Fábio escutou atentamente a música e a letra que a
compunha. Não conhecia a música, mas o artista era o seu preferido, desde que
começara a ouvi-la que ganhou uma especial atenção. Não sabia o que Rita
pensava dele, mas quanto a romances ela já lhe tinha dito de forma bastante
clara e direta, mas nunca pensara que ela tinha uma música que o descrevia. Que
se lembrava dele cada vez que a ouvi-a. Será que era apenas a imagem que ela
tinha dele ou era o que os outros pensavam dele? Não sabia, mas queria saber.
Olhou para ela, que esperava ansiosamente uma resposta, ou uma reação. Estava
surpreendido com aquela música e aquela letra, estava surpreendido com tudo.
Sorriu inicialmente e depois começou a rir-se, começou por ser um riso de
nervosismo, para se tornar num riso alegre e descontraído. Rita pensava que ele
tinha um sentimento de obsessão por raparigas, todo o tipo de raparigas?
Realmente ele gostava de raparigas, gostava de sentir-se bem e fazê-las sentir
bem, mas não as usava, criando esperanças e inventando mentiras para as
enganar, deixava tudo bem claro desde o princípio. Já tinha namorado durante um
mês com a sua atual melhor amiga, tiveram uma “curte” e sentiam-se
especialmente bem um com o outro e começaram a namorar. A relação foi curta
porque ele não gostava tanto dela como ela gostava dele. E ele não se queria
“prender” a uma relação, não sabia como alimentar e cuidar daquela relação por
isso terminaram o que os unia. Mas Fábio não se tinha verdadeiramente
apaixonado, ao contrário de Tânia. Daquela relação restou apenas amizade.
Riu-se tanto que ficou com dores de barriga de tanto se
rir, mas sempre acompanhado de Rita. Ela ria-se porque o riso dele fazia-a
divertir-se e animar-se mas não compreendia porque é que ele se estava a rir
tanto. Será que estava a “gozar” com ela? Era este o maior medo que ela vivia.
Quando Fábio se conseguiu recompor do riso, endireitou a roupa e olhou Rita nos
olhos. Estavam sentados lado a lado, e a diferença de alturas ainda era
bastante, 27 centímetros de diferença que existiam mas sentados era um pouco
menor. Ela olhava ligeiramente para cima e ele olhava ligeiramente para baixo.
Aquele silêncio foi apenas interrompido pelas palavras de Fábio:
-Tu
achas mesmo que sou viciado em mulheres? – Engoliu em seco. A
opinião de Rita era importante mas também era importante saber a opinião geral
das pessoas a seu respeito.
-Era mesmo isso
que querias perguntar? Ou seria melhor perguntares porque razão é que me
lembrava de ti a ouvir uma música? – Perguntou a jovem sem saber se devia
sorrir ou ficar seriamente. Fábio ouviu a resposta em forma de interrogação
dela e respondeu.
-Sim Rita. Era
exatamente isto que queria perguntar. Tu achas mesmo que não consigo ver uma
rapariga à frente e quero logo estar com ela? Que estou assim tão desesperado?
Rita ficou surpreendida, achava exatamente isso de
Fábio, que era um rapaz que queria todas as raparigas “nas suas mãos”, mas não
lhe poderia dizer de forma tão direta. Queria mas sabia que o iria magoar, por
isso teria de o dizer de outra forma, de modo a não o magoar. Mas não sabia
como o fazer. E Fábio queria uma resposta.
-Não... Sim...
Não sei. – Perguntou nervosa e sem saber o que responder a Fábio. Queria
não responder a Fábio mas não sabia o que dizer. Não o queria magoar.
-Rita.
É essa a imagem que tens de mim? – Perguntou Fábio
aproximando a sua face dela e com o olhar cravado nas suas expressões.
-Sim. – Respondeu
baixando a face, por vergonha, por receio do que as suas palavras pudessem
fazer, palavras que tinham mais impacto que uma facada espetada pelas costas.
