faces e afastou-se dela, mas apenas uns centímetros. O rapaz não sabia
se devia ou não beijá-la, nem sabia
sequer se a sua atitude lhe tinha agradado ou não. Abriu os olhos e pode
admirar cada centímetro da sua face. Ela tinha um pequeno sinal sobre o olho,
do qual só poderia ver quando ela tivesse os olhos fechados.
-Kiss me. – Pronunciou Rita, em inglês.
Era apreciadora da língua portuguesa, mas o seu amigo apresentara-lhe durante a
tarde uma música de Ed Sheeran e a jovem sussurou o nome da música em forma de
suplica, mas mantendo sempre os olhos fechados. Rita estava a pedir para ele a
beijar e ele fez-lhe a vontade.
Fábio
assistiu aos beijos que Rita e Pedro trocaram. Sentiu-se com ciúmes, não era
pelo facto dela não ser sua, era simplesmente pelo facto de ser de alguém, dela
aceitar que outros lábios lhe tocassem. Pensou durante três segundos no que
fazer e decidiu, por bem, reagir. Deixou o seu esconderijo, mas eles não o
conseguiam ver porque se encontravam de olhos fechados, então deixou pela
primeira vez o seu telemóvel cair ao chão. Propositadamente. O telemóvel que
tanto estimamava, o seu Iphone, no chão. Assim que caiu, Fábio deixou-se ir
para o chão para o apanhar. Altura em que Rita e Pedro separaram os seus lábios
e conseguiram vê-lo. Fábio não se deixou apanhar naquela falsa partida e disse:
-Porra! – Queixou-se e tentou não
rir-se. Eles aproximaram-se dele. – Este
telemóvel é a primeira vez que vai ao chão e tem 5 meses! – Apanhou o
telemóvel e endireitou a capa que o cobria. Tentou limpar a sujidade que o chão
poderia ter transmitido e levantou-se. Ficaram os três frente a frente.
-Fábio... –Rita nem tentou fingir o seu
surpreendimento, os seus lábios estavam ligeiramente separados, demonstrando
surpresa. – Estás aqui há muito tempo? –
Talvez a sua preocupação fosse pelo facto dele ter visto os momentos com Pedro
ou talvez fosse por outros motivos desconhecidos.
-Não. – Mentiu.- Acabei de chegar. – Iria fingir que não assistiu a nenhum beijo e
que por si, estava tudo como antes, dentro da normalidade. – Porquê?
-Nada. – Tentou disfaçar a rapariga. – Curiosidade.
-Olá Fábio! – Disse Pedro esticando a mão para cumprimentar Fábio,
mas o mais velho olhou para a jovem e nem levantou a sua mão para retribuir o
cumprimento do velho amigo. Nunca tentara disfarçar que não estava confortável,
ou gostava daquela situação.
-Pedro,
não fazia ideia que conhecias a minha vizinha e amiga Rita.
-Que eu saiba também nunca tiveste
amigas. Só “amiguinhas”. – Pedro não se
deixara ficar sem palavras, respondeu-lhe também de forma rude e má, com uma
indireta bastante digna. Os ânimos e o clima não eram agradáveis. E todos eles
sabiam que o Pedro não era de responder “torto” a ninguém.
-Pedro amanhã falamos melhor está bem? –
Ela tentou acalmar a tensão entre os dois.
-Mas podem continuar a conversar. Espero não
estar a interromper nada. – Disse Fábio com um “sorriso amarelo”.
-Por acaso... – Disse Pedro com o tom de
voz bastante baixo mas suficientemente audível.
-Não, aliás já me estava a despedir do
Pedro. Manda-me mensagem ou liga-me para amanhã combinarmos qualquer coisa pode
ser? – Perguntou a rapariga. Fábio sentiu-se “desiludido”, ele não tinha o
número de telemóvel de Rita, ao contrário de Pedro.
-Sim. Amanhã falamos que é melhor. Vais já
para casa? – Perguntou o mais novo dos rapazes.
-Não. Ainda vamos para minha casa falar. –
Respondeu o mais atraente dos rapazes.
-Podemos falar aqui. – Respondeu a rapariga. Pedro e Rita deram dois beijinhos
em forma de despedida e o rapaz foi-se embora, ficando apenas os mais dois mais
novos recém-amigos.
-E que tal em tua casa? – Perguntou o
rapaz.
-Acho que estamos bem aqui.
-Rita, faz um esforço por favor. – Pediu ele.
Ela
abriu a porta de casa e pediu a Fábio que entrasse com ela. Assim que entraram
foram em direção ao quarto dela, onde poderiam ter mais privacidade, mas
enquanto passavam pela sala, a rapariga percebeu que não estava só o seu pai e
o seu irmão em casa. A sua irmã Ana, a sua mãe Maria, o seu cunhado Rúben e a
sua sobrinha Diana. Cumprimentou toda a família e apresentou Fábio, como um
amigo. Mas a rapariga não teve coragem em deixá-los para ir conversar com o seu
amigo, por isso deixou-se ficar junto á família. E ele acompanhou-a.
