-Eu
vou tomar banho, tu não sei. -
Dito isto puxou o lençol da cama e tapou-se com ele, e foi até à
casa de banho sem olhar para trás, sabia que olhá-lo iria fazê-la
sentir-se ainda pior. Assim que chegou, encostou a porta e deixou
cair o lençol do seu corpo, olhou-se ao espelho durante breves
segundos e decidiu passar a cara por água. Ligou o rádio, tirou as
toalhas do armário e deixou-as ao lado da banheira, ligou a água e
fê-la cair primeiro pelo cabelo e depois pelo corpo. A música
começou a fazer-se ouvir e a transmitir-lhe sentimentos:
All
her life she has seen
(A vida inteira, ela viu)
All
the meaner side of men (Todos
os lados malvados do homem)
They
took away the prophets dream (Roubaram
os sonhos do profeta)
For
a profit on the street (Pelo
lucro da rua)
Now
she's stronger the you know (Agora
ela é mais forte do que imaginam)
A
heart of steel start to grown (Um
coração de ferro começou a crescer)
All
his life he's been told (A
vida inteira, disseram-lhe)
He'll
be nothing when he's old (Que
seria um nada quando fosse mais velho)
All
the kicks and all the blows (Todos
os pontapés e golpes)
He
will never let it show (Que
nunca deixou transparecer)
Cause
he's stronger than you know (Pois
ela é mais forte do que imaginam)
A
heart of steel start to grown (Um
coração de ferro começou a crescer)
When
you've been fighting for it all your life (Quando
lutou toda a vida)
You've
been struggling to make things right (Para
fazer as coisas certas)
That's
how a superheroe learns to fly (É
assim que um super-herói aprende a voar)
Every
day, every hour (Todo
o dia, toda a hora)
Turn
the pain into power (Transforma
a dor em poder)
E
Rita não conseguiu conter as lágrimas... Toda a vida tinha tentado
fazer o direito, o correto e tudo parecia correr mal e quando tudo
parecia recompor-se, desabou, novamente, mesmo debaixo dos seus pés.
Sabia que tinha desiludido Fábio, e isso magoava-a, pior que isso,
sentia-se culpa. O que iam viver era suposto ser um momento
inesquecível para ambos, e havia sido, mas pela negativa. A dor
apoderava-se de si, queria tentar não pensar nisso mas não
conseguia simplesmente não pensar nisso. A culpa havia sido
inteiramente sua. Deveria ter suportado as dores, no final iria
compensar, mas não aguentara, as dores eram insuportáveis. Não lhe
tinha dado prazer, tinha-lhe dado uma primeira vez em conjunto,
interrompida apenas por ela ser fraca. Chorava, por culpa, por dor,
por perca, por desilusão. Era a sua oportunidade de ser feliz, no
seu auge e tinha sido mais uma mágoa. Fábio não o merecia, ele
merecia o céu e ela prometera-lhe as estrelas e nem lhe conseguia
dar um telescópio para as observar. A água continuava a cair pelo
corpo, mas continuava a sentir-se suja, continuava a sentir repulsa
de mim. Colocou champoo no cabelo e esfregou, passou novamente por
água e depois foi a vez do amaciador e do gel de banho, talvez
ajudasse a sentir menos suja, mas continuava com o mesmo sentimento.
Passou novamente por água durante uns minutos, depois decidiu sair.
Não iria gastar mais água, não queria sequer abusar, apesar de ser
a casa do seu namorado, não era a sua casa. Embrulhou-se numa toalha
e foi para o quarto, e deparou-se com uma mancha de sangue na cama,
sentou-se e as lágrimas continuavam a escorrer-lhe pela cara. A dor
tornava a sufocá-la, a apertar-lhe o coração e a não deixá-la
respirar normalmente. Queria que Fábio a abraçasse, queria
sentir-se segura mas também perder-se nos seus braços, queria
sentir que estava tudo bem, que o mundo estava ali nos seus braços,
mas também sabia que o tinha desiludido e que ele esperava mais de
si, e não conseguia lidar com isso. A vergonha e o medo de ver a
deceção no olhar dele, impediram-na de falar com ele, a culpa iria
ser superior a qualquer outro sentimento. Por isso decidiu ficar
sozinha e enfrentar aquela situação só, limpou as lágrimas e
vestiu-se. Pegou nas suas cuecas e vestiu-as e tirou uma t-shirt do
armário de Fábio, era confortável ficar assim, procurou também o
soutien mas não o encontrara. Foi até ao corredor, onde o encontrou
e vestiu-o. Mas tinha de avisá-lo que estava apenas com uma camisola
dele e que iria servir-se na cozinha, precisava realmente de comer.