Ela não o queria magoar mas também não lhe iria mentir. Tinha medo de o magoar
e preferiu não o olhar olhos nos olhos com medo de ver a desilusão no seu
olhar.
Ele colocou o dedo indicador sobre o queixo dela e
fê-la olhá-lo olhos nos olhos. Cruzaram os olhares e ele respondeu:
-Ouve
as minhas palavras com atenção, quero deixar tudo bem claro contigo. Confias em
mim Rita? – Perguntou Fábio e ela ficou num beco sem
saída, se ela era direta e franca nas palavras que dizia, ele ainda conseguia
ser mais.
-Sabes
que não consigo dizer isso 24 horas depois de conhecer uma pessoa, não sou uma
pessoa fácil de se convencer mas os meus instintos e o meu coração dizem que
devo confiar em ti e já me deste provas disso mesmo. –
Respondeu Rita sentando-se no colo dele.
-Então vou-te
ser o mais frontal e dizer-te toda a verdade. – Pôs as mãos à volta da
cintura de Rita e olharam-se. Não precisavam de mencionar palavras porque os
olhos já o faziam, parecia que se conheciam há anos e no entanto conheciam-se
há menos de 24 horas. – É verdade que já
muitas raparigas passaram pela minha vida e delas secalhar só uma é que ficou.
– Durante segundos Rita perguntara a si mesma quem seria. E de seguida, por
telepatia talvez, ele respondeu. – Essa
rapariga é a Tânia, a minha melhor amiga. Nós namoramos durante um mês porque estávamos felizes enquanto curtíamos um ao lado do outro, sentiamo-nos bem e
decidimos começar a namorar. Mas não senti o que era mesmo esse sentimento de
amar e ouve uma série de outros problemas que não permitiram que a relação
continuasse. Ela amava-me, e eu não senti nada do que ela sentia por mim. Foi
estranho. E quanto ás curtes confia no que te digo. Tenho 19 anos não me vou
enfiar numa relação séria. Claro que apaixonar-me deve ser uma ser uma sensação
brutal, algo novo mas tão bom mas não
quero sofrer, ter desgostos, sair magoado, criar expectativas que são
totalmente falsas. Vou aproveitar a vida que o amor vai aparecer, até lá tenho
aventuras que me fazem feliz e não são sérias. Mas deixo bastante claro desde o
inicio de quais são os meus objetivos para a relação. Não gosto quando me fazem
sofrer, não entendo porque faria os outros sofrer, não merecem, mas sei que
mesmo sem querer faço sofrer ou com palavras ou com atitudes. – Respondeu e
ela ficou admirada com as palavras dele. Não teria necessidade de lhe mentir,
Rita já tinha deixado bem clara que por muito que ele tivesse segundas
intenções não seriam de todo retribuídas Por isso não havia necessidade de lhe
mentir e apesar de se conhecerem somente há um dia já se davam como melhores
amigos. Deu-lhe um beijo na testa e de seguida sentiu um estranho enjoo. Correu
até á casa de banho onde vomitou, expulsando todo o seu jantar e Fábio correu
atrás dela. Rita estava sentada no chão com um braço preso na sanita e embora
já tivesse vomitado um forte enjoo atravessava o seu estômago e a sua barriga.
Não era normal sentir aqueles enjoos, e muito menos de repente, sem razão
aparente. Mas não tinha uma explicação lógica.
-Estás
bem? – Perguntou ele entrando na casa de banho e deparando-se
com Rita no chão. – Não vais ficar no
chão frio, vou buscar-te uma almofada ou uma cadeira e vais sentar-te caso
queiras ficar aí. Mas entretanto vais passar a tua carinha por água enquanto eu
vou à cozinha buscar-te um copo de água para tirar esse sabor horrível que tens
na boca.
