-Fábio. –
Disse Rita tocando no braço do amigo. –
O Pedro está ali, acompanhado.
-Vai falar com ele. Eu fico aqui com a Diana.
-Não. Ele está com aquela rapariga e eu estou com
vocês.
-Devias ir falar com ele e esclarecer tudo, senão não
vais ficar bem.
-Desde que te tenha a ti e à minha família, fico bem.
-Obrigada. –
Fábio deu um beijinho na testa da amiga. - Tens a certeza que não queres ir falar com
ele? Eu não me importo nada.
-Tenho. Vou adiar esta conversa mais uns tempos.
Rita virou as costas a
Pedro e à sua companhia e começaram a caminhar em direção a casa.
-Rita. –
Aquela voz parecia familiar. E começava a aproximar-se cada vez mais deles. – Espera. – Pararam no local onde
estavam e olharam para trás. Era Pedro. –
Precisamos de falar, Rita.
-Falamos noutra altura, tu estás acompanhado e eu
também.
-Por favor. –
Pediu Pedro.
-Fábio senta-te com a nossa afilhada ali no banco que
eu já vou ter com vocês. – Ele acenou com a cabeça
e fez o que a amiga pediu.
Começaram a caminhar junto
ao rio mas sem se afastarem muito,Pedro também pediu à sua amiga, para aguardar
por ele e ela fez o que o amigo lhe pedira.
-Acho melhor adiarmos esta conversa. Tu tens a tua
amiga à tua espera, eu tenho o Fábio e a Diana.
-Se adiarmos sabes, que tão cedo não voltamos a falar.
-Está bem, mas não nos podemos afastar muito. Não posso
esforçar o pé.
-Que te aconteceu?
-Tive um acidente de moto ontem, depois de deixar a tua
casa.
-O que se passou? Estás bem? – Perguntou verdadeiramente preocupado com a amiga.
-Torci o pé e fiquei com alguns arranhões, mas isto
passa. Foi só o susto. Pior ficou a mota.
-E tudo isto depois da nossa discussão. – Sentaram-se num banco um ao lado do outro, mas Rita
esticou o pé magoado e deixou o outro sobre o banco.
-Tu não tiveste culpa. Ninguém teve culpa, quem está na
estrada está sempre sujeito.
-Obrigada por me fazeres sentir bem. Depois de tudo.
-É para isso que servem os amigos! Estão juntos nos
bons e maus momentos! Sei que ontem não tive a melhor atitude e tenho que te
pedir desculpa. Não foi minha intenção magoar-te mas acabei por fazê-lo. Nunca
me passou pela cabeça que tu gostasses de mim... Dessa forma.
-Não tinhas como saber, nunca te dei motivos para desconfiar.
-Mas podia ter desconfiado de qualquer coisa, por mais
pequena que fosse.
-Eu fui muito cuidadoso. Tive a minha oportunidade e
perdi-a, por ciúmes parvos e estúpidos.
-Não, eu podia ter evitado tudo isto e não o fiz.
-Se eu te tivesse dito que gostava de ti, nada seria
assim.
-Muito seria diferente, sabemos disso. Mas acho que
nenhum tem de se sentir mais culpado que o outro no meio desta história.
-Mas tudo continua presente no futuro, com culpa ou sem
ela.
-Sim. E já fizemos o que tínhamos que fazer, pedimos
desculpa e sabemos bem que somos amigos. Porque razão iríamos estragar uma
amizade por causa de um erro?
Pedro abraçou Rita que
também o apertou nos seus braços.
-Obrigado! –
Disse Pedro sussurrando ao ouvido da amiga.
-De nada meu pequeno grande! – Fábio observava todo aquele momento á distância e
sentia ciúmes. Ciúmes de não ser ele no lugar de Pedro. Queria poder
sussurrar-lhe palavras de carinho e dizer o quanto gostava dela.
