Rita não teve uma boa
noite de sono com as dores causadas pelo acidente mas mesmo assim teve de
acordar cedo, ia enfrentar uma grande mudança na sua vida. Uma nova escola,
novas caras, novos amigos, novas relações e uma nova realidade. Sentia-se
preparada e com vontade de lutar, mas também estava receosa. Sentia-se
insegura, com medo que não conseguir relacionar-se com alguém, de não conseguir
fazer novos amigos e sabia que eram importantes. Mas sabia que tinha um á sua
beira, Fábio. E depois do que acontecera no dia anterior, não sabia ao certo o
que pensar.
Fábio tinha provado ser
uma enorme pessoa e um enorme amigo, que estava somente interessado na sua
amizade. Mas não podia negar a si mesma que queria aquele beijo, que o desejava.
Que nutria sentimentos por ele que não nutria por mais ninguém e que sentia uma
necessidade inexplicável de estar com ele, até mesmo sem conversarem, ou estando
em silêncio absoluto.
Levantou-se da cama e foi
até á casa de banho, tomou um banho refrescante e volto até ao quarto onde
escolheu a roupa. Optou por algo simples e confortável, até porque as muletas
atrapalhavam.
E para calçar optou por
uns ténis cor de rosa simples e confortáveis.
Agarrou nas muletas e foi
até á cozinha onde sabia que a família se encontrava reunida. O pai já tinha
saído para ir para o trabalho e a mãe preparava-se para sair com Pedrito, tinha
de ir mais cedo, porque teria uma reunião e tinham-se esquecido completamente
que a rapariga também precisava de transporte. E Rita ainda nem estava pronta
para sair de casa. Mas a sua mãe queria esperar pela filha, para a levar até á
escola, mas Rita não queria que a mãe se atrasasse mais por sua causa, e
conseguiu convencê-la a ir-se embora. De seguida, foi fazer as tarefas que lhe
faltaram. Preparava-se para ir a pé até á escola e o mais certo era chegar
atrasada, porque faltavam pouco mais de 20 minutos para entrar. Iria causar uma
péssima primeira impressão.
Por isso tocou á campainha
de Fábio. Esperou algum tempo e quando o amigo abriu a porta, foi surpreendida
por ele. Tinha apenas uma toalha a cobrir-lhe a cintura, nada mais. E Rita pode
constar que ele era ainda mais atraente do que julgava e imaginava. O cabelo pingavam e as gotas escorriam pelo
corpo, e todas as tatuagens que tinham estavam bem visíveis, inclusivé a do
peito.
Não conseguia esconder a
admiração. Abriu a boca e Fábio apenas sorriu. Baixou a cabeça e benzeu-se e disse
em voz baixa:
-Ai meu Deus! –
Nunca tinha observado o corpo de Fábio e não fazia ideia do que a tatuagem no
peito diria.
-Tapava o peito mas se o fizer deixo outras partes á
mostra! – Rita olhou para ele e colocou as mãos á frente dos olhos, mas
afastando os dedos, numa tentativa de mostrar que estava envergonhada mas
também de admirá-lo.
-Deixa-te estar! Eu depois venho cá! – Disse na
tentativa de fugir á maior vergonha da sua vida.
-Entra masé tola! Eu vou vestir qualquer coisa para não
te deixar tão pouco á vontade. –
Disse entrando em casa e Rita seguiu-lhe. – Fecha a porta e finge que a minha casa é a tua. – Afirmou indo em
direção ao quarto para vestir alguma roupa menos provocatória para os sentidos
dela. Falou do quarto para a sala, onde estava a rapariga. – Já tomaste o pequeno
almoço?
-Não. E tu?
-Também não. Assim ficas a fazer-me companhia a comer.
-Já tenho o meu pequeno almoço pronto em minha casa.
-E eu não tenho comida cá em casa? Leva o que tens em
tua casa para comeres a meio da manhã e tomas aqui o pequeno-almoço comigo.
-Obrigada então fico-te a fazer companhia.