-Eu
estou bem! – Respondeu Rita fazendo com que o seu tom de
voz demonstrasse frieza e um pouco de rudeza. – Não preciso da tua ajuda para nada, desenrasco-me bem sozinha! – Fábio
sentou-se em frente a ela no chão e respondeu:
-Acabaste
de vomitar sem razão aparente e os meus cozinhados não são assim tão maus! Mas
olha que foi uma boa maneira de dizeres que cozinho mal! – Respondeu
a rir-se. E ela deixou-se contagiar pelo seu riso.
-És muito
engraçadinho tu! Vê lá se queres uma banana pela piadinha macaquinho!
-Estás
a chamar-me macaquinho? Sabes o que é que os macaquinhos fazem? Cócegas! – Agarrou
Rita e começou a fazer-lhe cócegas e ela só conseguiu responder segundos
depois.
-Pára senão
vomito para cima de ti! – Pediu Rita. E Fábio parou de lhe fazer cócegas e
ela limpou as lágrimas de tanto se rir que deitava pelo olhos. – Espera aí que o meu telemóvel está a tocar.
– Retirou do bolso das suas calças o seu telemóvel mas ainda tiveram tempo
para ouvir o toque do telemóvel durante uns segundos.
Turn around, open your eyes
(Dá a volta, abre os olhos)
Look at me now (Olha para mim agora)
Turn around, girl I've got you (Dá a volta, tenho-te a ti)
We won't fall down, yeah (E não vamos cair, sim)
We can see, forever from up here, yeah (Podemos ver a eternidade daqui, sim)
So long as we're together (Tão longo como continuarmos juntos para sempre)
Have no fear, no fear (Não tenhas medo, sem medo)
-É
o meu pai, tenho de atender! – Carregou no botão verde do
seu telemóvel e atendeu a chamada do pai. – Sim pai?
(...)
-Desculpa
senti-me mal e perdemos a noção do tempo mas vou já para casa. Beijinho até já
e desculpa. – Levantaram-se os dois do chão da casa de
banho com ajuda em simultâneo do outro. E Rita ia falar mas ele antecipou-se:
-Podes-me dar o
teu número?
-Quando
aprenderes a cozinhar eu dou-te e mesmo assim tens de beber muito leitinho
entretanto! – Disse divertida.
-A minha mãe
disse-me que até sabia cozinhar bem por isso estás só a ser mázinha.
-Pronto
é verdade! Cozinhas bem mas se vomitei foi por alguma razão.
-Pode
ser uma gravidez. – Disse rindo-se Fábio, dissera-se
inocentemente e apenas com a intenção de animá-la.
-Deus me livre e
me guarde! – Respondeu entrando na brincadeira de Fábio. – Amanhã eu venho cá tocar-te à noite, não
precisas do meu número mas agora vou indo. – Não lhe deu tempo para
responder, deu-lhe um beijo na bochecha e foi-se embora sem haver tempo de
resposta para ele reagir ou dizer alguma palavra.
Passaram-se dois dias e Rita não fora tocar a casa de
Fábio, o que o deixara preocupado. Tinha saudades de falar e estar com ela mas
também estava ansioso por saber em que estado se encontrava a saúde de Rita.
Será que fora apenas um enjoo natural que acontecera uma vez ou continuara? Não
tinha o número dela e também não lhe deixaria uma mensagem através do facebook,
isso tornava-se pouco... Pessoal. Queria averiguar pelos seus olhos de como
estava Rita e expulsar um receio. Talvez fosse algo que ele tivesse dito ou
feito, mas por muito que tentasse chegar a uma conclusão não sabia. Por isso no
final de tarde daquela quarta-feira foi tocar a casa de Rita, queria saber como
ela estava, queria vê-la.
Tocou á campainha e um minuto depois um senhor com
perto de quarenta anos abriu-lhe a porta, Fábio previu que fosse o pai de Rita.
Mas sentiu-se envergonhado, estava á espera que fosse ela, mas iria dizer algo,
queria saber de Rita, queria vê-la, falar com ela. Estar com ela.
Como será a
conversa entre Fábio e o pai de Rita?
E o que terá Rita?
Será uma gravidez?