-Espero
que não te importes, mas tirei uma t-shirt do teu armário e
vesti-a.
-Tudo
bem, sabes que te adoro ver só com uma t-shirt minha vestida não
sabes?
-Queres
comer alguma coisa? -
Rita mudou rapidamente o rumo da conversa.
-Eu
vou só tomar banho e já me sirvo. -
Disse Fábio sem nunca tirar os olhos da televisão.
-Estás
à vontade.
Fábio
foi para a casa de banho, e começou a ouvir-se a água a correr, e
Rita aproveitou só para beber um copo de leite, decidiu pegar na
roupa que estava espalhada pelo corredor e arrumá-la numa cadeira
que havia junto à cama, e enquanto o fazia, o rapaz saiu da casa de
banho com apenas uma toalha na cintura e ela foi obrigada a olhar
para ele.
-Desculpa,
vou-me já embora.
-Não
é nada que já não tivesses visto, meu bem. -
Era a primeira vez que a olhara, mas Rita desviara o olhar. Ele
tinha-lhe chamado um nome querido e isso ainda a fazia corar. -
Ainda há gelado de gomas?
-Não
lhe toquei, por isso não sei.
Saiu
do quarto e deixou o seu namorado vestir-se, mas assim que encostou a
porta, sorriu, continuava completamente derretida e maravilhada por
poder dizer que aquele homem era seu, embora estivessem juntos à
algum tempo. Foi para a cozinha e comeu umas bolachas nutritivas e
saudáveis que ele tinha no armário, e enquanto as comia, colocou os
fones nos ouvidos e começou a dançar:
Ay
payita mía, guárdate la poesía (Ai,
meu amorzinho, guarda a poesia)
Guárdate la alegría pa'ti (E aguarda a alegria para ti)
No pido que todos los días sean de sol (Não peço que todos os dias sejam de sol)
No pido que todos los viernes sean de fiesta (Nem peço que todas as sextas sejam de festa)
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón (Nem que voltes para pedir perdão)
Si lloras con los ojos secos y hablando de ella (Se choras com os olhos secos, falando dela)
Ay amor, me duele tanto, me duele tanto (Ai amor, dói-me tanto, dói-me tanto)
Que te fueras sin decir adónde (Que te tenhas ido embora, sem dizeres para onde)
Ay amor, fue una tortura perderte (Ai amor, foi uma tortura perder-te)
Yo sé que no he sido un santo (Eu sei que não tenho sido um santo)
Pero lo puedo arreglar, amor (Mas posso concertar, amor)
No solo de pan vive el hombre (Não só de pão vive o homem)
Y no de excusas vivo yo (Nem só de desculpas vivo eu)
Sólo de errores se aprende (Só com os erros é que se aprende)
Y hoy sé que es tuyo mi corazón (E eu sei que é teu, o meu coração)
Mejor te guardas todo eso (É melhor guardar tudo isso)
A otro perro con ese hueso y nos decimos adiós (A outro cão com esse osso e assim dizemos adeus)
No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal (Não pudemos pedir ao Inverno para perdoar um rosal)
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras (Não posso pedir aos ulmeiros que tragam peras)
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal (Não posso pedir o eterno a um simples mortal)
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas (É como atirar milhares de pérolas a porcos)
(...)