-Está bem. Agora que me lembrei, estás melhor?
-Estou ainda com dores mas é normal. E a noite também
não foi boa. – Confessou. – Por causa das
dores não consegui dormir bem. – Mentiu, um dos fatores que a fizera dormir
mal era o próprio.
-E não podes ir dormir mais? Ainda é cedo.
-Tenho aula daqui a –
Olhou para o relógio. – Quinze minutos. Vim tocar para perguntar se
me podes dar boleia.
-Claro que posso. Já estou pronto. – Saiu do quarto com uma t-shirt bastante decotada que
deixava um pouco á mostra o seu peito e em particular a tatuagem. – Que é da tua mochila?
-Pois.. Esqueci-me dela.
-Eu vou lá buscá-la. Está onde?
-A mala deve estar em cima da minha cama, senão está no
meu quarto. Toma as chaves. –
Esticou a mão e deu-lhe as chaves, o que provocou um toque entre a palma das
mãos de ambos.
Fábio agarrou nas chaves e
foi até casa da amiga enquanto ela tentava levantar-se do sofá de forma a não
causar dor no pé magoado e a não exerguer demasiado esforço no pulso magoado. E
disse em voz baixa:
-Se tu continuas a ser tão giro, vejo-me obrigada a saltar-te para cima!
E não há Catarinas que me impeçam! – Disse sorrindo. Eram amigos e ela
sabia bem que era a relação entre eles, mas não podia negar que sentia uma
enorme atração por ele.
Passado pouco tempo ele
voltou com os pertences da amiga, e transportou-os para não sobrecarregar a
amiga. Foram até ao carro e ele só se sentou no lugar do condutor depois de se
certificar que a amiga permanecia bem instalada no banco.
-De certeza que não te estou a causar transtorno?
-Não. Eu também estava só a acabar de me arranjar para
ir para o treino.
-Ainda ontem tiveram jogo e hoje não têm folga?
-Não. Temos jogo na quarta. Fora e precisamos de
treinar.
-Não sabia. Mas boa sorte, sei que não vais precisar
que és um exemplo, que és
enorme e um orgulho para mim. E aqui entre nós, és a
coisa mais próxima que tenho de ídolo. Sei que me vais deixar orgulhosa!
-Muito obrigada princesa! – Disse com
um sorriso genuíno. – Nem imaginas o quanto fico feliz por te ouvir essas palavras. Por saber que
gostas do meu trabalho, por me admirares e principalmente por seres tu.
-Fiquei sem palavras! Senão tivesses a conduzir dava-te
um xi daqueles enormes!
-Um xi?
-Um xicoração tontinho! Nunca tinhas ouvido?
-Não. Mas é fofo.
-Pois é! E vou ser o primeiro xicoração da tua vida!
Sinto-me lisonjeada!
-Sei que será com uma pessoa que merece tudo de melhor!
-Fábio. – Disse envergonhada Rita. – Só
por curiosidade posso perguntar-te o que tens escrito no peito?
-Há pouco não viste?
-Não.
-Quando parar mostro-te. Ainda há pouco a tua reação
quando abri a porta foi qualquer coisa de muito bom. Só tu! – Ela deixou-se corar.
-Tens muita piada! Não estava á espera que me abrisses
a porta naqueles modos!
-Quais modos?
-Tu sabes.
-Se soubesse achas que teria perguntado?
-Não sei. Alguém entende os homens?
-Ontem a Catarina disse-me isso.
-Ah... Fez bem. – Disse a rapariga pouco á vontade com o
tema da conversa.
-Ontem acabei com ela.
-Fizeste o quê? – Perguntou surpreendida. Não esperava nada
aquela atitude da parte do seu amigo.
-Acabei com ela. Estavas certa.
-Mas vocês começaram anteontem
-E acabamos ontem. Foi o melhor.
-Tenho de perguntar. Acabaram por minha causa?
-Queres que te diga a verdade?
-Não esperava outra coisa.
-Em parte foi tua a culpa, sim.
-E porque o fizeste?