Diana
era a única sobrinha que Rita tinha e era uma tia babada. A sua melhor amiga sempre
foi a sua irmã Ana e acompanhou desde sempre a gravidez da irmã, só não
assistiu ao nascimento da bebé por opção própria e foi a segunda pessoa a ver a
recém-nascida, ainda na maternidade, sendo que o primeiro foi Rúben. Também tivera
influência na escolha do nome da menina. Era o nome de uma princesa com quem
Rita sempre se identificara e todas as raparigas que tinha conhecido com aquele
nome eram pessoas incríveis. Uma das quais era sua amiga de infância. Sentou-se
no chão, aos pés da sua irmã e Fábio sentou-se ao seu lado. De olhos postos em
Diana. Aos poucos começava a demonstrar a sua personalidade e a aprender
algumas pequeninas coisas. A pequena
já se começava a levantar sozinha e já gatinhava. E para Rita cada progresso,
era sinónimo de vitória e orgulho. Ana já tinha convidado Rita para ser
madrinha de Diana, e ela aceitara. Sabia que queria ser, mas tinha ficado
reticente quanto ao pedido, tinha medo de não saber ser boa madrinha. Tinham
pensado desde o inicio da gravidez que o padrinho seria Tiago, o ex-namorado de
Rita, mas com o fim de relação e a forma feia como acabaram, Diana ficou sem
padrinho. Pedro era muito pequeno para ser padrinho e Rúben era filho único.
Faltavam 3 meses para o batismo de Diana, que era no dia 31 de Dezembro, dia em
que a pequena comemorava o seu 1º aniversário de vida.
O
tempo passou a voar, e a relação de Diana e Fábio crescia a olhos vistos. A
pequena demonstrava um enorme carinho por ele e uma enorme simpatia, e ele
demonstrava um enorme talento para cuidar dela. Apesar de se conhecerem há
pouco tempo, já partilhavam um espírito de amizade. Mas aproximava-se a altura
da pequena descansar, já se encontrava cansada e a sua hora de deitar já passava
bastante do que era normal. Rita pegou na sua sobrinha e foi com ela até ao seu
quarto e convidou Fábio para ir consigo. Ele seguiu-a. Sentaram-se sobre a cama
e Diana estava poisada sobre os braços de Rita e Fábio conversava com a pequena
que acabou por adormecer.
A tia acabou por pousar Diana sobre a cama e
ambos deram-lhe um beijo sobre a testa. Como a temperatura que se fazia sentir
era alta decidiram deixá-la deitada sem colocarem nenhuma manta sobre o seu
corpo frágil. E Fábio orgulhava-se da sobrinha da sua amiga como se fosse sua
sobrinha. Não sabia qual era o sentimento de ser tio, ou mesmo padrinho, porque
como filho único, tinha de esperar por conseguir ser padrinho, mesmo antes de
ser tio. Porque não fazia parte dos seus planos a curto ou médio prazo ter uma
relação séria com alguém. Esperaram alguns minutos em silêncio absoluto para se
certificarem que Diana dormia tranquilamente. Quando se certificaram do mesmo,
Rita partilhou com Fábio um momento entre ele e a sua sobrinha.
Ela
enviou-lhe a foto e ele guardou no seu telemóvel com enorme alegria, já tinha
como ver a fotografia da bebé que tanto o cativara, da sobrinha da sua amiga e
que gostara tanto, apesar de só terem estado juntos uma vez. Rita perdia-se a
admirar a sobrinha que dormia tranquilamente e Fábio, embora gostasse da
menina, e ficara provado que o sentimento era recíproco, ele mirava Rita,
tencionava falar com ela sobre vários assuntos em simultâneo mas não sabia por
onde começar. Queria dizer-lhe que sentia ciúmes de Pedro e que não queria que
ela se envolvesse com ele. Queria ser ele “a tomar conta dela”, não que fosse
mais uma conquista para si, mas de uma forma especial, cuidar dela, apoiá-la,
tratá-la como uma princesa, como merecia realmente ser tratada. Não queria que
outro rapaz a magoasse ou desiludisse, queria ser o único rapaz da vida dela.
Mas não sabia como dizer e só depois de pensar, enquanto admirava-a há já algum
tempo, arranjou palavras para lhe dizer, que vira o beijo e dizer o que sentia.
Preparava-se para falar com ela, já com os lábios separados, a postos para
falar.. Quando são interrompidos.
-Fábio posso falar contigo? – Entrou de
rompante Ana no quarto, interrompendo qualquer momento que pudesse estar a
ocorrer. – E contigo também agradecia
Rita. – Concluiu.
Ambos
responderam que sim e sairam do quarto de forma a não interromper o sono de
Diana. Foram até á cozinha, onde já estava Rúben, á espera de ambos. Nem Rita,
nem Fábio sabiam qual era o motivo daquela conversa, mas queria sabê-lo.
-Estivemos a pensar... – Disse Ana. – E caso não te importes, eu e o Rúben,
gostavamos que tu e o Fábio fossem padrinhos da Diana. – Fora uma decisão
surpreendente para ambos. Eram amigos, mas não esperavam juntos viver uma
responsabilidade tão grande de serem padrinhos. Se os pais falhassem, juntos
tinham de apoiar a menina. E normalmente os padrinhos de alguém, eram como uns
“segundos pais” e eles conheciam-se há somente dias. Não havia qualquer relação
amorosa entre eles, mas a serem padrinhos de batismo de uma criança, era o
assumir de uma grande responsabilidade. Mas se aceitassem acarretavam-na
juntos. Era a primeira vez que seriam padrinhos e tinham de tomar uma decisão,
juntos.
Será
que Fábio vai aceitar ser padrinho de Diana?
Será
que Rita vai aceitar que Fábio seja padrinho? E o porquê desta atitude tão
espontânea de Ana e Rúben?