Afastaram-se e puderam
observar que Fábio estava próximo, ou melhor, estava mesmo à beira deles. Que
fez tudo para controlar os seus impulsos, mas foram mais forte e aproximou-se
dos amigos. Estava a começar a sentir ciúmes de Pedro, sabia bem o que ele
sentia por ela, e que o sentimento não era recíproco, mas queria sentir que era o único homem da
vida de Rita.
-Fábio que fazes aqui? – Perguntou a rapariga.
Ele não poderia contar a
verdade, por isso tinha de inventar uma justificação viável para a sua
presença. Pedro levantou-se e colocou-se ao lado de Fábio e pode admirar Diana
durante alguns segundos, tocou com o dedo indicador na bochecha da menina e
disse:
-A menina está quase a dormir. É melhor levá-la para
casa.
-Sim. A menina ainda não está habituada ao teu colo, é
melhor eu tentá-la adormecer, mas vê se aprendes uma lição! Afinal também é tua
afilhada! – Colocou os braços
debaixo dos de Fábio que pousou suavemente a menina no colo da madrinha, virou
costas e começou a andar e a cantar para a pequena. Fábio queria acompanhá-las
mas Pedro falou:
-Ela está-te a mudar, puto. – Foi completamente apanhado desprevenido com aquelas
palavras carregadas de razão.
-A Rita já me mudou, se sou o homem que sou, a ela o
devo. – Apontou para a amiga e
sorriu.
-E tu estás-te a apaixonar. – Disse Pedro sorrindo mas sem nunca olhar para Fábio,
apenas admiravam Rita.
-Não. Já estou apaixonado. – Confessou pela primeira vez em voz alta e sabia bem
dizê-lo. Mas fizera-o com alguém completamente inesperado.
-Ela também gosta muito de ti. – Apesar de magoar a Pedro encarar esta dura realidade,
sabia que era verdade e queria apenas a felicidade de Rita e sabia-o que era
junto a Fábio que seria e era feliz. –
Promete-me apenas que vais fazê-la feliz e não a vais magoar como eu fiz.
-Vou fazer tudo para fazer dela a mulher mais feliz do
mundo. Mas... Não te magoa dizeres isso, dessa forma e com essa naturalidade?
-Não imaginas o esforço que estou a fazer para tentar
mostrar que está tudo bem.
-Te garanto que vou fazer tudo para fazer dela a mulher
mais feliz do mundo, mas ainda é tudo um mundo novo para mim. Sei que gosto
dela como nunca gostei de outra rapariga, mas ainda não sei se a amo, entendes?
– Pedro sorriu.
-Acordas a pensar nela e adormeces também a pensar
nela, sonhas com ela, falas imenso sobre ela, já para não falar no sorriso de
orelha a orelha, sem razão aparente. Queres estar sempre ao pé dela. E tens
constantemente saudades, mesmo quando estão afastados há escassos minutos. Mas
tens medo que ela descubra, porque tens medo de perdê-la. Mas não consegues
deixar de pensar como será quando a beijares e como será o vosso futuro, se
tiveres juntos. E para não falar que tens ciúmes. – Sorriram. –
Sim, porque eu percebi que não te aproximaste de nós, por causa da menina.
Fábio ponderou sobre
aquelas palavras e sem dúvida tudo o que dizia era verdade.
-E as borboletas no estômago? – Perguntou ingenuinamente. E Pedro não conseguiu
conter a gargalhada.
-Nem todos os apaixonados sentem as borboletas no estômago. Isso é uma coisa bonita para os filmes e para as músicas. Mas quero
que saibas, que apesar de tudo, podes contar comigo. Mas em primeiro lugar, desculpa,
pelas minhas atitudes. Ás vezes os apaixonados fazem coisas que normalmente não
faziam.
-Obrigada! –
Fábio deu um abraço a Pedro. Mas rapidamente se separaram. – Prometo que vou fazer tudo para fazê-la feliz.
-Posso saber o que é que as duas Amélias estão a fazer?
E quem é que vais fazer feliz, Fábio? –
Perguntou surpreendendo os amigos.
-A Diana. –
Disse por instinto Fábio. E Rita ficou desapontada com o que ouvira e não o
conseguiu esconder. – Estava a dizer ao
Pedro que vamos ser padrinhos da Diana e que vou fazer tudo para ela ser feliz.