-Porque tudo o que disseste estava certo, estava com
ela, porque tu estavas com o Pedro. E estava a enganá-la. E sabes que mais? Eu
e tu temos essa relação de namoro, mas sem sermos namorados ao mesmo tempo.
-Como assim?
-Confiamos um no outro, temos a necessidade de estarmos
juntos constantemente, somos felizes um ao lado do outro como com mais ninguém
e gostamos muito um do outro. A principal diferença é que não nos amamos e que
não nos beijamos.
-Então tu optaste por mim em vez dela?
-Sim. –
Respondeu enquanto estacionava o carro á porta da escola, de forma a deixar a
amiga o mais próximo possível da entrada. –
Vou mostrar-te a tatuagem que tenho no
peito. - Disse mudando o tema rapidamente, porque não sabia que palavras
mais dizer. Levantou a t-shirt e deixou a descoberto a tatuagem. A rapariga não
se conteve e encostou a mão no peito dele e seguiu cada palavra no seu peito
enquanto a pronunciava em voz alta.
-The madness of today become
memories of tomorrow.
-As loucuras de hoje tornam-se as memórias de amanhã. – Respondeu. E rapidamente tornaram a cruzar os olhares
com “faíscas” como havia sido no dia anterior. Indiretamente estavam a querer
que um possível beijo que trocassem seria uma loucura, ocorrida no dia, e
tornar-se-ia uma memória no futuro.
-E melhor ir embora. – Disse Rita tentando fugir ao que se
iria passar. Pegou nas muletas e na mala com a intenção de sair do carro.
-Podes-me dar o teu número? Depois quero saber como
correu o teu dia de aulas. – Pegou notelemóvel
do amigo e colocou o seu número. Deu-lhe um beijo na face e disse:
-Manda mensagem para gravar o teu número se faz favor.
Agora vou indo que ainda vou chegar atrasada. Mas obrigada pela boleia.
-Espera. Eu abro-te a porta.
-Deixa-te estar.
-Não sejas teimosa. –
Fábio saiu do carro e contornou a parte da frente do mesmo e abriu a porta para
a amiga sair.
-Obrigada. –
Despediram-se com dois beijos e Rita foi em direção á escola nova. Chegaria em
cima da hora do inicio da aula, mas ia com um sorriso na cara, Fábio deixava-a
feliz e as suas atitudes demonstravam um enorme valor.
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Fábio depois de acabar o
treino e de tomar banho, lembrou-se que faltava menos de uma semana para o
aniversário da amiga e era um aniversário importante. Comemorava a maioridade. Era
próximo da hora de almoço e decidiu ir até casa da amiga, na esperança de
encontrar os pais dela. Queria saber se estavam a preparar alguma festa ou
alguma comemoração em especial. Tinha pensado em preparar uma festa surpresa.
Apesar de muito provavelmente não estar presente, não o impediria de o organizar.
Estacionou o carro e tocou
á porta da família Madeira. Sabia que Maria tinha por hábito almoçar em casa e
esperava encontrá-la.
Esperou durante algum
tempo e quem lhe abriu a porta, foi Maria que o convidou para almoçar, pediu
desculpa pelo incómodo. Tinha medo de não dar espaço suficiente, mas acabou por
aceitou o convite.
Enquanto almoçavam, Fábio
contou a sua ideia para o aniversário da amiga e Maria gostava muito das ideias
que ele dava e da boa vontade que demonstrava. Iriam organizar uma festa
surpresa para o aniversário de Rita e começaram a trocar algumas ideias. Mas
sem qualquer aviso, Rita entra em casa e pergunta:
-Posso saber o que é que o chato e a grávida fazem
juntas? – Perguntou sorridente. E
na verdade ficaram bastante surpreendidos por ver Rita, por sorte, não tinha
ouvido nada, mas mesmo assim teriam de arranjar uma desculpa digna para
almoçarem juntos.
Que
irão dizer a Rita?
Será
que ela vai descobrir a festa surpresa? E como irá reagir?