Guárdate la alegría pa'ti (E aguarda a alegria para ti)
No pido que todos los días sean de sol (Não peço que todos os dias sejam de sol)
No pido que todos los viernes sean de fiesta (Nem peço que todas as sextas sejam de festa)
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón (Nem que voltes para pedir perdão)
Si lloras con los ojos secos y hablando de ella (Se choras com os olhos secos, falando dela)
Ay amor, me duele tanto, me duele tanto (Ai amor, dói-me tanto, dói-me tanto)
Que te fueras sin decir adónde (Que te tenhas ido embora, sem dizeres para onde)
Ay amor, fue una tortura perderte (Ai amor, foi uma tortura perder-te)
Yo sé que no he sido un santo (Eu sei que não tenho sido um santo)
Pero lo puedo arreglar, amor (Mas posso concertar, amor)
No solo de pan vive el hombre (Não só de pão vive o homem)
Y no de excusas vivo yo (Nem só de desculpas vivo eu)
Sólo de errores se aprende (Só com os erros é que se aprende)
Y hoy sé que es tuyo mi corazón (E eu sei que é teu, o meu coração)
Mejor te guardas todo eso (É melhor guardar tudo isso)
A otro perro con ese hueso y nos decimos adiós (A outro cão com esse osso e assim dizemos adeus)
No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal (Não pudemos pedir ao Inverno para perdoar um rosal)
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras (Não posso pedir aos ulmeiros que tragam peras)
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal (Não posso pedir o eterno a um simples mortal)
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas (É como atirar milhares de pérolas a porcos)
(...)
No te bajes, no te bajes (Não te vás, não te vás)
Oye negrita, mira, no te rajes (Olha negrita não vás)
De lunes a viernes tienes mi amor (De segunda a sexta tem o meu amor)
Déjame el sábado a mi que es mejor (Deixa-me o sábado para mim, é melhor)
Oye mi negra, no me castigues más (Oh minha negra, não me castigues más)
Porque allá afuera sin ti no tengo paz (Porque lá fora, sem ti, não tenho paz)
Yo sólo soy un hombre arrepentido (Eu sou um homem arrependido)
Soy como el ave que vuelve a su nido (Sou como uma ave que volta ao ninho)
(...)
Ay, ay, ay, ay, ay (AI, AI, AI, AI, AI)
Ay, todo lo que he hecho por ti (Ai, tudo o que fiz por ti)
Fue una tortura perderte (Foi uma tortura perder-te)
Me duele tanto que sea así (Dói-me tanto que sejas assim)
Sigue llorando perdón, yo (Se chorar pedindo perdão, eu)
Yo no voy a llorar hoy por ti (Eu não vou chorar hoje por ti)
Quando
a música terminou, pousou os fones nos seus ombros e ouviu nas suas
costas:
-Nunca
imaginava que dançasses tão bem! -
Rita sorriu.
-Estás
aí à muito tempo?
-Desde
que começaste o show. O que estavas a dançar?
-Shakira,
o que haveria de ser? -
Trocaram um sorriso cúmplice. -
La tortura, conheces?
-Claro
que sim, aquela dança dela é irresistível a qualquer homem.
-Nunca
aprendi a dançar a dança do ventre e nunca vou ter o movimento de
anca dela, mas gosto de dançar, faz-me desanuviar e não pensar nos
problemas.
-Acho
que deveríamos falar sobre o que se passou.
-Não
há nada para falar, Fábio. -
Respondeu com uma certa agressividade e com o tom de voz mais
elevado.
-Sabes
bem que temos de falar sobre nem sei como chamar... Sobre a nossa
primeira vez interrompida.
-Não
quero falar sobre isso.
-Tu
não tens culpa de nada, e eu também não, aconteceu porque tinha de
acontecer.
-Já
acabaste? Senão te importares quero ir para a sala ler um livro. -
Ele nada respondeu, limitou-se a respirar fundo, Rita virou costas e
foi para a sala. Tirou um livro da estante e colocou os fones nos
ouvidos, assim não ouviria o que Fábio diria quando ele voltasse
para ver novamente a televisão na sala, a música começou a tocar e
começou a concentrar-se no que dizia o livro, para se afastar dele,
até se sentou no sofá mais longe da televisão para não ficar
próxima dele. Assim que o rapaz chegou à sala sorriu, mas nada
disse, limitou-se a sentar no seu sofá e ver a televisão, mas
sempre que podia mandava um olhar matreiro à sua namorada, e ela não
precisava de observá-lo, percebia mas nada fazia, fingia não ter
entendido. Os minutos passaram e cada minuto o livro que lia parecia
mais desinteressante, ou então era ela que não estava atenta, tirou
os fones dos ouvidos e pousou-os juntamente com o livro na pequena
mesa que existia entre os sofás e com medo que Fábio falasse acabou
por apenas dizer:
-Vou à casa de banho. - Dito isto não esperou resposta e foi para a casa de banho. - Fábio! - Berrou, assustando-o, rapidamente se levantou do sofá e foi ter com a namorada, bateu à porta da casa de banho e entrou passado breves segundos.