-E que experiência tem o Pedro para te fazer prometer
isso?
-Uma irmã mais nova e montes de primos mais novos.
-Já cá não está quem falou! – Disse animada. –
Fábio é mesmo melhor irmos andando que a menina precisa de descansar mais um
bocadinho e depois está na hora do lanche.
-Está bem. Obrigada, cabeção. – Disse dando um “passou-bem” a Pedro.
-De nada, puto.
-Adeus, Pedro. –
Despediram-se com dois beijinhos. – Por
falar nisso a tua amiga disse que tinha de ir embora, qualquer coisa com uma
urgência ou assim, não me lembro bem.
-Ela não era minha amiga. Conhecemo-nos hoje, aqui e
estávamos a falar, estamos a viver situações semelhantes.
-Pode ser que algum dia a voltes a encontrar por aqui! – Deram dois beijinhos e Rita e Fábio começaram a
caminhar até casa. Colocaram a menina sobre o carrinho que haviam trazido e instintivamente, por impulso de ambos, cruzaram as mãos.
Quando chegaram ao prédio,
tomaram a decisão de irem até casa dela, afinal ele não estava preparado para
receber a visita de uma bebé. Quando chegaram a casa, a madrinha deitou a
menina sobre a sua cama que já dormia e foi até á sala onde estava o padrinho.
Fábio estava sentado no sofá, mas quando deu pela entrada da amiga, levantou-se.
Rita não ficou indiferente e foi ter com o amigo. Aproximaram-se. Ficaram apenas
a alguns centímetros um do outro, mas os olhares eram muito intensos. Quem
tomou iniciativa foi Rita que colocou as mãos sobre o pescoço do rapaz, e ele
nada indiferente, colocou a mão sobre as ancas dela. Estavam cada vez mais
próximos, os lábios iam-se unir como tanto desejavam, como tanto haviam pensado. Mas algo os interrompeu. O choro de Diana, provavelmente com fome,
impediu-os de ir avante. Não podiam negar o choro da menina, por isso foram
obrigados a adiar o beijo, mais uma vez.
“Há terceira não é mesmo de vez”
Pensou Rita para si mesma,
já era a terceira vez que se tentavam beijar e algo os impedia. Mas preferia
não acreditar que era o destino, ela sabia que iria acontecer, mais cedo ou
mais tarde.
(Passado alguns dias)
Enquanto Fábio andava
ocupado a preparar uma festa de aniversário surpresa a Rita, sem que ela
pudesse desconfiar. A jovem andava ocupada entre conhecer a nova escola, fazer
novos amigos e conviver com a nova realidade mas também em tentar descobrir ao
certo o que sentia por Fábio, tentava chegar a alguma conclusão e só conseguia
chegar até uma: não podia ficar um dia longe dele. Em especial, o seu dia de
aniversário.
Era 22 de Janeiro, véspera
do seu aniversário e estava a família Madeira reunida na sala, era o momento de
partilhar o que queria para o dia seguinte. Tinha a certeza, amava a família
mas tinha que o ter junto a si, não era um capricho, mas sim uma necessidade.
-Só vos peço como prenda de aniversário deixarem-me ir
a Braga amanhã. Sei que tenho aulas mas não aguento simplesmente, não estar
longe do Fábio e muito menos no dia de amanhã. – Disse Rita partilhando (quase) tudo o que sentia. Os
pais conheciam Fábio e gostavam imenso dele, já tinham percebido que havia algo
mais que uma amizade. Continuavam a encontrar-se frequentemente, mas a forma de
ser de ambos mudara. A forma de estar para com a vida, a alegria com que viviam
e pequenos detalhes em ambos mudavam e não conseguiam escondê-lo. A jovem
lisboeta sabia que podia confiar nos pais, que eram os seus melhores amigos,
mas ainda não se sentia à vontade para falar sobre o que sentia.
Qual
será a resposta dos pais?
Será
que vão entender o que Rita pede? Quem ficará surpreendido no final?