-Está
tudo bem meu amor?
-Não,
repara nisto! - Apontou
para o seu útero. -
Isto não é normal! Estou cheia de comichão, e dói-me, além da
cor!
-Nunca
vi nada assim, é melhor irmos ao hospital.
-E
o que digo à minha família por ter ido parar ao hospital?
-Eles
não precisam de saber, és maior de idade!
-Isto
dá-me imensa comichão, Fábio, eu é que não te quis dizer que
achei normal, e as dores também, mas já vai em quase meia hora e
isto não passa.
-Vamos
ao hospital, pega nos teus documentos e nas tuas chaves e telemóvel
e vamos. -
Dito isto foram buscar as carteiras, os telemóveis e as chaves e
seguiram rumo ao hospital.
-Fábio,
desculpa. -
Disse enquanto ele conduzia em direção ao hospital. -
Sei que te desiludi, que esperavas mais da nossa primeira vez, eu
também fiquei desiludida comigo, acredita, mas eu não conseguia
mais. Desculpa.
-Amor,
tu não tens de me pedir desculpa por nada, estas coisas acontecem,
não tinhas como saber.
-Mas
desiludi-te, e sinto-me culpada por isso.
-Neste
momento o mais importante é o teu estado de saúde, isso sim. Além
do mais tu ensinaste-me uma coisa importante e é nisso que tens de
pensar neste momento, senão aconteceu é porque não tinha de
acontecer.
-Eu
sei, mas custa-me entendes?
-A
mim também me custa um pouco, queria que a tua primeira vez fosse
algo inesquecível e foi... Mas pela negativa.
-Posso
lembrar-me da nossa primeira vez de uma forma um pouco engraçada!
-Original!
-
Riram-se em conjunto. -
Achas que devíamos avisar os teus pais ou a tua irmã que vamos para
o hospital?
-Queridos
pais, olha eu e o vosso querido genro queríamos ir para a cama, mas
eu não aguentei as dores e como tem uma cor estranha, decidimos vir
para o hospital.
-Pensando
bem não será muito boa ideia... Mas e a tua irmã?
-A
minha irmã pode ser, mas não quero que ela vá ter connosco ao
hospital, é embaraçoso, além de que tem a nossa afilhada em casa
para cuidar. Vou-lhe ligar. -
Mexeu nos bolsos e não encontrou o telemóvel, apenas havia trazido
a carteira. -
Posso ligar do teu telemóvel?
-Estás
à vontade! Sabes o número de cor? É que só tenho o número dos
teus pais...
-Eu
sei de cor não te preocupes! -
Pegou no telemóvel e ligou para a irmã.
-Então
Fábio, não encontraste o caminho certo, ou já esgotaram a caixa de
preservativos e precisam de mais?
-Olá
mana! -
Respondeu, interrompendo-a. -
Nada disso, aliás tivemos de interromper a nossa primeira vez que
estava com dores e depois apareceram as comichões, e estava com uma
cor estranha... Lá em baixo e por isso decidimos vir ao hospital.
-Deixa-me
só avisar o Rúben e já vou ter convosco!
-Não
é preciso Ana! Era só para te avisar que não trouxe o telemóvel e
se for preciso liga para este que é o do Fábio.
-Eu
vou ter contigo, não te vou deixar sozinha no hospital.
-Mas
não é mesmo preciso, obrigada.
-Não
quero discutir contigo, eu vou a caminho e não se fala mais nisso.
-Está
bem, não insisto. O Fábio vai só estacionar e vamos entrar, quando
tiveres a chegar, avisa.
-Está
bem. Beijo, até já!
-Até
já! -
Fábio olhou rapidamente para ela enquanto estacionava o carro. -
A minha irmã insistiu em vir cá ter. Tens noção da vergonha que
vou passar a explicar o que se passou?
-Eu
sou desenvergonhado, além de que sou homem, eu explico!
-E
que homem... -
Disse baixinho.
Entraram
para o hospital e como era uma emergência de ginecologia não
demoraram a ser atendidos, e quando entraram para o consultório, Ana
já tinha chegado e teve de esperar no corredor porque só puderam
entrar Rita e Fábio, explicaram a situação ao médico e depois de
alguns exames, acabaram por ser informados que ela tinha tido uma
reação alérgica. Rita era alérgica ao látex do preservativo. A
próxima vez que o fizessem teria de ser com um preservativo sem
látex, ou então, ela teria de tomar a pílula. Era o mais
recomendável, garantiu, pediu-lhe para ir a uma farmácia e falar
com a farmacêutica que a ajudava a escolher e a ajudá-la a ver qual
seria a melhor. Acabou também por dizer que ela teria alta no mesmo
dia, e poderiam seguir a sua vida... Mas com juízo! Realçou! Saíram
do consultório e foram até à sala de espera, onde Ana já os
esperava:
-Então?
Demoraram tanto tempo, estava a ficar preocupada!
-Sou
alérgica ao látex! -
Disse Rita, baixando a cabeça. -
Não é uma alergia muito agressiva, mas é alergia.
-Então
como é suposto fazer amor?
-O
médico falou-nos de uns preservativos sem látex, que deveríamos
experimentar, mas o mais recomendável é mesmo a pílula.
-Tens
mesmo de tomar atenção na altura de a tomares Rita, não te podes
esquecer!
-Eu
sei Ana, mas também não o pudemos fazer nos próximos tempos...
-Deixem-me
só fazer uma pergunta um pouco mais descarada.... Vocês chegaram
realmente a fazê-lo e depois interromperam?
-Sim.
-
Respondeu Rita. -
Não conseguia mais aguentar as dores e pedi-lhe para parar, fui
tomar banho e ele também, e a dor e comichão não paravam, chamei-o
e decidimos vir cá.
-E
a Rita ligou-te para vires cá, porque não era bonito contar aos
pais dela, como imaginas, além do mais também ficarias em maus
lençóis porque lhes mentiste.
-Ninguém
tem de saber de nada, mas vocês não podem ficar traumatizados por
isto... Principalmente tu, maninha!
-Mas
é difícil sabes?
-Imagino
que deva ser... Mas também é cedo, vocês estão juntos há pouco
tempo, são tão novos, têm tempo.
-O
tempo que estamos juntos é indiferente, o que importa é a
intensidade com que vivemos os momentos. -
Dito isto, agarrou na mão do seu namorado e seguiram até ao carro.
-Não
precisavas de ser tão agressiva com a tua irmã, ela estava a tentar
ser tua amiga.
-Mas
estava a piorar aquilo que sinto. Nós é que temos de decidir qual é
o nosso timing ideal, a relação é a dois, ninguém tem de se
meter.
-Porque
é que estás a ser tão drástica e dura, Rita? Nunca te vi assim!
-Talvez
não me conheças assim tão bem.
-Ai
é que te enganas, Fábio. Não gosto que as pessoas me digam o que
fazer ou não, sem eu perguntar, a vida é minha, a decisão era
minha, o corpo é meu e o meu homem és tu, nós é que tínhamos de
decidir, tivemos azar, apenas isso, senão fosse eu provavelmente
ainda o estávamos a fazer!
-Não
tens de te sentir culpada por nada, Maria Rita! -
Disse já um pouco chateado. -Aconteceu
porque tinha de acontecer, porque estava destinado a acontecer, e
tenho a certeza que o teu avô e o teu irmão estão no céu a tentar
mentalizar-te disso mesmo, e tu simplesmente não me dás ouvidos! Eu
amo-te e eu também tive culpa, não te devia ter pressionado, podia
ter-te obrigado a não fazermos nada, também eu podia ter evitado e
não o fiz, está feito! E quanto mais te queixas do que se passou
mais culpado me sinto Rita, parece que estás arrependida!
-Não
estou arrependida! -
Respondeu tentando animá-lo. -
Simplesmente estou chateada que a minha irmã se queira meter nas
nossas vidas, a minha irmã também foi mãe cedo e os meus pais não
a julgaram, aliás deram-lhe todo o apoio que precisava, e ela está
a acusar-me de ter precipitado a minha primeira vez! Eu sei o que
fiz, sei com quem o fiz, e sei que não estou arrependida, apenas
surpreendida!
-E
não achas que foste um pouco bruta demais com a tua irmã?
-Talvez
tenha sido... Amanhã falo com ela, hoje estou demasiado cansada, só
quero deitar-me ao teu lado e dormir. Na minha cama, que a tua não
está em condições.
Dito
isto entraram no carro e seguiram até casa dele, Fábio precisava de
ir buscar roupa para vestir no dia seguinte, depois foram até casa
dela, onde se deitaram na sua cama e ela começou a relembrar-se de
momentos importantes e a contá-los:
-Amor,
ainda te lembras...
“-Rita,
por favor, só mais um bocadinho. –
Suplicou
Fábio e Rita não conseguiu resistir.
-Mas
é mesmo só mais um bocadinho, sabes que o meu pai está à minha
espera. –
Disse
pousando
novamente a mão sobre o peito de Fábio que a agarrou as mãos e
olhou para ela.
-Só
falta uma coisa para tornar este momento perfeito. –
Encheu-se de coragem e disse-o, Rita olhou para ele que sorria e
perguntou:
-E
porque não o tornas perfeito? –
Perguntou envergonhada mas com coragem de dizer tudo o que sentia e
de se sentir ainda mais realizada.
-Porque
não sei se também o queres.
-Eu
confio em ti Fábio. –
Disse pousando a mão sobre os cabelos secos mas brilhantes dele.
-Tens
a certeza? Tu nem sabes o que vou fazer.
-Faço
uma pequenina ideia. E sinceramente, não preciso de saber, tal como
te disse confio em ti.
Os
olhos de ambos brilharam e foi Rita quem tomou a iniciativa de cruzar
os seus dedos com os de Fábio dentro de água. Fábio sabia que o
que iria fazer podia estragar aquela amizade, podia deixar a amiga
desiludida ou magoada, podia afastá-la de si, mas estava disposto a
arriscar, afinal ela permitia-o, fora ela que o incentivara-o a
fazer, embora não soubesse ao certo o que ele iria fazer.
Fábio
aproximou os seus lábios da face de Rita, pousou a mão esquerda
sobre a bochecha dela que fechou os olhos sentindo o doce toque do
amigo na sua face, aproximou os seus lábios dos dela e respirou
durante breves segundos e beijou-a como desejara há imenso tempo,
como nunca desejara beijar ninguém.
E
Rita nunca hesitou, nunca temeu e sempre confiou em Fábio, deixou-se
beijar e sentir todas aquelas sensações únicas, faziam-na ter
ainda mais certeza do que sentia por ele. Estava apaixonada. E aquele
beijo causara-lhe uma felicidade inexplicável, sentia-se amada como
não sentia desde o final de relação com Tiago.
E
Fábio sentiu o que nunca havia sentido antes, uma felicidade a sair
pelo seu coração de forma inexplicável, uma vontade de não mais
soltar Rita dos seus braços, de fazê-la apenas a única mulher da
vida dele. Ela era a sua felicidade, o seu porto de abrigo, o seu
porto seguro, uma mulher surpreende apesar da tenra idade.
As
bocas só se separaram quando o ar começava a escassear, e parecia
nada os querer afastar, não queria mais largar-se, nunca mais se
afastarem e ficarem unidos como um só. Rita pousou a cabeça sobre o
peito de Fábio e as mãos nos ombros dele, que retribuiu o gesto
pousando as mãos sobre as costas de Rita e a cabeça sobre a cabeça
dela e com a voz meio-rouca e grave disse:
-Sem
dúvida que tornaste este momento perfeito. – Disse sorrindo e
olhando para o nascer do sol cada vez mais forte.”
-Claro,
que me lembro, apesar de todos os momentos vividos ao teu lado terem
sido especiais, houve alguns mais inesquecíveis que outros, e o
nosso primeiro beijo, foi dos momentos mais bonitos que vivemos
juntos, mas porque te lembraste de repente disso?
-Sinceramente?
-
Ele abanou positivamente com a cabeça. -
Todos os dias rezo, agradecendo a Deus teres entrado na minha vida e
estarmos juntos.
-A
sério? Não imaginas o quanto fico contente por saber isso! Sabes,
eu acredito em Deus, mas não sou muito de rezar, gosto de viver o
momento e aproveitá-lo e relembrá-lo mais tarde, mas quero saber
quais foram para ti os mais importantes e dizer também os meus,
queres ouvi-los?
-Obviamente
que sim, pode ser que tenhamos algum em comum. Ainda te lembras...
“Por
isso tocou á campainha de Fábio. Esperou algum tempo e quando o
amigo abriu a porta, foi surpreendida por ele. Tinha apenas uma
toalha a cobrir-lhe a cintura, nada mais. E Rita pode constar que ele
era ainda mais atraente do que julgava e imaginava. O cabelo
pingavam e as gotas escorriam pelo corpo, e todas as tatuagens que
tinham estavam bem visíveis, inclusivé a do peito.
Não
conseguia esconder a admiração. Abriu a boca e Fábio apenas
sorriu. Baixou a cabeça e benzeu-se e disse em voz baixa:
-Ai
meu Deus! –
Nunca tinha observado o corpo de Fábio e não fazia ideia do que a
tatuagem no peito diria.
-Tapava
o peito mas se o fizer deixo outras partes á mostra! –
Rita olhou
para ele e colocou as mãos á frente dos olhos, mas afastando os
dedos, numa tentativa de mostrar que estava envergonhada mas também
de admirá-lo.
-Deixa-te
estar! Eu depois venho cá! –
Disse na
tentativa de fugir á maior vergonha da sua vida.
-Entra
masé tola! Eu vou vestir qualquer coisa para não te deixar tão
pouco á vontade. –
Disse entrando em casa e Rita seguiu-lhe. – Fecha
a porta e finge que a minha casa é a tua. –
Afirmou indo em direção ao quarto para vestir alguma roupa menos
provocatória para os sentidos dela. Falou do quarto para a sala,
onde estava a rapariga.
(…) ”
-Não
acredito que te lembraste disso!!
-Foi
um dos momentos mais divertidos que me proporcionaste, como me
poderia esquecer?!
-Não
tem graça, eu já estava congestionada por causa das canadianas e
era de manhã, ainda nem o pequeno-almoço tinha tomado e já estava
a ficar sem palavras!
-Se
eu te dissesse que estava com duas canadianas, tinhas ficado logo
chateada! -
Rita cruzou os braços e fingiu-se chateada, virou-se de costas para
ele.
-Fica
lá com as tuas canadianas, e come francesinhas e adota ainda gregas
por causa da crise que eles também precisam de ajuda, sejam felizes!
-Não
precisas de ter ciúmes, para quê ter canadianas, francesinhas, de
nada, porque eu tenho a minha portuguesa ao meu lado e não quero
mais nenhuma. -
Encostou-se a ela e deu-lhe um beijo na bochecha. -
És uma das pessoas mais divertidas que conheço, sabias?
-Fazia
uma pequena ideia! -
Sorriram. -
Ainda te lembras...
“-Olá!
–
Sorriu. E Rita confessava a si mesma que tê-lo a menos de dois
metros de si, o tornava ainda mais bonito. E... Sexy! Bem era esta a
palavra, chegava a esta conclusão Rita. –
O meu nome é Fábio Cardoso e sou teu vizinho da frente. –
Não conseguia reagir. Estava surpreendida.
– Tu és a Rita Madeira não és? –
Corou. Como é que ele sabia o seu nome?
-Sim.
Dizem que sim. –
Respondeu Rita sorrindo.
-Conheces-me?
–
Se havia algo que ela gostava era deixar tudo claro. Não o conhecia
pessoalmente e não era “conhecida” por isso não havia motivos
para ele a conhecer. Tinham já falado mas podia ser apenas por ele
ter segundas intenções consigo, que não eram de todo retribuídas.
Não queria ser apenas “uma” rapariga na conta pessoal de
ninguém. –Quer
dizes ainda há pouco falamos mas podias já te ter esquecido. –
Disse sinceramente.
-Ou teres segundas intenções não retribuídas. –
Disse baixinho entre-dentes.”
-Quando
nos conhecemos? Obviamente que me lembro! Quando te vi nesse dia
achei-te tão bonita, mas tão bonita! -
Esperava uma resposta de Rita, mas apenas ouviu silêncio, esperou
mais alguns segundos e nada... Não respondia. Olhou para ela que
havia adormecido com a cabeça pousada sobre os seus braços e
encostada ao seu peito, depositou-lhe um pequeno beijo na testa e
sussurrou-lhe “amo-te”. Ela estava cansada e havia adormecido mas
havia tanto para conversarem, para esclarecerem, nenhum deles sabia o
futuro mas sabia que queria fazê-los juntos.
Será
que Rita vai pedir desculpa à irmã?
Como
será o resto do namoro? Será que a 1ª vez irá acabar por
afastá-los?